Artista indígena pioneira no cenário brasileiro contemporâneo, Carmézia Emiliano (Maloca do Japó, Roraima, 1960) trabalha com pintura desde a década de 1990. Sua obra se concentra em representações de temas da cultura macuxi: festas, danças e brincadeiras associadas ao cultivo e consumo da mandioca e a seu cotidiano, paisagens com lagos, pássaros e outros animais, com destaque para o monte Roraima. Os macuxis habitam a região fronteiriça entre a Venezuela, a Guiana e o Brasil, e são mais de 30 mil só em nosso país, onde vivem na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, cenário de embates com o garimpo ilegal. Na pintura de Emiliano há muitos detalhes intrincados, interconectados e ritmados que compõem extraordinários retratos de uma sociedade comunitária dotada de uma forte consciência ecológica.
Carmézia Emiliano: a árvore da vida apresenta 34 pinturas, quatro delas pertencentes ao acervo do MASP e produzidas especialmente para o museu, que revelam a relação que a instituição vem desenvolvendo com a artista desde 2018. A mostra também inclui oito trabalhos inéditos realizados para a ocasião. O subtítulo da exposição parte de uma obra do MASP que referencia o mito da Wazaká, a Árvore da Vida: cortado por Makunaíma, seu tronco fez surgir o monte Roraima e espalhou as sementes culturais macuxi pelo mundo. Makunaína é uma divindade brincalhona disseminada pelo romance Macunaíma de Mário de Andrade (1893-1945), um marco do modernismo brasileiro. O monte Roraima é um tema recorrente na obra de Emiliano e uma metáfora da imortalidade ou da fertilidade, por meio da qual a vivacidade da árvore transformada em monte confirma a continuidade da vida no universo.
A exposição está organizada em sete núcleos, que abordam desde temas relacionados à subjetividade da artista e à representação da figura humana, até a vida em comunidade, manifestada em pinturas que mostram habitações coletivas e espaços de sociabilidade. Destacam-se, ainda, os registros da transmissão de saberes, as redes de apoio entre as mulheres e a relação de profundo respeito e cooperação com a natureza. Trata-se de uma obra fundamental para compreender modos de viver, pensar, representar e criar tão singularizados por Carmézia Emiliano, numa perspectiva mais ampla, diversa e plural da arte e da cultura brasileira.
Carmézia Emiliano: a árvore da vida é curada por Amanda Carneiro, curadora assistente, MASP.
A mostra de Carmézia Emiliano integra o ano de programação do MASP dedicado às histórias indígenas, que inclui exposições do Movimento dos Artistas Huni Kuin (Mahku), Paul Gauguin (1848-1903), Sheroanawe Hakihiiwe, MASP Landmann e Melissa Cody, além da grande mostra coletiva Histórias indígenas.
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