Este curso pretende proporcionar um mergulho em alguns dos principais tópicos da história da arte africana, abrangendo desde a sua saída do continente por meio de coletas europeias até os seus desdobramentos nas Américas e no Brasil. Ao longo das aulas, serão abordados o processo de retirada dos objetos africanos desde o século 15, buscando entender como e por que a cultura material africana foi chamada de “arte africana” pelos europeus na virada dos séculos 19 para o 20. Abordaremos as características formais da chamada arte africana, bem como alguns registros de como essas obras foram exportadas do continente e adquiriram um alto valor monetário na Europa e nos Estados Unidos; os padrões artísticos de máscaras e estatuetas, entre outros objetos que serviram de arejamento aos modelos artísticos no período modernista na Europa e nas Américas.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os alunos após a inscrição.
O curso é gravado e fica disponível durante 5 dias. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 19.4.2022
A diversidade da África
O primeiro encontro será uma introdução geral ao curso. O objetivo é resgatar dentro dos registros históricos os processos de retirada dos objetos africanos. As questões que nortearão essa discussão são: que objetos saíram da África em primeiro lugar? Havia algum motivo especial para a saída desses objetos no século 15 que diferia dos motivos dessas retiradas ocorridas ao longo dos séculos posteriores? Por que os europeus se interessaram tanto pelos objetos como máscaras, estatuetas, objetos do cotidiano, instrumentos musicais entre outros produzidos no contexto tradicional?
Aula 2 – 26.4.2022
A África da diversidade
No segundo encontro, a partir dos estudos das populações africanas, será discutido o quão abrangente é a diversidade cultural da África. O objetivo será responder a questões como: quais são as divisões do continente referentes ao estudo de suas artes? Quais são os grandes troncos linguísticos e como estes troncos podem ajudar a compreender as continuidades estilísticas entre povos distintos, mas com histórico em comum? Quais foram as sociedades africanas com quem os europeus tiveram os primeiros contatos e que culminaram na determinação do que ficou conhecido como “arte africana”? Objetos de algumas sociedades não foram incluídos no que foi chamado arte da África. Por quê?
Aula 3 – 3.5.2022
Artes da África
No terceiro encontro, a análise partirá da reflexão sobre como as distinções entre a arte de corte, arte do cotidiano, arte religiosa, artes corporais e artes decorativas africanas definiram os gêneros artísticos estudados hoje. O percurso de análise tem início nas culturas mais antigas, com objetos datados de milhares de anos antes de Cristo, até as mais recentes, do século 21. A abordagem parte de sociedades como os Nok, os Bura, incluindo exemplos de civilizações do leste africano, como o reino de Axum e a tradição copta da Etiópia, passa por períodos clássicos nas regiões do oeste, entre os séculos 16 e 19, e chega à discussão sobre considerar os objetos produzidos depois das invasões e do colonialismo europeu devem ou não ser considerados “arte africana”. Artes de povos como os Iorubá, Fon, Bamana, Bakongo, Luba e Kuba serão estudadas.
Aula 4 – 10.5.2022
Artes: da África para o mundo
No quarto encontro, a abordagem é sobre como alguns elementos artísticos árabes e da Europa do período barroco foram mesclados com motivos e técnicas africanas ainda na África e posteriormente difundidos ao mundo. Nesse sentido, serão também observados como os arabismos provindos do norte da África chegaram ao sul da Europa e como alguns desses mesmos elementos acabaram, por “dupla remoção” — saindo da África, indo para a Europa e depois para outros lugares — povoar o imaginário artístico-cultural de outras regiões do mundo.
Aula 5 – 17.5.2022
Diversidades: da África às Américas
No quinto encontro serão discutidas as influências africanas nas Américas do ponto de vista cultural. As perguntas que servem de referência à aula são: quais são os exemplos de diversidade artística africana nas Américas? Como se deu o processo de recuperação do patrimônio material e imaterial da África do lado de cá do Atlântico? Há divergências e semelhanças entre as culturas artísticas afro-americanas? Quais seriam essas similaridades e diferenças?
Aula 6 – 24.5.2022
Diversidades: da África ao Brasil
No sexto encontro será realizado um apanhado do que foi visto nas aulas anteriores, com ênfase ao processo de africanização do Brasil. Este processo, do ponto de vista artístico, se deu no contexto religioso (o catolicismo popular e as religiosidades afro-brasileiras), mas também em outros aspectos da cultura brasileira. A questão que norteará essa discussão é: por que a cultura africana, sua arte e seus desdobramentos importam para todos os brasileiros, incluindo aqueles imigrantes que escolherem viver aqui? O encontro partirá da observação de imagens de objetos artísticos brasileiros feitos por africanos que aqui foram escravizados, bem como de objetos feitos por seus descendentes, alguns dos quais admirados por figuras do modernismo brasileiro como Mário de Andrade. Além disso, também serão discutidas como essas formas artísticas da África encontraram no Brasil um palco perfeito para o aumento de sua própria diversidade genética, cultural e artística.
Renato Araújo da Silva é pesquisador e curador. Trabalha como consultor em arte africana na Coleção Ivani e Jorge Yunes desde 2018. É co-fundador do Arsmundum Project e fez parte do grupo de crítica de arte contemporânea do Centro Cultural de São Paulo (CCSP) 2020/2021. Graduou-se em filosofia pela Universidade de São Paulo. Foi curador das seguintes exposições: África, Mãe de Todos Nós (Trilogia - Museu Oscar Niemeyer - MON-Curitiba, de jun. de 2019 a dez. de 2020); A Outra África: trabalho e religiosidade, Museu de Arte Sacra de São Paulo (de 23 de jan. a 12 de mar. de 2020) e Museu de Arte Sacra e Diversidade Religiosa de Olímpia, São Paulo (nov. 2021 a mai.2022); África: Expressões Artísticas de um Continente (MON-Curitiba, exposição de longa duração 2021; Cascavel/PR, 2022,). Além dos catálogos destas exposições é autor dos seguintes títulos: África em Artes (Co-autor) (Museu Afro Brasil, 2015) e dos livros eletrônicos Creative Commons; Arte Afro-Brasileira: altos e baixos de um conceito (Ferreavox, 2016) e Temas de Arte Africana (Ferreavox, 2018), entre outros.