Histórias da sexualidade é a primeira parte de um projeto de longo prazo do MASP, que incluirá uma exposição a ser inaugurada em outubro de 2017.
O Brasil tem sido lugar de intensos debates sobre temas relacionados à identidade de gênero, educação sexual e violência contra as mulheres. Embora haja uma forte presença de mulheres artistas no cânone histórico da arte brasileira – de Tarsila do Amaral (1886-1973) a Anita Malfatti (1889-1964), de Lygia Clark (1920-1988) a Lygia Pape (1927-2004), e inúmeras outras – e uma produção artística significante que aborda questões de sexualidade – incluindo os trabalhos de Leonilson (1957-1993), Hudinilson Jr (1957-2013) e Marcia X (1959-2005), ou a performance de Flávio de Carvalho (1899-1973) –, os debates sobre gênero, feminismo e sexualidade, sejam na crítica de arte ou na academia, permanecem ainda bastante incipientes. Nesse contexto, o seminário pretende não apenas tratar de tópicos que têm sido mais predominantes nos debates internacionais, mas também gerar novas reflexões, estimulando as discussões que formarão o projeto de Histórias da sexualidade nos próximos anos.
Apesar da coincidência com o título de obra de Michel Foucault, História da sexualidade (1976), o projeto do MASP tem um título plural e está relacionado a um longo programa do museu em relação à abordagem de diversas histórias: abertas, plurais, inacabadas e não totalizantes, abrangendo não só relatos históricos de caráter político, econômico e social, mas também narrativas pessoais e fictícias.
A discussão do seminário de dois dias está planejada ao redor dos circuitos e territórios da sexualidade no espaço urbano, abrangendo temas como ativismo e esfera pública, feminismos, queer e movimento LGBT, assim como prostituição e performatividade de gênero, todos em conexão com a cultura visual e a prática artística.
[Histories of sexuality is the first component of a long-term project, which will also include an exhibition opening in October 2017.
Brazil has been witness to intense debates on issues related to gender identity, sexual education and violence against women. Although there is a strong presence of women artists in the Brazilian art historical canon – from Tarsila do Amaral (1886–1973) and Anita Malfatti (1889–1964), to Lygia Clark (1920–1988) and Lygia Pape (1927–2004), among countless others – and a significant art production that addresses issues of sexuality – including the work of Leonilson (1957–1993), Hudinilson Jr (1957–2013) and Marcia X (1959–2005), or the performance of Flávio de Carvalho (1899–1973) – the debate around gender, feminism and sexuality, either in art criticism or academia, remains quite incipient here. In this context, the seminar wishes not only to address topics that have been more prevalent in international debates, but also to engender new reflections, fueling the discussions that will shape the project around Histories of Sexuality in the coming years.
Despite the coincidence with the title of Michel Foucault’s History of Sexuality (1976), MASP’s project has a plural title – Histories of Sexuality – and is linked to a larger program of the museum around different histórias [histories]. The notion of história in Portuguese – unlike the English history – is open, plural, unfinished and nontotalizing, encompassing not only historical reports of a political, economic and social character, but also personal and fictional narratives.
The two-day discussion seminar is framed around circuits and territories of sexuality in the urban space, encompassing themes such as activism and the public sphere, feminisms, queer and LGBT social movements, as well as prostitution and gender performativity, all in connection to visual culture and artistic practice.]
Programa [Program]
Sexta, 16 de setembro [Friday, September 16]
9h30-10h30 [9:30 a.m. to 10:30 a.m.]
Credenciamento
[Registration]
10h30-11h [10:30 a.m. to 11:30 a.m.]
Introdução
[Introduction]
Com Adriano Pedrosa e Lilia Shwarcz
11h-13h [11 a.m. to 1 p.m.]
