Com esse curso será possível compreender por que a chamada arte africana foi levada para a Europa e por que a esmagadora maioria desses objetos jamais retornarão para o continente africano. Por outro lado, veremos como a arquitetura da África, além de ser vista como um patrimônio histórico e material tangível, passou a ser considerada uma memória social de resistência das artes e das técnicas irremovíveis do continente. Embora façamos um panorama sobre as artes da África, daremos atenção à arquitetura como uma parte desta disciplina geral que teve um importante desdobramento dentro e fora do continente, com uso de elementos árabes, cristãos e outros puramente africanos. Observaremos como as heranças africanas difundiram as técnicas dos avarandados, do adobe, do pau a pique, da taipa de pilão, entre outras tecnologias aplicadas no Brasil e nas Américas.
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IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
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O MASP, por meio do apoio da VR, oferece bolsas de estudo para professores da rede pública em qualquer nível de ensino.
Aula 1 – 10.4.2024
Abordagem local: o que é arte africana? História de um espólio
Descrição geral do curso buscando respostas às perguntas: o que pode e o que não pode ser considerado arte africana? Existe uma “arte da África por ela mesma, independentemente dos Europeus”? O que ocorreu para que um objeto considerado pejorativamente no passado como “fetiche”, isto é, “coisas feitas” ou objetos de “cultos afros primitivos” passassem a ser vendidos por até 12 milhões de dólares nos mercados europeus e estadunidenses?
Aula 2 – 17.4.2024
Da abordagem local ao mercado global
Na segunda aula desenvolveremos os conceitos de história da arte africana apresentados na aula anterior, seguindo com seu processo de retirada do continente e servindo aos interesses do modelo colonial europeu. Como e por que as ciências da antropologia, arqueologia, etnologia e os próprios estudos de arte africana foram e são utilizados até hoje como “armas dos impérios”? Quais seriam os desdobramentos antigos e atuais do ditado: “Conhecer para dominar”?
Aula 3 – 24.4.2024
A África deu lucro. A arte africana dará um lucro ainda maior: colonialismo e “pós”-colonialismo
Na terceira aula veremos exemplos históricos e práticos do por que a descolonização é inevitável. Entenderemos como objetos antes vistos como meramente “etnográficos” passaram a ser vistos como “artísticos”, quando os europeus — detentores da maior parte do patrimônio artístico africano — decidiram agregar valor monetário as formas da África e ficar de posse de pelo menos três monopólios relacionados a essa arte: 1) monopólio da posse perpétua dos objetos africanos pelos museus europeus e estadunidenses, garantido por leis específicas; 2) monopólio de publicações autorizadas com copyright a respeito desses objetos e direito de uso e usufruto de imagens tiradas no continente; 3) exposições e lucros em leilões tirados de objetos ditos “autênticos”, isto é, em detrimento dos objetos de museus e dos mercados do Sul global, classificados como falsificações. Veremos nessa aula como esses monopólios de mercado criaram os conceitos de “arte tribal”, “arte primitiva”, “arte ingênua”, e como o lucro obtido por meio desses monopólios tem impedido o retorno da maioria desses objetos para a África.
Aula 4 – 1.5.2024
Arquitetura africana: das choças às cubatas, dos mocambos à resistência quilombola
Na quarta aula introduziremos os estudos da arquitetura africana enquanto patrimônios e monumentos que os colonos não conseguiram ou não tiveram interesse de retirar da África durante o fato colonial. Veremos como a arquitetura africana reflete uma memória coletiva, uma práxis ritual/crenças religiosas (árabes, cristãs e originais africanas), processos de simbolização, organização política e social e territorialidade e espacialidade.
Aula 5 – 8.5.2024
Arquitetura africana: dos mocambos ao monumental
Na quarta aula faremos uma retomada dos tópicos das aulas anteriores focando em como a história da arte africana se desdobrou em uma riqueza material sem precedentes que foi e tem sido conscientemente usurpada dos povos. Veremos, por outro lado, como o conhecimento técnico e artístico das artes e arquiteturas da África e da Afro-América foram essenciais para a formação histórica dos países do “Novo Mundo”, porém, subutilizadas nos períodos moderno e contemporâneo. Traremos para a discussão as falas de alguns arquitetos, intelectuais e artistas africanos que tratam de como o patrimônio do continente poderá contribuir para o desenvolvimento das disciplinas da arquitetura e da história da arte mundiais, com poder cada vez mais descentralizado e multipolar.
Renato Araújo da Silva é pesquisador em arte africana. Bacharel em filosofia pela USP. Trabalhou em instituições culturais como MAE-USP, CCBB, Museu Afro Brasil, entre outras. Foi curador das exposições África, Mãe de Todos Nós (trilogia), África: Expressões Artísticas de um Continente, no Museu Oscar Niemeyer e A Outra África: trabalho e religiosidade, no Museu de Arte Sacra de São Paulo. Escreveu os catálogos Legados: arte africana da CCL (PUC/Unicamp), Temas de Arte Africana (Ferreavox, 2018) e é coautor de Arte Milenar Chinesa (Instituto Confúcio/Unicamp, 2023), entre outros.