Catherine Opie (Sandusky, Ohio, 1961) é uma das principais artistas da fotografia contemporânea internacional, e esta é sua primeira exposição individual no Brasil. Desde o final da década de 1980, Opie vem trabalhando com fotografia colorida e em preto e branco, e o retrato é um de seus gêneros prevalentes — embora também tenha trabalhado com fotografia de arquitetura e de paisagem, entre outras. De fato, desde a faculdade, ela vem realizando retratos da comunidade queer, da qual faz parte. Assim, num ano dedicado às narrativas, personagens e temas LGBTQIA+ no MASP, esta mostra propõe reunir retratos dessa coletividade feitos por Opie ao longo das décadas.
A arte da Itália recebeu atenção especial do diretor-fundador do museu, o italiano Pietro Maria Bardi (1900-1999), com aquisições extraordinárias de obras de Rafael, Mantegna, Bellini, Ticiano e Tintoretto, entre outros. Esta exposição inclui obras da coleção do MASP do século 13 ao 18, do período medieval à Renascença e ao Barroco. Ao lado das pinturas, na mesma parede, são mostrados documentos e fotografias sobre doações, aquisições, empréstimos, atribuições e exposições, parte dos arquivos histórico e fotográfico do museu. O interesse é considerar a obra não apenas no contexto da história da arte, mas também em sua relação com o MASP, São Paulo e o Brasil.
O núcleo central de Arte da Itália são as transformações estéticas e técnicas da Renascença, período fundamental da história da arte, abrangendo um arco temporal que vai do classicismo de Rafael às experiências cromáticas de Ticiano, que influenciaram as gerações posteriores. Os trabalhos exibidos foram produzidos na região que hoje se conhece como Itália, mas que até o século 19 era um conjunto de pequenos Estados, administrados por poderes locais independentes, pela Igreja Católica ou por potências estrangeiras. Dessa forma, cada região desenvolveu uma produção em pintura bastante particular, com características distintas, como as linhas precisas em Florença, a preocupação com a arquitetura e a perspectiva na Úmbria ou o uso da cor em Veneza. Cada artista utilizava esse repertório local à sua maneira, recebendo também influências externas, e produzindo obras que refletiam momentos específicos, expressando visões próprias.
A expografia é uma retomada de dois projetos de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta responsável pelo MASP, para o acervo do museu. O primeiro é uma reconfiguração dos painéis suspensos utilizados para expor a coleção do museu na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), entre 1957 e 1959 – originalmente, painéis de dezoito metros, aqui eles têm 24 metros. O segundo resgata as estruturas tubulares de metal que exibiam as pinturas, também de forma suspensa, projetadas para o MASP em 1947, ano de sua fundação, na antiga sede da rua 7 de Abril – com elas são expostas aqui pinturas de Perugino e Ticiano. A recuperação de projetos de Lina nas exposições de 2015 apresenta ao público o percurso da arquiteta até chegar aos famosos cavaletes de vidro. Lina projetou os cavaletes para a exposição do acervo no segundo andar do museu na avenida Paulista, inaugurado em 1968. Sem uso desde 1996, eles voltarão no final do segundo semestre de 2015.
Os longos painéis utilizados na exposição favorecem a organização cronológica dos trabalhos. Ao recusar o agrupamento por escolas artísticas, que pautavam o gosto e o estilo de uma região, busca-se evidenciar as singularidades de cada obra. Nesse sentido, a ideia de cronologia aqui empregada não carrega uma noção evolutiva ou de progresso, mas reforça as concepções de mundo e as formas de conhecimento de cada artista.
Curadoria: Adriano Pedrosa, diretor artístico; Eugenia Gorini Esmeraldo, coordenadora de intercâmbio; Tomás Toledo, curador assistente.
Virtude e Aparência - a Caminho do Moderno
- Curador-Coordenador do MASP, Prof. Teixeira Coelho
Nesta exposição, estão presentes duas linhas de força da história da arte ocidental. A primeira se traduz na idéia de que, ao olhar-se para uma obra, era preciso ver além do que estava nela representado. Como John Ruskin insistia no século XIX, entregar-se à imitação, insistir no valor da arte por sua capacidade de reproduzir as coisas tais quais era pouco e vulgar; os prazeres desse olhar primário estavam entre os mais desprezíveis.
Na arte de tema religioso, essa linha está presente: a beleza de uma madona não reside tanto (ou nada) no que se vê na tela, mas num outro plano, além ou superior, acessível apenas ao intelecto. A virtude da obra estava em grande parte fora dela, talvez acima dela. Há virtudes visíveis, sem dúvida, como a perícia do artista. Mas a principal delas ficava além do visível. São exemplos dessa linha obras do século XIII como a Madonna, do Maestro Del Bigallo, além das de Rafael, Bellini e Botticelli.
Ao lado dessa arte, porém, para atender a outras necessidades da aristocracia e da burguesia nascente num mundo em transformação, surge no século XVI uma outra voltada para as aparências em todos visíveis. Entre essas, a nascente arte da paisagem e do retrato. Virtudes imateriais ainda existem, mas as aparências da tela começam a predominar - são, mesmo, essenciais. Tudo está à superfície das coisas e o prazer consiste em vê-las, a exemplo do que se vê nas telas de Metsys, Boucher e Fragonard representando cenas do dia a dia ou aquelas cuja beleza maior está no equilíbrio entre as cores da pele e dos tecidos das personagens.
Este jogo entre o visível e o invisível, entre conteúdo conceitual e uma superfície que logo se entrega ao olhar está na base da arte ocidental. Apresentam-se, nesta mostra, obras do momento em que essa separação e esse conflito instalam-se na arte ocidental e dos instantes logo posteriores, quando as aparências se afirmam e se caminha para o moderno.
Giovanni Bellini, A Virgem com o Menino de pé abraçando a Mãe (Madona Willys), 1480 - 1490
Sandro Botticelli e ateliê, Virgem com o Menino e São João Batista Criança, 1490-1500
Giampietrino, A Virgem Amamentando o Menino e São João Batista Criança em Adoração, 1500-1520
Carla Zaccagnini, Elementos de beleza: um jogo de chá nunca é apenas um jogo de chá, 2014-15
Édouard Manet, Banhistas no Sena - Academia, 1874-76
Giovanni Bellini, A Virgem com o Menino de pé abraçando a Mãe (Madona Willys), 1480-90