Cecilia Fajardo-Hill
A emancipação do corpo feminino, 1960-1985 [The emancipation of the female body, 1960–1985]
A exposição Radical Women: Latin American Art, 1960-1985 [Mulheres radicais: arte latino-americana, 1960-1985] será inaugurada no Museu Hammer, em Los Angeles, em 2017. O longo projeto de sete anos de pesquisa pretende demonstrar que, entre 1960 e meados dos anos 1980, artistas mulheres na América Latina e de ascendência latina e chicana nos Estados Unidos empreenderam uma pesquisa radical e experimental que gerou uma nova área de investigação focada na politização do corpo. Como um locus de exploração e redescoberta, o corpo articula uma nova iconografia radical e uma linguagem que desafia os nossos meios de compreender o mundo. A apresentação terá como foco as maneiras como a sexualidade é explorada no contexto da exposição Radical Women. Ao examinarem tópicos relacionados à sexualidade – o erótico, a maternidade e a anatomia feminina –, as artistas de Radical Women propõem uma emancipação do corpo que rejeita qualquer sentido de ordem ou papel estabelecido.
[Radical Women: Latin American Art 1960–1985, will inaugurate at the Hammer Museum, Los Angeles, in the Fall of 2017 as part of the Getty Foundation’s Pacific Standard Time LA/LA initiative. This seven-year-long research project, aims to demonstrate that between 1960 and the mid-1980s women artists in Latin America and those of Latina and Chicana descent in the United States embarked on radical and experimental research that generated a new area of inquiry focused on the politicization of the human body. As a locus of exploration and rediscovery, the body articulates a new radical iconography and language that challenges our ways of understanding the world. This presentation will focus on the ways sexuality is explored in the context of the Radical Women exhibition. By mining topics related to sexuality – the erotic, maternity, and the female anatomy – the artists in Radical Women propose an emancipation of the body that repudiates any sense of prescribed order or roles.]
Luciano Migliaccio
Passeio ao crepúsculo. Nu e erotismo no acervo do MASP [Walk at Twilight. The nude and eroticism in MASP’s collection]
A apresentação fará um panorama das diversas representações do erotismo na cultura ocidental por meio de obras escolhidas do acervo do MASP. O tema aparece dentro de contextos religiosos ou moralizantes, como tentação ou loucura. Na arte renascentista há a retomada do nu greco-romano para representar santos ou heróis. Contudo, em narrativas mitológicas, a sensualidade é também celebrada como força renovadora da harmonia da natureza; desejo de prazer e de paz em contraste com a dura realidade da história, até se afirmar como ideal de vida nas imagens pastorais e galantes da época das Luzes. A partir desses antecedentes, a modernidade revela na representação do erotismo a busca da liberdade e do contato com a natureza no mundo desumanizado e racional da técnica.
[This presentation will provide an overview of the different representations of eroticism in Western culture through works chosen from MASP’s collection. The theme appears within religious or moralized contexts, such as temptation or insanity. Renaissance art resorted to the ancient Greco-Roman nude to depict saints or heroes. In mythological narratives, however, sensuality is also celebrated as a renovating force of the harmony of nature; the desire for pleasure and peace in contrast with the harsh reality of history, until being affirmed as an ideal of life in the pastoral and gallant images of the Enlightenment era. Based on these antecedents, in its representation of eroticism, modernity revealed the search for freedom and for contact with nature in the dehumanized and rational world of technology.]
Richard Meyer
Extravagância queer [Queer Extravagance]
Ao adotar a carreira de Robert Mapplethorpe como caso de estudo, será proposta a ideia de “extravagância queer” como um modo visual que combina decoração com sexualidade ousada e cosmopolita. Assim, reflete os exuberantes prazeres visuais das revistas de nu masculino em que Mapplethorpe se inspirou, as fotografias que ele fez de estilistas de moda e dos leathermen no final dos anos 1970 e o interior refinado de seu apartamento em Manhattan.
[Taking the career of Robert Mapplethorpe as a case study, this presentation proposes “queer extravagance” as a visual mode that combines luxuriant decoration with cosmopolitan, cutting-edge sexuality. In doing so, it considers the flamboyant visual pleasures of the male physique magazines on which Mapplethorpe drew, the photographs he took of fashion designers and leathermen in the late 1970s, and the posh interior of his Manhattan loft.]
14h30-16h30 [2:30 p.m. to 4:30 p.m.]
