Chico Tabibuia aprendeu ofícios de carpintaria com o avô, filho de escravizados que fabricava pilões, gamelas, moinhos e outros objetos. Sua obra está ligada a um universo mítico, evocando elementos das religiões de matriz afro-brasileira e também de tradições indígenas. Tabibuia representou barcos fantasmas, animais, e também seres antropomórficos. Em sua produção, destacam-se os Exus, associados aos sacis-pererês, pretos-velhos e caboclos. As figuras com genitálias protuberantes, rostos angulosos e corpos longilíneos, muitas vezes sem pernas ou braços, com cachimbos, chifres e gorros pontudos, evocam um erotismo fálico. Algumas têm duas ou mais cabeças e transitam entre o feminino e o masculino, como em Auto-felação, do acervo MASP, em que a vagina ocupa o lugar da boca. Esses elementos, associados a signos arquetípicos da vida e da fertilidade, estão ligados a Exu, orixá simbolizado pelo falo e que assume formas andróginas representadas pela ambivalência sexual. Exu possui múltiplos e contraditórios aspectos e, tal como o Saci-pererê das histórias indígenas, pode ser visto como traiçoeiro e travesso. Mais que representar figuras mitológicas, as esculturas operam como objetos de devoção, receptáculos sagrados, amuletos e objetos de proteção. Tabibuia esculpia de modo quase ritualístico, a partir de troncos e raízes que encontrava na mata e nos quais, segundo o artista, essas entidades habitavam; dar-lhes forma física era o modo encontrado por ele de desmistificá-las e aprisioná-las nas esculturas para que não fizessem mal às pessoas. O MASP possui duas esculturas do artista em seu acervo.
— Matheus de Andrade, assistente de pesquisa, MASP, 2021