Em novembro de 2017, Emmanuel Macron anunciou o desejo de restituição de obras de arte africanas pilhadas ao longo da colonização francesa. No ano seguinte (2018), a iniciativa deu origem ao célebre relatório elaborado pelos pesquisadores Bénédicte Savoy e Felwine Sarr. Tal iniciativa não se limita ao campo das relações entre África e Europa, tampouco à expurgação da culpa colonial que assombra muitos dos museus etnográficos europeus. Trata-se de uma pauta global que atravessa o campo da arte, e a forma como se constroem e se entendem as políticas de identidade contemporâneas. Ao longo desse curso, discutiremos aspectos históricos, museológicos e políticos relativos à questão da restituição de obras de arte, a partir de estudos de caso que compõem um vasto panorama global. Do Brasil ao Congo, da Grécia ao México, serão analisadas diversas demandas de restituição com atenção para as questões políticas que as atravessam e como elas impactam acervos, coleções e museus ao redor do mundo.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 2.5.2023
A questão da restituição sob uma perspectiva histórica
Ao longo dessa aula, serão discutidos os paradigmas, debates e demandas relativas à questão da restituição sob um ponto de vista histórico e político. Quais as noções de arte e patrimônio que pautam muitas dessas propostas? Que agendas políticas elas revelam? Como elas afetam o campo da museologia, da curadoria e da história da arte?
Aula 2 – 9.5.2023
Da Bélgica ao Zaire: a restituição como instrumento político
Na Bélgica dos anos 1970 e 1980, o Royal Museum of Central Africa, também conhecido como Tervuren, enviou milhares de objetos de origem congolesa para o Instituto de Museus Nacional do Zaire, recém-criado por Joseph-Désiré Mobuto. Esse retorno ocorre num contexto de cooperação no qual o Congo e a Bélgica aderem a agendas políticas distintas e, por vezes, conflitantes.
Aula 3 – 16.5.2023
“Somos Tupinambá e queremos o manto de volta”
No contexto da Mostra do Redescobrimento Brasil +500, realizada no ano 2000 em São Paulo, um grande manto vermelho Tupinambá foi exibido no Módulo de Artes Indígenas. Levado do Brasil para a Holanda por Maurice de Nassau em 1664, e eventualmente integrado à coleção do Nationalmuseet em Copenhague, o manto retornou ao país na ocasião da mostra, levantando demandas de restituição pelos indígenas de Olivença (Bahia) que afirmaram: “Nós somos Tupinambá e queremos o manto de volta!” A terceira aula pretende situar essa discussão num panorama global de demandas de restituição de peças indígenas.
Aula 4 – 23.5.2023
A restituição dos mármores do Parthenon: dos anos 1980 ao presente
No início do século 19, o aristocrata britânico Lord Elgin enviou para a Inglaterra uma coleção saqueada de estátuas e frisos em mármore do século 5 a.C que ornamentavam o Parthenon de Atenas (Grécia). Arrancados das paredes do templo, os chamados Mármores de Elgin foram posteriormente incorporados à coleção do Museu Britânico. Nos anos 1980, a primeira demanda oficial para a repatriação dessas peças foi encampada, fazendo com que seus ecos sigam vivos até os dias de hoje.
Aula 5 – 30.5.2023
Arte pré-colombiana mexicana e a campanha #MiPatrimonioNoSeVende
Em 2022, o Instituto Nacional de Antropologia e História do México (INAH) anunciou que milhares de artefatos pré-hispânicos seriam levados de volta ao país. O feito se insere no contexto de uma campanha intitulada #MiPatrimonioNoSeVende, liderada por órgãos governamentais, na qual colecionadores e instituições internacionais são convidados a devolver as peças ao estado mexicano.
Aula 6 – 6.6.2023
O relatório Sarr-Savoy: leitura, debates e respostas comentadas
A última aula do curso dedica-se a uma leitura comentada do relatório A Restituição do Patrimônio Cultural Africano: Rumo a uma Nova Ética Relacional de autoria de Felwine Sarr e Bénédicte Savoy, publicado em novembro de 2018. Ao analisar esse documento, serão observadas também as respostas e reações ao texto, elaboradas por artistas, intelectuais e pensadores.
Sabrina Moura é curadora, pesquisadora e escritora. Doutora em História da Arte pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e mestre em História da Arte e Estética pela Universidade Paris VIII. Foi pesquisadora-visitante no Institute of African Arts (IAS) na Universidade de Columbia, em 2016. Editou o livro Panoramas do Sul: Perspectivas para outras geografias de pensamento (Ed. SESC/Videobrasil) que apresenta perspectivas culturais e artísticas sobre o conceito de Sul Global. Seus ensaios e artigos foram apresentados em publicações como Revista Mousse, Zeitschrift für Kulturwissenschaften, Stedelijk Studies Journal, African Art, Critical Internventions, 3rd Text Africa, entre outros.