Nina Power
Feminismo e o público [Feminism and the public]
Com o crescente desgaste da esfera pública como espaço de discurso e circulação, que se dá pelas forças aliadas da securitização e do neoliberalismo, qual seria o lugar para pensar a relação entre feminismo e público? Por um lado, temos uma espécie de feminismo “divertido”, que vê pouca incompatibilidade entre reivindicações de empoderamento e defesa de mercado. Por outro, vemos o surgimento de ações feministas – como as da Sisters Uncut, no Reino Unido – que procuram intervir diretamente no papel do Estado por ele não proteger as vítimas da violência doméstica, e, assim, chamam atenção para uma imagem muito diferente da relação entre o Estado e a esfera pública. A apresentação examinará a crescente lacuna entre vários tipos de feminismos em relação ao desaparecimento do Estado de bem-estar social e a ascensão do Estado securitário, propondo como resposta um modelo de “feminismo público”.
[As the public sphere as a site of discourse and circulation is ever-more consumed by the paired forces of securitization and neoliberalism, what room is there to think about the relationship between feminism and the public? On the one hand, we are presented with a “fun” kind of feminism that sees little incompatibility between claims to empowerment and a defense of the market, while on the other we see the rise of feminist actions, such as the direct actions of Sisters Uncut in the UK, which aim to directly intervene in the role of the state in failing to protect victims of domestic violence, and thus to draw attention to a very different image of the relationship between the state and the public. This talk examines the increasing gap between various kinds of feminisms in relation to the vanishing welfare state and the rise of the security state, and proposes a model of the “feminist public” in response.]
Daniela Andrade
Identidades sexo-gênero diversas e direitos [Different sex-gender identities and rights]
O Brasil é o país campeão mundial de assassinato de travestis e transexuais, onde a expectativa de vida dessa população é de apenas 30 anos. Noventa por cento das travestis e mulheres transexuais estão na prostituição. É com base nesses dados que partimos na busca de respostas e soluções para a problemática que envolve a total falta de direitos mais básicos dessa população. O que é orientação sexual? O que é identidade de gênero? O que é gênero? O que é ser travesti e transexual no Brasil? Quem são os sujeitos de direitos no Brasil? A quem a humanidade é atribuída? Quem tem direito aos direitos humanos? Pretende-se encontrar possíveis caminhos para essas discussões.
[Of all countries in the world, Brazil has the highest number of murders of transvestites and transsexuals, which in this country have a life expectancy of just 30 years. Ninety percent of the transvestites and transsexual women work in prostitution. Based on these data we begin a search for answers and solutions to the problematics that involve the total lack of basic rights for this population. What is sexual orientation? What is gender identity? What is gender? What does it mean to be a transvestite or a transsexual person in Brazil? Which individuals have rights in Brazil? To whom is humanity attributed? Who has the right to human rights? We aim to find possible paths for these discussions.]
Renan Quinalha
Da repressão ao reconhecimento precário: desafios do movimento LGBT no Brasil [From repression to precarious recognition: Challenges of the LGBT movement in Brazil]
A luta de homossexuais e pessoas trans começou a se organizar no Brasil sob intensa repressão estatal, ainda durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Batidas policiais, perseguições ilegais, prisões arbitrárias, censuras e processos judiciais atrasaram a emergência de um movimento social pela diversidade sexual e de gênero para o final da década de 1970. Quase quarenta anos depois desses primeiros passos, apesar de ostentar a maior parada do orgulho LGBT do mundo, o Brasil ainda vive índices alarmantes de violências contra esses segmentos. Como garantir direitos nesse contexto agravado pelo crescente conservadorismo? Quais os desafios do movimento LGBT hoje?
[The struggle of homosexuals and trans people began to get organized in Brazil when the country was under intense government repression, during the civil-military dictatorship (1964–1985). Police raids, illegal persecutions, arbitrary imprisonments, censures and judicial processes postponed the emergence of a social movement for sexual and gender diversity until the late 1970s. Nearly 40 years after these first steps, despite having the largest LGBT-pride parade in the world, Brazil still has alarming rates of violence against these segments. How to guarantee rights in this context aggravated by the growing conservatism? What are the challenges of the LGBT movement today?]
Sábado, 17 de setembro [Saturday, September 17]
10h - 11h [10 a.m. to 11 a.m.]
Credenciamento
[Registration]
11h - 13h [11 a.m. to 1 p.m.]
