Esta exposição é dedicada à obra da artista afro-americana Senga Nengudi (Chicago, 1943), uma figura central na vibrante cena artística afro-americana de Los Angeles entre os anos 1970 e 1980. Nengudi construiu uma produção que mistura escultura e dança, instalação e performance, e, nesse sentido, a mostra se insere em um ano inteiramente dedicado às Histórias da dança no MASP. Influenciada pelos movimentos de resistência e libertação negra, os anos de formação artística de Nengudi coincidiram com o início do Black Arts Movement [Movimento das Artes Negras], importante movimento político de difusão e valorização da produção cultural negra nos Estados Unidos. Nengudi se formou em escultura e dança em Los Angeles, e seu interesse pela cultura japonesa e pelo trabalho do grupo de vanguarda Gutai levaram-na a estudar japanologia na Universidade de Waseda, em Tóquio. Formas japonesas de teatro e dança, como o Kabuki e o Butô, práticas rituais Iorubás (oeste da África), improvisação e jazz formaram o repertório da artista.
Movimento, transformação e impermanência são conceitos centrais para Nengudi, como pode ser visto em várias de suas obras: desde os primeiros trabalhos, como as Water Compositions [Composições de água], à icônica série R.S.V.P. — Répondez s’il vous plaît [Responda por favor] e performances que tomaram os espaços da cidade de Los Angeles — todas presentes nesta mostra.
Nengudi abordou questões referentes ao corpo e suas diversas experiências sociais por meio de materiais, formas e ações. Em 1975, após o nascimento de seu primeiro filho, a artista deu início à extensa série R.S.V.P., composta por esculturas e instalações feitas com meias de náilon esticadas e/ou preenchidas com areia, amarradas ou atreladas a objetos. Nengudi estava interessada no caráter transformativo desse material e na maneira como o corpo poderia passar por diversas mudanças ao longo de sua vida — dos “inícios gentis e firmes aos fins lassos”, como declarou. Grande parte desta mostra é composta por obras dessa série, instalações que funcionam como objetos ou pares de dança, demandando do público uma resposta, seja ela sensorial, seja visual, uma memória ou percepção.
Senga Nengudi: topologias conta com uma seleção de trabalhos que abrangem todo o arco temporal da produção da artista — dos anos 1970 aos anos 2010 —, além de documentações de performances e registros sobre o contexto em que sua obra se desenvolveu, e é organizada em parceria com o museu Lenbachhaus, em Munique. A exposição encontra-se em diálogo com as mostras de Trisha Brown, Hélio Oiticica e Babette Mangolte, artistas contemporâneos de Nengudi.
CONCEITO E IDEIA Stephanie Weber, curadora, Lenbachhaus
APRESENTAÇÃO NO MASP Isabella Rjeille, curadora, MASP