Este curso pretende estabelecer um panorama histórico da arte africana. Neste percurso, busca-se identificar como e porque os objetos africanos e de povos do Pacífico foram inicialmente caracterizados pelos europeus como "objetos de culto" e de "cultura material" no período pré-colonial para em seguida serem chamados de "objetos de arte" na Europa colonial e pós-colonial. Teremos uma introdução aos padrões artísticos de máscaras e estatuetas, entre outros objetos africanos e do Pacífico, em paralelo às suas menções formais no Ocidente, quando inspiraram movimentos artísticos dentro do modernismo europeu desde Picasso (1881-1973), Kandinsky (1866-1944), Braque (1882-1963) e outros modernistas fora do circuito principal do Cubismo, além de Modigliani (1884-1920) e Giacometti (1901-1966) e outros artistas como Paul Gauguin (1848-1903), que ampliaram o conceito regional da dita "arte negra" (incluindo neste “perspectivismo” povos negros do Pacífico) em conciliação ou contraposição com a sequência histórica de manifestações artísticas da África e das Afro-Américas.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 7.6.2023
Introdução – o que é arte africana? Exercício de definição
Fase 0: "África por ela mesma?" (arte africana como parte da vida). A partir de uma apresentação do curso, serão identificados quais são as manifestações plásticas da África subsariana, intituladas na Europa de "arte africana tradicional". Será construido um histórico de como objetos africanos de toda sorte, desde artigos religiosos, objetos do cotidiano, utensílios, implementos agrícolas e de guerra, bem como elaborados artigos da arte de Corte chegaram a ser chamados posteriormente de "arte africana" no ocidente. O objetivo desta aula é iniciar a compreensão sobre a influência europeia desde o início no que se considerou chamar "arte africana".
Aula 2 – 14.6.2023
Manifestações artísticas africanas, mas, segundo os europeus
Fase 1: "A descoberta" (arte africana como etnografia). Será abordada a maneira como estão divididos geográfica, histórica e etnologicamente os distintos grupos africanos dando ênfase à chamada África subsaariana, com um foco especial nos povos com os quais os europeus tiveram contato, pois estes seriam aqueles mesmos grupos culturais específicos cuja cultura material fora chamada de “arte” na Europa. O objetivo desta aula é ter uma visão abrangente da diversidade dos povos africanos e suas culturas em contraposição a uma limitada noção de arte africana restrita aos povos de contato inicial com os europeus.
Aula 3 – 21.6.2023
Arte africana: registros dos contatos históricos fora do continente
Fase 2: "A identificação” (arte africana internacional ou internacionalizada?). Serão apresentados alguns dos mais importantes registros de fontes externas de árabes e europeus para a internacionalização e criação dos estudos de arte africana. Serão levantados aspectos visuais, formais e estéticos, desde as primeiras convenções e teorias sobre a arte da África em correspondência ou conflito ao que se considerou arte no Renascimento e na arte acadêmica europeia. O objetivo desta aula é de iniciar os estudos teóricos sobre arte africana e seus primeiros desdobramentos fora da África.
Aula 4 – 28.6.2023
As últimas fases da assim chamada "arte africana"
Fase 3: "Da ilusão à desilusão" (desde a arte africana como “forma” nos movimentos Cubismo e “primitivismo” até a arte africana como arte popular: arte e descolonização). Retomada da proposta de subdivisão didática em fases para entendermos como o conceito de arte africana sofreu imposições de fora do continente e como ocorreu a sua recepção no Modernismo e em movimentos artísticos europeus em geral. O objetivo desta aula é apresentar como o modernismo internacionalizou a arte africana.
Renato Araújo é pesquisador e consultor em arte africana. Bacharel em filosofia pela USP. Trabalhou em instituições culturais como MAE-USP, CCBB, Museu Afro Brasil, entre outras. Foi curador das exposições África, Mãe de Todos Nós, A Outra África: trabalho e religiosidade e África: Expressões Artísticas de um Continente, trilogia no Museu Oscar Niemeyer. Entre suas publicações estão os catálogos destas exposições, de Legados: arte africana da CCL (PUC/UNICAMP, no prelo), de Temas de Arte Africana (Ferreavox, 2018) e é coautor de África em Artes (2015).