Aos 22 anos, José Antonio da Silva mudou‑se para São José do Rio Preto, no interior de São Paulo. Lá participou, em 1946, da exposição inaugural da Casa de Cultura, espaço que hoje leva seu nome — Museu de Arte Primitivista José Antônio da Silva. Autodidata, seu trabalho foi frequentemente classificado como primitivo ou ingênuo, designações que refletem uma perspectiva elitista e eurocêntrica segundo a qual todos os trabalhos que não seguem os estilos e gostos eruditos tidos como “oficiais” seriam considerados menores. Obras de José Antônio da Silva foram premiadas na 1a Bienal de São Paulo, em 1951, e estiveram na 33a Bienal de Veneza, em 1966. Embora também tenha pintado autorretratos e cenas religiosas, o artista passou a privilegiar, a partir dos anos 1940, temas relacionados ao campo — a lavoura, os animais, os trabalhadores,
as casas — e, em particular, as plantações de algodão. O MASP possui duas representações de plantações de algodão. A partir dos anos 1970, suas paisagens se tornaram cada vez mais abstratas, como no caso de Lindo lindo lindo. Com o horizonte posicionado no alto da tela, um caminho de terra se abre em meio a duas áreas verdes, em uma composição quase simétrica. Dos dois lados, linhas sinuosas formadas por pontos brancos, mais esparsos, chegam à parte superior da tela em ritmo acelerado, culminando em uma zona quase branca. Essa convergência sugere uma profundidade e relação entre as nuvens e o algodão: um começa onde o outro termina. O título parece refletir a admiração do artista pelo caráter desse extraordinário panorama: “lindo lindo lindo”.
— Adriano Pedrosa, diretor artísitico, e Olivia Ardui, curadora assistente, MASP, 2019