Aula 1 – A boca que tudo come, Enugbarijó: as bases para uma Pedagogia das Encruzilhadas
O que Exu ensina sobre o mundo? Ou melhor, como pode-se aprender com ele a engolir esse mundo e regurgitar um mundo novo? Exu é sempre o primeiro e por isso baixa nesse encontro e cruzará todos os outros como referencial maior para uma reflexão acerca da educação e descolonização. A Pedagogia das Encruzilhadas (Rufino, 2019) se inscreve como um projeto político, poético (epistemológico), ético (educativo) que tem Exu como fundamento teórico/metodológico.
Aula 2 – Pé de Tempo: por outras formas de sentir, fazer e pensar
A colonização entre o seu vasto repertório de ataques manifesta uma espécie de encapsulamento do tempo. Viver aprisionado na métrica dominante implica no desperdício de inúmeras experiências sociais, no desarranjo de memórias e na perda de vivacidade dos seres e de seus ciclos. É possível soprar histórias que ventilem outros rumos e afastem o quebranto imposto pelo olho gordo colonial (Rufino, 2020)? Serão buscados caminhos firmados no pé de Tempo.
Aula 3 – Tudo que o corpo dá
O primeiro lugar de ataque do colonialismo é o corpo (Fanon, 1969). Não há colonização sem intervenção militar, catequese e escravidão. O colonialismo precede o projeto moderno ocidental, assim o novo mundo se estrutura a partir de um contrato de subordinação via raça, racismo, gênero, patriarcado e a dicotomia humano e natureza. “O corpo objetificado, desencantado, como pretendido pelo colonialismo, dribla e golpeia a lógica dominante. A partir de suas potências, sabedorias encarnadas nos esquemas corporais, recriam-se mundos e encantam-se as mais variadas formas de vida” (Rufino e Simas, 2018). Se a colonização mira primeiramente o corpo, a descolonização se faz da explosão criativa e das infinitas possibilidades dele.
Aula 4 – A educação pelo dendezeiro
Educar é uma dinâmica de axé. Em outras palavras, a educação como prática de saber possível a partir da experiência é algo que se inscreve como uma dinâmica radicalizada na vida e nos seus ciclos. Nem sempre ensino é sinônimo de aprendizagem, assim como escola é sinônimo de educação, mas podem vir a ser. Afinal, tudo aquilo que pulsa vida pode e deve vir a ser mais. Como seria uma educação em que a escola fosse o dendezeiro e suas sementes as professoras? A partir de um dos principais mitos da cultura de Ifá, que fala da sabedoria de Orunmilá na comunicação do conhecimento, será pensada a escola e suas possibilidades de encante.
Aula 5 – Encantamento: sobre política de vida
O contrário da vida não é a morte, mas o desencanto (Rufino e Simas, 2019). Se no Brasil ao longo de mais de cinco séculos impera uma política de assassinatos, existe também uma política de vida que insiste em produzir e propor formas de combate à escassez e ao esquecimento. O encantamento, ao contrário daquilo que muita gente pensa, não é um passe de mágica e muito menos um fetichismo conceitual, mas sim um princípio cosmogônico que reivindica gramáticas e tecnologias ancestrais de tratamento da quebra dos ciclos vitais (morte antecipada), da destruição das comunidades e do desmantelo cognitivo de seus praticantes. O encantamento plasmado em inúmeras práticas de saber redimensiona o problema do ser/saber, principalmente no que tange a questão humana e natureza para mirar outras formas de relação e cooperação.
Luiz Rufino é professor da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e do Programa de Pós-graduação em Educação, Cultura e Comunicação em Periferias Urbanas (PPGECC-UERJ). Desenvolve pesquisas sobre culturas brasileiras, crítica ao colonialismo, educação e cultura popular, diáspora africana, corporeidades e religiosidades. Tem sete livros publicados, entre eles Pedagogia das Encruzilhadas (2019, Mórula), o infanto-juvenil Menino Guerreiro (2021, Coleção Cafuné), Arruaças - por uma filosofia popular brasileira (2020, Bazar do Tempo) e dezenas de artigos em periódicos, jornais e revistas.