Amara Moira
A travesti e a prostituta, escritoras: o mundo que só nós vemos [The transvestite and the prostitute, writers: The world that only we see]
O mundo a que temos acesso segue subrepresentado nas literaturas em geral. Quem conta as histórias do que é vivido na rua quase nunca é quem sentiu na pele a experiência delas: a coisificação que a prostituta vive, os papéis de gênero, o retirar das máscaras, o despir-se, o homem antes e depois de gozar. A alegação de que a prostituta (em especial se travesti) não domina o instrumental da língua literária é nada mais do que corroborar com o sequestro que a academia vem fazendo com a literatura, cada vez mais incapaz de se comunicar com quem não faça parte de sua trupe de iniciados. O código das ruas, seu vocabulário e leis próprias, o tilt que a oralidade impõe ao texto escrito, a língua que não se quer registrar, mutante, aglutinante, o mundo que só nós mesmas para ver, a potência que isso tudo assume.
[The world to which we have access continues to be underrepresented in the general literature. Who tells the stories about life in the streets is almost never the person who actually experienced it firsthand: how a prostitute is turned into a mere object, the roles of gender, the taking off of masks, the removal of clothing, the man before and after ejaculation. To allege that the prostitute (especially the transvestite) does not dominate the instrument of literary language is to be an accomplice in the sequester that the academy does with literature, increasingly more unable to communicate with anyone who is not part of its troop of initiates. The code of the streets, their own laws and vocabulary, the “tilt” that orality imposes to the written text, the changing, agglutinative language that does not want to be nailed down, the world that only we can see, the power that all of this assumes.]
Laura Moutinho
Reflexões sobre raça, gênero, sexualidade e identidade nacional no Brasil [Reflections on race, gender, sexuality and national identity in Brazil]
A apresentação visará reconstruir o percurso histórico da produção de certas representações sociais relativas a miscigenação e identidade nacional. Serão colocados em perspectiva escritos de autores clássicos da historiografia, da sociologia e da literatura brasileira privilegiando na leitura a inter-relação entre raça, gênero, sexualidade e erotismo. Essas representações serão, em seguida, cotejadas com o trabalho de campo realizado em diferentes contextos com casais inter-raciais e em locais onde se privilegiava a mestiçagem. Desejo e mobilidade social constituem os operadores lógicos pelos quais se podem organizar não somente a produção acadêmica e literária sobre o tema como também as narrativas colhidas no trabalho de campo.
[This presentation will aim to reconstruct the historical path of the production of certain social representations relative to miscegenation and national identity. Writings by classical authors of Brazilian literature, sociality and historiography will be placed in perspective, with an emphasis on the interrelations between race, gender, sexuality and eroticism. These representations will be later compared with the fieldwork carried out in different contexts with interracial couples and in places with a great deal of racial mixing. Desire and social mobility constitute the logical operators which can be used to organize not only the academic and literary production on this theme but also the narratives collected in the field work.]
Sérgio Luís Carrara
A contribuição da antropologia para os estudos sobre a “homossexualidade” no Brasil [The contribution of anthropology to the studies on “homosexuality” in Brazil]
A partir da segunda metade dos anos 1970, a antropologia brasileira inicia a abordagem mais sistemática do universo da homossexualidade. O mesmo período é marcado pela emergência do hoje chamado movimento LGBT e pela luta pelos direitos civis das então chamadas “minorias sexuais”, com as quais os/as antropólogos/as se verão profundamente implicados. A apresentação buscará refletir sobre como os/as antropólogos/as participam do processo de cidadanização da homossexualidade no Brasil, transitando pelas fluidas fronteiras entre o ativismo LGBT e a reflexão acadêmica; e, como, nesse trânsito, estarão em jogo conflitos cruciais em relação à “natureza” da homossexualidade, da cultura sexual brasileira e do próprio fazer antropológico.
[From the latter half of the 1970s onward, Brazilian anthropology has applied a more systematic approach in its study of the world of homosexuality. The same period also saw the rise of the so-called LGBT movement and the struggle for civil rights for what were initially referred to as “sexual minorities,” with which the anthropologists became profoundly involved. The presentation will seek to reflect on how the anthropologists participate in the process of securing citizenship for homosexuality in Brazil, transiting through the fluid borders between LGBT activism and academic reflection; and, how, in this transit there are crucial conflicts at play in regard to the “nature” of homosexuality, of Brazilian sexual culture, and of anthropological practice itself.]
