O artista plástico e curador Emanoel Araujo tem como influências o modernismo e as culturas africanas e afro‑brasileiras, perceptíveis na abstração geométrica construtiva e no frequente uso de cores associadas a padrões do candomblé e do pan‑ africanismo. Após a sua participação no 2º Festac (1977), em Lagos (Nigéria), sua primeira ida à África, Araujo passou a utilizar referências africanas de forma mais intensa e presente em seu processo criativo. O navio consiste em uma estrutura de madeira geometrizada e simétrica, negra, com formas transversais, e faz alusão direta à planta de um navio negreiro. Do losango que ocupa a parte central da peça pende uma corrente de metal atada a um grilhão. Sobre essa superfície, Araujo usou esculturas de madeira com representações humanas, talhadas à maneira da tradicional escultura iorubá, em referência ao folheto de propaganda abolicionista e aos corpos dos escravizados loteados nos porões dos navios. O aspecto geral de O navio remete também à escultura tradicional africana e, formalmente, há uma semelhança com algumas figuras humanas bambara esculpidas em madeira, embora aqui em proporções agigantadas.
— Tomás Toledo, curador, MASP, 2018