Esta é a primeira exposição individual de Joseca Yanomami (Terra Indígena Yanomami, Amazônia brasileira, 1971) e reúne uma parte significativa de sua produção. Em seus desenhos, o artista representa personagens, cenas e paisagens do universo yanomami, tanto da vida cotidiana quanto relacionados a cantos e mitos xamânicos, tendo como referência seus sonhos, seu povo, suas histórias, e seu território – a floresta. O título da mostra, Kami yamakɨ urihipë, Nossa terra-floresta, remete a essa entidade viva que é protegida pelos yanomami, a fim de garantir que os espíritos tenham onde descer e que os animais e seres humanos continuem a existir.
Boa parte dos desenhos são acompanhados por títulos-descrições escritos pelo artista na língua yanomami, os quais expressam muitas dimensões cosmológicas presentes em sua narrativa visual. Os trabalhos são também a expressão de uma luta contra as ameaças que colocam em risco o próprio povo yanomami, bem como a terra-floresta em que ele habita com todos os seus seres, visíveis e invisíveis. Aqui, muitos desenhos nos contam sobre quem são os responsáveis por essa enorme tarefa, por esse trabalho tão essencial de sustentar o céu: os xamãs. Desse modo, este excepcional grupo de desenhos constitui um conjunto verdadeiramente extraordinário, um testemunho eloquente e singular da luta cotidiana dos yanomami em defesa da floresta.
Joseca Yanomami nos incita a olhar, sentir, perceber e refletir sobre a diversidade que habita a floresta, que vai além de seus povos, de sua fauna e sua flora, e que também é formada pelos xapiri. Estes são os espíritos que auxiliam os xamãs e que afinal garantem que todos nós, indígenas e não indígenas, tenhamos a certeza de que o sol nascerá novamente amanhã e que o céu não desabará sobre nossas cabeças.
Todos os 93 desenhos aqui expostos estavam sob a guarda do Instituto Socioambiental (ISA) e foram adquiridos do artista e doados por Clarice O. Tavares para o MASP em 2021.
A exposição de Joseca Yanomami no MASP é organizada no ano em que são celebrados os 30 anos da homologação da Terra Indígena Yanomami. A mostra também integra o biênio de programação no museu dedicado às Histórias brasileiras, em 2021-22, coincidindo com o bicentenário da Independência do Brasil em 2022. Neste ano, o ciclo inclui exposições de Alfredo Volpi (1896-1988), Abdias Nascimento (1914-2011), Luiz Zerbini, Dalton Paula, Madalena dos Santos Reinbolt (1919-1977), Judith Lauand e Cinthia Marcelle, além de uma mostra coletiva, Histórias brasileiras.
Joseca Yanomami: nossa terra-floresta é curada por Adriano Pedrosa, diretor artístico, e David Ribeiro, assistente curatorial, MASP.