Com um caráter panorâmico, esta exposição abrange cinco décadas da carreira de Alfredo Volpi (Lucca, Itália, 1896 – São Paulo, 1988) e tem como enquadramento o contínuo interesse do artista por imagens, narrativas e personagens da cultura popular brasileira. Com 96 pinturas, a mostra está organizada em sete núcleos temáticos não cronológicos: Santas e santos; Retratos; Marinhas; Temas náuticos e lúdicos; Cenas urbanas e rurais; Fachadas; e Bandeirinhas e mastros.
A família de Volpi migrou da Itália para o Brasil, quando o artista ainda era criança, e se mudou para o bairro do Cambuci, em São Paulo. De origem humilde, antes de dar início à carreira artística, Volpi trabalhou no ramo da construção civil, especializando-se na pintura decorativa de paredes. Autodidata, ele começou a pintar em 1911, mas seu interesse pelo popular ganhou força a partir da década de 1940, quando passou a realizar retratos religiosos, representações de festejos populares — incluindo suas famosas bandeirinhas — e de fachadas de arquitetura vernacular e colonial brasileira.
A partir da década de 1940, sua pintura se torna cada vez mais geometrizada, com campos cromáticos vibrantes, delimitados por contornos irregulares, marcados por um uso excepcional da cor, por sua pincelada característica e pela textura singular de sua têmpera — tinta produzida pelo próprio artista a partir da mistura de pigmentos com o ovo. Ao longo dos anos, seu trabalho caminhou para a redução de elementos na composição, flertando com a abstração geométrica, ainda que sem perder o referencial da figuração.
A trajetória de Volpi produziu um repertório vasto e complexo de pinturas, em uma mescla extraordinária entre a tradição moderna e elementos da cultura popular. Se, por um lado, o artista dialogou com a tradição da pintura ocidental, sobretudo da arte italiana da Idade Média e do Renascimento, e com o modernismo brasileiro, com sua sintetização formal, por outro lado, sua obra foi povoada por referências da cultura popular, algo que esta exposição procura destacar. Nesse sentido, a mostra se insere em um conjunto de outras organizadas pelo MASP com enquadramentos similares: Portinari popular, em 2016, e Tarsila popular, em 2019.
Volpi popular integra o biênio de programação do MASP dedicado às Histórias brasileiras, em 2021-22, por ocasião do bicentenário da independência do Brasil em 2022. Este ano, a programação inclui mostras de Abdias Nascimento (1914-2011), Luiz Zerbini, Dalton Paula, Joseca Yanomami, Madalena dos Santos Reinbolt (1919-1977), Judith Lauand e Cinthia Marcelle, além de uma grande coletiva, Histórias brasileiras.
Volpi popular é curada por Tomás Toledo, curador-chefe, MASP.