Esse curso propõe discutir a emergência de um novo paradigma nas artes indígenas, o das associações e intersecções entre arte tradicional e arte contemporânea a partir da década de 1980. Para tanto tomamos um conjunto de estudos de caso abrangendo as produções de povos indígenas das Américas do Norte e do Sul e da Austrália, dentre eles os Haida, Cree, Sioux, Apsáalooke, Wauja, Asurini, Xikrin-Kayapó, Huni Kuin, Warlpiri, Yolngu e Shipibo-Konibo. Abordaremos os trânsitos e as transformações de técnicas, temas iconográficos, suportes, usos e significados simbólicos. Serão também discutidas questões institucionais, econômicas e políticas dessas artes envolvendo a criação de cooperativas, concursos de premiações, modos de aquisição e as relações de artistas e povos indígenas com curadores, museus e outras instituições culturais. Uma parte significativa do curso é dedicada a discutir as relações de gênero nos processos artísticos e nos seus desdobramentos em diferentes territórios e nos modos indígenas de fazer política por meio da circulação de obras de arte.
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IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
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O MASP, por meio do apoio da VR, oferece bolsas de estudo para professores da rede pública em qualquer nível de ensino.
Aula 1 – 5.8.2024
Introdução. Artes das Primeiras Nações: Canadá e Estados Unidos
Conferência de Aristóteles Barcelos Neto (UEA)
Após uma breve introdução aos objetivos e temas do curso, passaremos a uma análise das produções recentes de alguns artistas das Primeiras Nações, sobretudo Haida, Cree, Sioux e Apsáalooke (Crow), com ênfases em sexualidades, historicidades, ancestralidades e rituais.
Aula 2 – 6.8.2024
Cerâmica wauja: mitos, histórias e estilos
Conferência de Autaki Waurá
O objetivo deste tema é apresentar e compartilhar os conhecimentos wauja para sociedade brasileira e para povos indígenas. Ao longo da conversa, buscamos trazer o contexto de prática da arte e das cerâmica na cultura wauja, envolvendo a narração de origem e histórias das panelas de barro e a definição sobre a condição de uso desta cerâmica, a partir de narrativas a respeito de sua importância de usos materiais na comunidade wauja.
Aula 3 – 8.8.2024
Artes do algodão wauja e sua biodiversidade: redes, adornos e utensílios diversos
Conferência de Autaki Waurá
Essa aula apresenta as principais questões culturais e ecológicas relacionadas ao cultivo e uso do algodão entre os Wauja e discute as categorias de artefatos produzidos com essa matéria-prima.
Aula 4 – 12.8.2024
Artes dos aborígenes da Austrália – primeira parte
Conferência de Ilana Seltzer Goldstein
Essa aula realiza uma introdução aos povos indígenas na Austrália e em seguida explora três temas: a arte como conexão entre mundos, a pintura sobre casca de árvore de Arnhem Land, e a aquarela de paisagem do Deserto Central.
Aula 5 – 13.8.2024
Artes dos aborígenes da Austrália – segunda parte
Conferência de Ilana Seltzer Goldstein
Essa aula aborda quatro temas: a pintura acrílica do Deserto Ocidental da Austrália, a arte indígena urbana, as políticas de fomento às artes indígenas na Austrália, como cooperativas, prêmios e outros mecanismos, e questões de autoria, autenticidade e apropriação.
Aula 6 – 15.8.2024
As artes do MAHKU
Conferência de Kássia Borges
Essa aula aborda o MAHKU (Movimento dos Artistas Huni Kuin), um coletivo de pesquisadores e artistas visuais indígenas Huni Kuin do Brasil e do Peru comprometidos com a preservação da ayahuasca e das tradições indígenas que visam a proteção da terra.
Aula 7 – 19.8.2024
Os trançados dos Xikrin-Kayapó
Conferência de Fabíola Silva
O objetivo desta aula é relatar uma experiência de pesquisa sobre os objetos trançados do povo Xikrin-Kayapó, refletindo sobre a importância desses objetos na vida do povo indígena. Os objetos trançados (expedientes e de curadoria) serão analisados a partir dos seus processos de produção, vida social e significados simbólicos, incluindo abordagens museológicas.
Aula 8 – 20.8.2024
A cerâmica dos Asurini do Xingu
Conferência de Fabíola Silva
O objetivo desta aula é relatar uma experiência de pesquisa sobre a cerâmica do povo Asurini do Xingu, refletindo sobre a importância desses objetos na vida deste povo indígena. O processo de produção das vasilhas cerâmicas será descrito a partir da noção de cadeia operatória. Falaremos sobre o processo de ensino-aprendizagem da tecnologia cerâmica, a vida social dos objetos e sua relação com a cosmologia asurini. Faremos também uma reflexão sobre os objetos etnográficos em museus.
