Para uma história da arte decolonial no Brasil analisa 16 obras brasileiras, entre pinturas, fotografias, desenhos, instalações, performances, filmes e esculturas. São estudos de caso que, por um lado, escrutinam de forma descolonial obras canônicas da História da Arte brasileira, e, por outro, tecem discussões sobre obras de artistas afrodescendentes e indígenas, consideradas descoloniais devido ao seu questionamento da colonialidade, baseado em seu contexto epistemológico não-europeu. O curso constrói, portanto, um contraponto entre análises de obras de arte canonizadas, inseridas em uma narrativa mestra branca europeizante, associadas ao poder colonial, e análises de obras de perspectivas descoloniais, que se debatem com o legado colonial como o racismo epistêmico, genocídio, epistemcídio, etc.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 4.8.2023
Homem e Mulher Tapuia, Albert Eckhout, 1641 e La Imagen y semejanza, Sebastián Calfuqueo, 2018
A aula contrasta os famosos retratos da época colonial de Eckhout com uma obra do jovem mapuche que aborda de forma crítica a iconografia utilizada para indígenas em uma instalação. O imaginário acerca dos povos originários no continente latino-americano será discutido através dessa confrontação de uma obra do século 17 e uma obra contemporânea.
Aula 2 – 11.8.2023
Suplício de Tiradentes, Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo, 1892 e Manto de apresentação, Arthur Bispo do Rosário, sem data
A aula discute a criação da imagem crítica de Tiradentes na Primeira República, criada para construir um herói nacional. Ela será comparada com o manto de apresentação de Arthur Bispo do Rosário. Bispo não se considerava artista, mas criou sua obra como missão profética. Será analisada a imagem religiosa criada para Tiradentes e o apagamento da arte como obra espiritual de Bispo, hoje considerado um dos maiores artistas contemporâneos do Brasil.
Aula 3 – 18.8.2023
Polvo, Adriana Varejão, 2013 e Sacudimentos, Ayrson Heráclito, 2019
A aula olha de forma crítica para o projeto Polvo de Adriana Varejão que aborda o colorismo no Brasil. A apropriação das cores do Brasil pela artista é confrontada com o processo de cura da performance Sacudimentos de Ayrson Heráclito. Serão debatidos os caminhos escolhidos para lidar com a história colonial do Brasil e o seu legado de racismo.
Aula 4 – 25.8.2023
Borba Gato, Júlio Guerra, 1963 e Lettre au Vieux Monde (Carta ao Velho Mundo), Jaider Esbell, 2018-219
A estátua de Borba Gato foi incendiada no contexto dos protestos de Black Lives Matter em 2021. Houve pouca discussão pública acerca da denúncia do colonialismo e do seu legado nesse ato da Revolução Periférica, pois o debate reduziu-se à discussão do suposto vandalismo. A aula contrasta a estátua do bandeirante e sua recente história com a obra descolonial de Jaider Esbell Lettre au Vieux Monde que consiste na ressignificação de um livro clássico da História da Arte.
Aula 5 – 1.9.2023
Brasília, Lúcio Costa/Oscar Niemeyer, 1956 e Crianças negras, Coyote, Centro de Culturas Negras do Jabaquara, sem data
Temos por um lado a proposta da cidade de Brasília como a promessa de um mundo moderno brasileiro e, por outro, um graffiti em um Centro de Culturas Negras que nos lembra da exclusão da maior parte da população brasileira das urbanizações modernistas.
Aula 6 – 8.9.2023
Mulata em Rua Vermelha, Emiliano Augusto Di Cavalcanti de Albuquerque Melo, 1960 e Seios com leite e sangue II, Rosana Paulino, 2005
Cavalcanti tornou-se famoso pelas suas “mulatas” e participou fortemente na criação do conceito e na erotização da mulher brasileira, já enraizada no imaginário desde a época colonial. A construção da mulher como objeto sexual pelo artista será comparada com outra maneira de lidar com a exploração feminina no processo da colonização, a obra Seios com leite e sangue, de Rosana Paulino, que se dedica à memória e à dor das amas de leite, ou mães pretas.
Aula 7 – 15.9.2023
Tropicália, Hélio Oiticica, 1967 e Correnteza, Sônia Gomes, 2018
A obra de Oiticica é considerada um marco na arte brasileira. No entanto, quando comparado com a obra de Sônia Gomes percebemos suas limitações e conseguimos realizar uma reavaliação. A obra de Sônia ilumina a história e realidade afro-brasileira, bem como a dificuldade do reconhecimento de uma estética parecida quando utilizada por uma artista afro-descendente.
Aula 8 – 22.9.2023
Monumento ao Curupira, Thirso Cruz, 2019 e Dua make newane, Bane Huni Kuin, 2007
O Monumento ao Curupira no Horto Florestal é uma europeização de uma entidade indígena bem mais complexa, participando na folclorização de um ser agora adulterado. Os Huni Kuin, por sua vez, expressam em suas pinturas sua espiritualidade, traduzindo em técnica ocidental, a pintura, a sua maneira de entender e ver o mundo.
Carolin Overhoff Ferreira é professora associada (Livre Docente) no curso de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) desde 2010. Possui pós-doutoramento sênior pela Universidade de São Paulo. Foi professora visitante na Universidade de Bristol, pesquisadora e docente na Universidade de Oxford e pesquisadora visitante na Universidade de Cambridge. É autora de Dekoloniale Kunstgeschichte – Eine methodische Einführung (História da Arte decolonial – uma introdução metodológica, Deutscher Kunstverlag, 2022), Introdução brasileira à teoria, história e crítica das artes (Almedina Brasil, 2019), Cinema português – Aproximações à sua história e indisciplinaridade (Alameda, 2013), Identity and difference - Postcoloniality and transnationality in Lusophone films (LitVerlag, 2012), entre outros.