O curso tem como objetivo promover reflexões sobre questões que envolvem ações, criações e espaços relacionados às culturas indígenas na contemporaneidade. As reflexões serão subsidiadas por rodas de conversa, análises de criações realizadas pelo coletivo, leituras e uma visita ao Masp. Serão feitos quatro encontros online e um encontro presencial, no qual os participantes poderão ter contato com a obra Barão de Antonina, produzida em 2016 pelo coletivo e que estará presente na exposição Histórias indígenas no MASP. O referencial teórico do curso é fundamentado nas cosmovisões Guarani e Kaingang, que darão suporte para uma criação feita durante os encontros pelos participantes, com o título Onde me planto. Natureza, arte, cultura e povos originários são conceitos abordados durante os encontros, visando aprofundar questões ligadas à ideia de pertencimento étnico, a arte feita por mulheres indígenas, assim como às estratégias para romper com o apagamento da memória ancestral por parte de instituições culturais no Brasil durante séculos.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 7.11.2023
Espaço etnográfico, galeria de arte ou nenhum dos dois: onde é o lugar da arte indígena?
Apresentação do coletivo com ênfase nas relações entre arte indígena e não indígena no contexto contemporâneo. Reflexões sobre a trajetória do grupo iniciada em 2016 com duas exposições simultâneas em espaços distintos em Curitiba: o Museu Paranaense e a Galeria Farol Arte e Ação. Análise das exposições Sustento/Voracidade apresentadas respectivamente nesses dois espaços a fim de problematizar as oposições entre espaços culturais etnográficos e espaços de arte contemporânea. Considerações sobre a participação dos integrantes do Kókir como membros da Associação Indigenista – ASSINDI – Maringá, bem como o processo de autorreconhecimento de Tadeu como indígena Kaingang. Estes aspectos contribuem para a discussão sobre a questão dos entraves para o reconhecimento indígena por parte da população brasileira, assim como as formas como as relações interétnicas repercutem nas criações artísticas do grupo, tendo como exemplo a série de gravuras Antropologia da re-volta. As relações entre arte e artesanato, arte indígena e arte contemporânea serão debatidas no contexto das ações e criações do coletivo.
Aula 2 – 14.11.2023
Arte indígena e natureza: a conexão com os quatro elementos na cosmovisão Guarani na ação Onde me planto.
A ação baseia-se na concepção Guarani sobre a presença dos 4 elementos em nossos corpos/flautas, afinados pela entonação de vogais. A proposição Onde me planto será apresentada como proposta criativa para os participantes e tendo também como base a Cerimônia dos 4 ventos, realizada em forma de vídeo pelo coletivo junto a indígenas do Brasil e de povos originários da América Latina, durante a residência AIRE (Arte com Indígenas em Residências Eletrônicas), produzida pela OSC Thydewá. A partir das reflexões sobre o histórico das cocriações do coletivo, os participantes serão convidados a fotografar uma parte de seus corpos coberta de argila junto a um espaço da natureza, onde imaginam que poderiam estar “plantados”. As fotografias serão realizadas pelos participantes após o segundo encontro e armazenadas em uma pasta do google drive, para que possam ser apresentadas e comentadas no terceiro e quarto encontros. Para exemplificar a proposta serão apresentadas criações realizadas por diferentes artistas a partir da dinâmica Onde me planto, presentes no site Reconectar a imensidão e no banco de imagens do acervo do coletivo.
Aula 3 – 21.11.2023
A conexão com a natureza na cosmovisão Kaingang: quando me plantei no Sinal vermelho
As criações do coletivo: o livro Nossas Belas Histórias: Eg jykre sinui, a performance Sinal vermelho, a intervenção urbana Indígenas Pioneiros em Mariguã, a gravura Krecidade, a indicação do nome Kaingang para uma rua da cidade de Maringá e o vídeo Resistir Aire, realizado na residência AIRE (Arte com indígenas em residências eletrônicas), produzido pela OSC Thydewá, servirão como elementos disparadores para iniciar o debate sobre as criações da proposição Onde me planto. O fio condutor serão os conceitos que permeiam as obras do coletivo apresentadas no encontro: cosmovisão indígena, indígenas na cidade, relações interétnicas, pertencimento étnico e reparação histórica.
Aula 4 – 28.11.2023
O feminino sagrado profanado e as ancestrais des-cobertas e invisibilizadas
Na parte final das apresentações da ação Onde me planto serão analisadas as criações que apontem questões relacionadas ao feminino em diálogo com a ancestralidade e elementos naturais. Para subsidiar as análises serão apresentados os vídeos: Des cobertas e Atucse. Des cobertas foi realizado pelo coletivo Kókir em parceria com mulheres indígenas Kaingang na ASSINDI e Atucse é uma criação feita por mulheres não indígenas e indígenas dos povos Dessana, Mocovi, Terena e Túlian, durante a residência AIRE, produzido pela OSC Thydewá.
Aula 5 – 5.12.2023
Ativação da obra Barão de Antonina na exposição Histórias indígenas
Este encontro, feito de forma presencial no MASP, terá início com uma conversa sobre a obra Barão de Antonina, apresentando particularidades do processo de criação e conceitos associados à obra: antropofagia metafórica, fome ancestral, relações entre arte, sobrevivência e territórios indígenas. A finalização do encontro será feita com a visitação da exposição Histórias indígenas, na qual os participantes serão estimulados a comentar sobre suas percepções das obras expostas em relação às questões apontadas no curso.
Sheilla Souza e Tadeu Kaingang – Coletivo Kókir
Formado pelos artistas Tadeu Kaingang e Sheilla Souza, o Coletivo Kókir apresenta em suas criações, questões relacionadas às culturas indígenas na contemporaneidade, promovendo o diálogo entre arte, cidade e povos indígenas. Kókir significa fome na língua Kaingang. Tadeu é mestre em Ciências Sociais e doutorando em História. Sheilla é mestre em Artes Visuais e doutora em Estudos da Linguagem. Ambos são professores no curso de Artes Visuais na Universidade Estadual de Maringá e membros da Associação Indigenista – ASSINDI, em Maringá,no Paraná.