Aula 9 – 22.8.2024
Arte indígena urbana, gênero e educação a partir da imigração amazônica para a região andina peruana
Conferência de Luisa Elvira Belaunde
Essa aula explora o lugar da arte no processo de migração de famílias shipibo-konibo da região amazônica para o deserto das montanhas do sopé andino na periferia e no centro de Lima, a capital do Peru.
Aula 10 – 26.8.2024
Os grafismos das mulheres shipibo-konibo em Lima, Peru
Conferência de Luisa Elvira Belaunde
Essa aula realiza um percurso detalhado das diferentes técnicas visuais dos grafismos kene dos Shipibo-Konibo aplicado à tecelagem e ao bordado. Será analisada sua geometria fractal e suas transformações atuais.
Aristoteles Barcelos Neto é bacharel em museologia pela Universidade Federal da Bahia (1996), mestre (1999) e doutor (2004) em antropologia social respectivamente pela Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade de São Paulo. Atua na área de etnologia dos povos indígenas das Terras Altas e Baixas da América do Sul com ênfase em suas artes, rituais e cosmologias. Professor associado e diretor de curso na Sainsbury Research Unit for the Arts of Africa, Oceania and the Americas, University of East Anglia, Reino Unido. Membro da British Higher Education Academy. Co-coordenador do Museu Indígena Ulupuwene do Povo Wauja do Alto Xingu. Recebeu o Prêmio CNPq-ANPOCS de Melhor Tese de Doutorado em Ciências Sociais. Foi pesquisador visitante do CNPq no Collège de France, FAPESP, USP e na Unicamp.
Autaki Waurá é doutorando em antropologia social na Universidade Estadual de Campinas com estágio doutoral na Université de Paris X, Nanterre. Licenciado em Ciências da Linguagem e mestre em antropologia social pela Universidade Federal de Goiás. Co-coordenador do Museu Indígena Ulupuwene do Povo Wauja do Alto Xingu. Tem experiência na área de etnografia, com ênfase em cultura wauja, artesanato tradicional, pintura corporal e grafismos. Colaborador do Laboratório de Etnobiologia e Biodiversidade da UFG e do projeto Upper Xingu material culture in the past, present and future: collaborative documentation of a multiethnic tradition in Brazilian Amazonia (British Museum).
Fabíola Andréa Silvdra possui graduação em história pela Unisinos (1988), mestrado em antropologia social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1992) e doutorado em antropologia social (2000) pela Universidade de São Paulo. É pesquisadora do CNPq e professora livre-docente no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, onde coordena o Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Tecnologia e Território. Realiza pesquisas etnográficas e (etno)arqueológicas e colaborativas com diferentes povos indígenas no Brasil (Kaingang, Asurini do Xingu, Xikrin-Kayapó, Terena e Kayabi) desde a década de 1990. Foi pesquisadora visitante no Instituto de Estudos Avançados da USP (2018-2019).
Kássia Borges é graduada em artes plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia (1987), mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003) e doutora em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, pela Universidade Federal do Amazonas (2017). É professora na Universidade Federal de Uberlândia, curadora do Museu do Índio da UFU e curadora adjunta do MASP. Participou de várias exposições em âmbitos nacional e internacional, com destaque para Haus Der Kunst de Munique e Museum Tinguely da Basileia. Sua obra versa sobre os conceitos de origem, feminino e ancestralidade nas linguagens da cerâmica, fotografia, desenho, instalação, meios mistos, escultura e vídeo.
Ilana Seltzer Goldstein é mestre em antropologia social pela Universidade de São Paulo, mestre em mediação cultural pela Universidade Paris III – Sorbonne Nouvelle e doutora em antropologia social pela Universidade Estadual de Campinas, com estágio de pesquisa na Australia National University. Professora no Departamento de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo, onde também é co-coordenadora da Cátedra Kaapora, voltada à valorização de conhecimentos e formas expressivas tradicionais e não-hegemônicos. Elaborou, coordenou e avaliou projetos artístico-culturais para o Sesc, Itaú Cultural, Companhia das Letras e Ministério da Cultura. Participou da curadoria das exposições O tempo dos sonhos: arte indígena contemporânea da Austrália (2017) e Portos (2021).
Luisa Elvira Belaunde é Professora Titular da Escola Profissional de Antropologia da Universidade Nacional Mayor de San Marcos (Peru). Doutora em antropologia pela Universidade de Londres. Tem realizado pesquisas sobre a organização social, parentesco, gestão ambiental e de saúde, religiosidade, mudança social e migração urbana, bem como corporeidade, relações de gênero e artes a partir do pensamento e da prática dos povos indígenas da Amazônia. Publicou artigos e livros entre os quais El recuerdo de Luna (2005), Cerámica tradicional Kichwa de Wayku (2017), Sexualidades amazónicas (2019) e Cerámica tradicional shipibo-konibo (2019).