14h30-16h30 [2:30 p.m. to 4:30 p.m.]
Cornelia Butler
Feminismo Facebook: arte, feminismo e prática curatorial atual [Facebook Feminism: art, feminism and curatorial practice now]
A exposição WACK! Art and the Feminist Revolution [Arte e revolução feminista] foi inaugurada em Los Angeles em 2007 e encerrou sua itinerância em Vancouver em 2009. Desde então, foram realizadas inúmeras mostras internacionais que abordam as histórias da arte das mulheres, a arte feminista, temas de gênero e sexualidade e histórias da arte queer e lésbica. A apresentação discute o legado dessas exposições em relação à prática curatorial e o estado atual do ativismo feminista dentro do espaço institucional da arte.
[WACK! Art and the Feminist Revolution opened in Los Angeles in 2007 and finished its tour in Vancouver in 2009. Since that time there have been numerous international exhibitions which have addressed the histories of women’s art, feminist art, gender and sexuality, queerness and lesbian art histories. This talk explores the legacy of these exhibitions on curatorial practice and the current state of feminist activism within the space of the institution.]
Fernanda Carvajal
Ofensa, animalidade e vergonha: políticas sexo-dissidentes em contextos de violência no Cone Sul [Offense, animality and shame: sex-dissident policies in contexts of violence in the Southern Cone]
A apresentação abordará uma série de práticas sexo-políticas que ocupam o espaço público a partir dos anos 1980 em diferentes contextos latino-americanos marcados pela violência política e expansão da Aids. Práticas que interrogam os regimes dominantes do visível e do dizível a partir da contraprodutivização da ofensa, propondo cruzes entre dissidência sexual e animalidade, explorando a vergonha tanto como situação social de abjeção como possível início de uma ação política. O que implica historicizar experiências sexo-dissidentes que em muitas ocasiões têm sido marcadas por violência, silêncio, invisibilidade e exclusão sem que isso implique simplesmente preencher um vazio ou produzir um alívio diante da ausência?
[This presentation will concern a series of sex-political practices that occupied the public space beginning in the 1980s in different Latin American contexts marked by political violence and expansion of AIDS. Practices that question the dominant regimes of the visual and the expressible based on the counterproductivization of the offense, proposing intersections between sexual dissidence and animality, exploring shame both as a social situation of abjection as well as a possible beginning for a political action. What is implied by the historicizing of the sex-dissident experiences which on many occasions have been marked by violence, silence, invisibility and exclusion without this simply involving the filling of a void or the producing of a relief in light of the absence?]
Övül Durmuşoğlu
Um futuro queer [A future queer]
Quando lhe pediram para trazer um objeto pessoal a ser incorporado na exposição Future Queer (Futuro Queer), Seda e Tuna, dois artistas-acadêmicos que criaram o coletivo Istanbul Queer Art, trouxeram da casa deles um espelho que fora da avó de Seda. O espelho foi colocado na escadaria da vila onde foi realizada a exposição e provocava desconforto em todos que passavam, ao se verem refletidos no continuum de Future Queer. O espelho específico incorporou as reflexões e memórias de muitos personagens queer em Istambul. Future Queer foi resultado de um processo iniciado pela Kaos GL, a primeira organização de direitos LGBT na Turquia, para refletir sobre os vinte anos de ativismo de base, que começou com pequenas reuniões e publicação de mesmo nome. Ela apontou para o queer como tensão que vai além do binário de gênero, um lugar que não está coberto pelas operadoras de telefonia 4G, um desejo ainda não realizado.
[When asked to bring a personal object to be integrated to the Future Queer exhibition, Seda and Tuna, two artist-academicians who started the Istanbul Queer Art Collective, brought the mirror they had in their house. It used to be Seda’s grandmother’s. We placed it on the staircase of the villa that hosted the exhibition; it made whoever passed by self-conscious, seeing their reflections in the continuum of Future Queer. That particular mirror embodies the reflections and memories of many queer figures in Istanbul. Future Queer was the outcome of the process initiated by Kaos GL, the first LGBT rights organization in Turkey to think about its 20 years of grassroots activism that started with small house meetings and a pamphlet magazine of the same name. It pointed to queerness as something that passes beyond the gender binary, a place that is not covered by 4G phone operators, a desire which we have not yet accomplished.]