A proposta central dos encontros orienta-se pela práxis-reflexiva, ou seja, buscará o compartilhamento dos saberes daqueles que exercitam práticas de resistência contra as violências coloniais, já que o objetivo é a valorização de outros pensares e fazeres para além daqueles já consagrados pela história moderna/ocidental e as instituições formais de arte, educação e cultura.
O objetivo do curso é construir coletivamente reflexões sobre os saberes afro-brasileiros e indígenas no chão da escola, conhecendo e partilhando estratégias pedagógicas no combate a práticas de racismo, preconceito e discriminação, sobretudo ampliando proposições metodológicas que auxiliem na prática pedagógica voltada para uma educação decolonial e antirracista.
Durante os encontros, haverá trocas e reflexões sobre as práticas educativas/artísticas que integram as epistemologias afro-brasileiras e indígenas em diálogo com as teorias que problematizam outros pensares e fazeres na educação. Por este motivo, os encontros contemplarão o diálogo com professoras e gestoras de distintas regiões do país, que realizam ações transformadoras no contexto de escolas públicas com projetos político pedagógicos antirracistas e amparadas por políticas públicas como as Leis 10.639/03 e 11.645/08.
IMPORTANTE
As aulas serão ministradas online por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. O curso é gravado e ficará disponível aos alunos durante cinco dias. Os certificados serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
Aula 1 – 18.7.2022
Pode a infância negra ser feliz? – Experiências da CMEI Dr. Djalma Ramos
Com Fátima Santana e Clarissa Suzuki
Diálogo com Fátima Santana, coordenadora pedagógica da CMEI Dr. Djalma Ramos localizado no município de Lauro de Freitas/BA, escola ganhadora de diversos prêmios no Brasil em decorrência do seu projeto pedagógico antirracista. Neste encontro, será compartilhado o projeto de etnopesquisa-ação Por uma Infância Escrevivente: práticas de educação antirracista realizado em parceria com o CEERT, que, enraizado no chão da escola e na experiencia pedagógica de mulheres negras e crianças do CMEI, evidenciou percursos formativos construídos de modo coletivo, colaborativo e irmanado.
Aula 2 – 19.7.2022
Pisando de pés descalços em território brasileiro: no chão da EMEI Nelson Mandela
Com Marina Marsella e Clarissa Suzuki
Diálogo com Marina Basques Marsella, professora da EMEI Nelson Mandela localizada na Zona Norte da cidade de São Paulo. Escola que, desde 2011, constrói o seu Projeto Político Pedagógico orientado pelas leis 10.639/03 e 11.645/08. Nesta conversa, será apresentado o PPP e o projeto didático da escola, que no ano de 2022 está se aprofundando nos estudos, saberes e vivências com os povos originários brasileiros. Há anos a EMEI vem realizando um projeto de educação pública antirracista aliado aos saberes das culturas africanas, afro-brasileiras e indígenas na Educação Infantil, valorizando princípios como coletividade, comunitarismo e ancestralidade.
Aula 3 – 20.7.2022
A arte e a educação no fortalecimento da identidade indígena
Com Dasu Huni Kuin e Clarissa Suzuki
Diálogo com o educador Dasu Huni Kuin, que compartilhará, além das suas experiências como docente, a sua pesquisa de mestrado que abordou a arte no fortalecimento da identidade do povo Huni Kuin, principalmente no seu território indígena, na Aldeia Kaxinawá de Nova Olinda no Acre. A questão central do encontro abordará de que forma a arte e a educação contribuíram para o seu povo resgatar, reconstruir ou fortalecer a própria identidade, já que durante muito tempo eles foram proibidos de praticarem a sua cultura de modo geral, nas pinturas, rituais, músicas, vestimentas e o próprio idioma. Após o retorno da convivência em aldeia, veio o desafio para retornar às práticas culturais perdidas na época em que trabalhavam para os seringalistas.
Aula 4 – 21.7.2022
Pedagogia da Afirmação Indígena
Com Márcia Mura e Clarissa Suzuki
Diálogo com Márcia Mura do Paranã Madeira, educadora e escritora indígena, integrante do Coletivo Mura e das organizações de mulheres da Pindorama e Abya Yala. Neste encontro, Márcia Mura compartilhará as suas experiências e resistências no chão da escola pública e em seu território indígena a partir da Pedagogia da Afirmação Indígena, que consiste em trabalhar na formação dos estudantes os saberes locais de origem indígena, as memórias, ouvindo as histórias dos mais velhos, aprendendo e levando para a sala de aula os conhecimentos de cantos, danças, alimentação, medicinas, a nomeação das coisas e todos os saberes ancestrais da localidade, que passam de geração em geração por meio da tradição oral.
Aula 5 – 22.7.2022
Desafios decoloniais na implementação de um currículo municipal
Com Milene Valentir e Clarissa Suzuki
Diálogo com Milene Valentir, professora de Arte e formadora no CECAPE (Centro de Capacitação dos Profissionais da Educação Zilda Arns) da Secretaria Municipal de São Caetano do Sul/SP. Neste encontro, conversaremos sobre a implementação do currículo de São Caetano do Sul, que disparou um movimento organizado relacionado às ações antirracistas na educação entendido como uma atuação de política pública. A escrita do currículo da cidade foi processual, a partir de uma trajetória de escuta e de escrita coletiva junto aos educadores da rede, que apontaram para os saberes e fazeres do território, para os princípios da diversidade, das questões étnico-raciais, no sentido de uma educação integral, equitativa e inclusiva. Foram criadas diversas ações, grupos de trabalho, eventos internos e também integrados com todo o ABCDMR Paulista, amparados pelas leis 10.639/03 e 11.645/08, no sentido da implementação das mesmas e da necessária transformação das ações educativas em diálogo com a comunidade, bem como as cidades vizinhas.
Clarissa Suzuki é ativista, professora e pesquisadora. Doutora e Mestra em Artes pela USP, com pesquisa voltada para as colonialidades e as epistemologias afro-brasileiras e indígenas na educação antirracista das artes. Foi professora de arte da rede de ensino municipal, estadual e privada de São Paulo e Coordenadora de Projetos do Instituto Arte na Escola e de inúmeros cursos de formação de professores em todo o país. Docente há 22 anos, atualmente é professora na Educação Básica e no Ensino Superior. Desde 2010 é pesquisadora do Grupo Multidisciplinar de Estudo e Pesquisa em Arte e Educação (CAP/ECA/USP).