Anita Malfatti foi uma entre as poucas artistas mulheres a ocupar papel central no modernismo brasileiro. A matriz alemã de sua formação e o contato com a radical figuração expressionista permitiram que a artista usasse as cores de um modo mais intuitivo e ousado, destacando‑se entre tantos artistas brasileiros que se formaram no modelo do cubismo parisiense. Ao regressar a São Paulo, fez duas das primeiras exposições de pintura moderna, despertando o entusiasmo de alguns, e críticas de outros, como as de Monteiro Lobato (1882‑1948), no artigo “Paranoia ou mistificação?”. Apesar do impacto do texto em sua produção, Anita foi uma das criadoras mais destacadas da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, marco inaugural do modernismo no Brasil. Em A estudante, as pinceladas são largas e marcadas. Os tons de verde e roxo, mais frios, contrastam com o vermelho e amarelo da pele e da camisa. O caimento e as dobras do tecido intensificam a curvatura do corpo, o que reforça a expressão de relaxamento e distração da personagem. A técnica da artista, com pinceladas rápidas e tintas diluídas e dissonantes tanto na figura como no fundo, faz da obra uma das mais significativas e inovadoras no panorama da arte brasileira da época.
— Equipe curatorial MASP, 2015
Por Eugênia Gorini Esmeraldo
A obra A Estudante foi objeto de datações diversas, de 1915-1916 a 1918. Com características de estilo que refletem influências entre Nolde e Kirchner (Camesasca 1988, p. 263), a tela apresenta uma jovem absorta, de cabelos curtos, castanho-avermelhados, sentada numa cadeira que se percebe atrás, com os braços cruzados sobre as pernas, vestindo blusa amarela, saia xadrez e um lenço a guisa de gravata solta. Este detalhe bastante usado em uniformes escolares talvez seja o motivo do título da pintura. A intensa coloração da obra e as pinceladas longas e firmes, imprimindo movimento à figura estática, demonstra bem a influência recebida dos expressionistas e dos artistas cujas obras conheceu na Europa. A concisão e a tensão gráficas, além de um naturalismo mesclado ao expressionismo, estão ali presentes.
— Eugênia Gorini Esmeraldo, 1998