MASP

A MÃO DO POVO BRASILEIRO, 1969/2016

2.9.2016-22.1.2017

A arte dos pobres apavora os generais
Bruno Zevi, L’ Espresso, Roma, 14.3.1965

A mão do povo brasileiro foi a mostra temporária inaugural do MASP na avenida Paulista em 1969, apresentando um vasto panorama da rica cultura material do Brasil — cerca de mil objetos, incluindo carrancas, ex-votos, tecidos, roupas, móveis, ferramentas, utensílios, maquinários, instrumentos musicais, adornos, brinquedos, objetos religiosos, pinturas e esculturas. A mostra, concebida por Lina Bo Bardi com o diretor do museu, Pietro Maria Bardi, o cineasta Glauber Rocha e o diretor de teatro Martim Gonçalves, era um desdobramento de outras mostras organizadas pela arquiteta do MASP em São Paulo (1959), Salvador (1963) e Roma (1965), onde foi fechada por ordem do governo militar brasileiro, suscitando o artigo do arquiteto Bruno Zevi intitulado “L’arte dei poveri fa paura ai generali”.

Ao valorizar uma produção frequentemente marginalizada pelo museu e pela história da arte, o MASP, conhecido por sua coleção de obras-primas europeias, realiza um gesto radical de descolonização. Descolonizar o museu significava repensá-lo a partir de uma perspectiva de baixo para cima, apresentando a arte como trabalho. Nesse sentido, tanto uma pintura de Candido Portinari quanto uma enxada são consideradas um trabalho — uma noção que supera as distinções entre arte, artefato e artesanato. 

Em sua nova fase, o MASP busca restabelecer e aprofundar sua relação com essa produção, tomando como ponto de partida a reencenação de uma de suas exposições mais icônicas. A mão do povo brasileiro se insere em um histórico de muitas outras exposições no MASP (inclusive a pioneira Arte popular pernambucana, em 1949). Aqui, ela é tomada como um objeto de estudo e um precedente exemplar da prática museológica descolonizadora. É, sobretudo, uma oportunidade para expor ao público um pouco dessa produção, para estimular a reflexão e o debate sobre seu estatuto e contexto no museu e na história da arte, e as contestadas noções de “arte popular” e “cultura popular”. A questão central da mostra (e possivelmente subversiva aos olhos dos generais do gosto) é: de que maneira podem ser reconstruídas, relembradas e reconfiguradas as histórias sobre a arte e a cultura no Brasil, para além dos modos, gostos e ofícios das classes dominantes?

Uma reconstrução perfeita de A mão do povo brasileiro é impossível, e optamos por seguir o espírito da curadoria original com alguns ajustes. Não encontramos uma lista de obras completa, mas listagens de colecionadores e museus, que novamente procuramos, recolhendo trabalhos similares e respeitando as tipologias de objetos. A arquitetura da exposição segue a de 1969, também com adaptações. Optamos por não atualizar a mostra—e os objetos reunidos foram feitos, até onde sabemos, antes de 1970—mas articulamos diálogos em torno do trabalho e do popular com mostras de artistas de diferentes gerações: Candido Portinari, Jonathas de Andrade, Lygia Pape e Thiago Honório. Interessa-nos aqui compreender o significado desse momento histórico e inaugural do museu, para encontrar novos rumos e reforçar a presença da mão do povo no MASP.

CURADORIA Adriano Pedrosa, diretor artístico, MASP; Julieta González, curadora-adjunta de arte moderna e contemporânea, MASP; Tomás Toledo, curador, MASP.

MOSTRA DE FILMES

Em parceria com a Cinemateca Brasileira, o MASP organiza uma mostra de filmes a fim de contextualizar a exposição na complexa paisagem cultural dos anos 1960, e suas revoltas sociais e políticas. São títulos produzidos sobretudo entre as décadas de 1950 e 1970, que aprofundam reflexões propostas em A mão do povo brasileiro, 1969/2016, tais como cultura e saber populares, religião, trabalho e identidade nacional. As exibições acontecem em dois espaços: no 2º subsolo, em uma nova sala de vídeo, e no pequeno auditório do museu.

Na sala do 2º subsolo, é exibida, durante todo o período da exposição, uma seleção mais enxuta de curtas-metragens -- oito no total -- de Lygia Pape, Leon Hirszman, Humberto Mauro, Thomas Farkas, Paulo Gil Soares, Sérgio Muniz e Geraldo Sarno. As sessões no pequeno auditório são gratuitas e acontecem de 17 de setembro a 27 de novembro. A programação, mais extensa, apresenta mais de 60 curtas e longas-metragens, aos sábados e domingos, às 16h.