Inscrições presenciais
A retirada de ingressos será realizada duas horas antes do seminário, a partir das 8h, na bilheteria do Museu.
Serão necessários o cadastro de e-mail, nome completo e a apresentação de um documento oficial na retirada do ingresso.
Cada ingresso é válido para 1 (um) dia de evento, sendo necessária a retirada em cada um dos dias.
Os certificados serão emitidos somente para os participantes que comparecerem nos dois dias do seminário, e serão enviados para o e-mail cadastrado previamente.
Histórias feministas, histórias das mulheres é a primeira parte de um projeto de longo prazo, que incluirá uma exposição a ser inaugurada no MASP em 2019. O seminário constitui um fórum público para estimular o debate e a pesquisa geral da exposição, e é um desdobramento do projeto Histórias da Sexualidade, ocorrido em 2017. Histórias feministas, histórias das mulheres deseja não só abordar tópicos mais prevalentes nos debates nacionais e internacionais em relação ao feminismo, mas também gerar publicamente novas reflexões, alimentando as discussões que moldarão o projeto nos próximos anos. O seminário de dois dias englobará apresentações sobre arte feminista, direitos humanos e ativismo, projetos curatoriais, raça e gênero, e tem a participação de artistas, curadoras, ativistas, escritoras e pesquisadoras.
ORGANIZAÇÃO: Adriano Pedrosa, André Mesquita, Isabella Rjeille e Lilia Moritz Schwarcz.
PROGRAMA
Quinta, 1º de fevereiro
10h – 10h30
Introdução
Lilia Moritz Schwarcz
10h30 – 12h30
(mediação: Talita Trizoli, Universidade de São Paulo)
CLAUDIA CALIRMAN
O jogo de esconde-esconde: a abordagem do feminismo na arte brasileira
A apresentação abordará os motivos que contribuíram para o repúdio ao feminismo nas artes plásticas no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Se o feminismo é uma tomada de posição política em relação ao lugar da mulher na sociedade, nāo se pode dizer que ele teve espaço na arte brasileira nesse período. Qualquer tentativa de inclusão do tema foi totalmente afastada; ou ao menos foi velada, escamoteada e disfarçada. Serão discutidos trabalhos canônicos de artistas brasileiras que, apesar de terem tratado de assuntos ligados à questão da mulher, se esquivaram do discurso feminista. Durante esse período, o feminismo nas artes plásticas foi tratado de forma tangencial, discreta e tímida. Porém, recentemente ele foi ativado de forma direta e escancarada por uma nova geração de artistas
REGINA VATER
Ser mulher é um eterno desafio
Faço parte de uma geração dos anos 1960 que viveu o primeiro boom das lutas feministas. Minha obra da juventude estampa isso. E não é só disso que quero falar. Por que não fazer também uma crônica oral do que era, do ponto de vista de uma artista mulher (ou simplesmente uma mulher), o Brasil nesses idos dos 1960 e 1970, e mesmo de minhas experiências posteriores no exterior: Estados Unidos, França, Grécia, América Latina e desse novo/velho Brasil atual?
CATHERINE MORRIS
Revisando a segunda onda: Black Radical Women, 1965-85
Esta apresentação focará o quadro metodológico da exposição We Wanted a Revolution: Black Radical Women, 1965-85 (apresentada no Brooklyn Museum de 21 de abril a 17 de setembro de 2017). A mostra foi concebida como uma correção histórica: uma apresentação de abordagens radicais para o pensamento feminista desenvolvidas por mulheres não brancas simultaneamente, e às vezes em oposição, às visões mais amplamente reconhecidas promovidas pelo feminismo da segunda onda. Sendo impossível compreender a complexidade do movimento feminista nos Estados Unidos e seu surgimento naquele período de rebelião radical e regulação cultural sem conhecer as histórias e prioridades do feminismo negro, a exposição foi concebida para expandir e revisar a história cada vez mais canônica do feminismo, descrevendo o surgimento de uma abordagem intersecional do ativismo social e da produção cultural que continua a informar as prioridades e as práticas feministas de hoje.
14h – 16h
(mediação: Lilia Moritz Schwarcz, MASP)
ELIANE DIAS
Conexão mulher ativista, advogada e produtora
Nesta apresentação, falarei sobre minha experiência como mulher envolvida nas questões de gênero e raça. Em vista da grande falta de credibilidade e da solidão da mulher negra na sociedade, tive que desenvolver desde cedo um grau de responsabilidade e autodefesa que nenhuma criança deveria ter e me transformei em uma ativista, advogada e produtora obrigada a mostrar a que veio, sendo desafiada a todo o tempo.
CARMÉZIA EMILIANO
A mulher faz-tudo não mora mais em mim
As mulheres indígenas de minha geração pouco ou nada discutiam sobre qual era a nossa função nos mais variados contextos. Nas malocas, nas casas das famílias como domésticas e até mesmo no meio de nossos parentes, o trabalho é muito. Muitas indígenas, ainda hoje, vêm para a cidade em busca de melhores condições de trabalho. O que parecia uma possibilidade de melhoria de vida transformava-se em mais uma situação de trabalho excessivo, sem um entendimento claro do porquê trabalhávamos tanto. É importante que se diga que é prática comum a vinda de meninas índias para trabalharem na casa de suas madrinhas brancas. As relações de madrinhas e afilhadas não têm nada de afetiva como parece. É uma maneira de não pagar os justos salários pelo trabalho doméstico realizado. Ao me revelar como artista plástica, consegui a emancipação que me era negada.
DÉBORA MARIA DA SILVA
Movimento Mães de Maio: contra o terrorismo de Estado
Abordarei minha atuação como militante e coordenadora do Movimento Mães de Maio, rede de mães, familiares e amigos de vítimas da violência do Estado brasileiro (principalmente da Polícia Militar), formado após os Crimes de Maio de 2006. Transformamos a dor e o luto pela perda de nossos filhos, familiares e amigos em razão para nos encontrarmos, nos reunirmos e passarmos a caminhar juntas. Lutamos pelo direito à verdade, à memória, à justiça e à reparação plena de todas as vítimas da violência sistemática contra a população pobre, negra e indígena. Nosso objetivo é construir, na prática e na luta, uma sociedade realmente justa e livre.
Sexta, 2 de fevereiro
10h30 – 12h30
(mediação: Gabriela Barzaghi De Laurentiis, Universidade de São Paulo)
GABRIELE SCHOR
Por que é importante chamar o Movimento de Arte Feminista da década de 1970 de vanguarda?
As vanguardas produzem arte surpreendentemente nova. Elas são radicais, provocativas e autorreflexivas tanto na forma como no tema, como ilustram os exemplos do Fluxus, a arte conceitual e o Acionismo Vienense. Inspiradas pelo movimento das mulheres e pela convicção de que “o pessoal é político”, muitas mulheres artistas da década de 1970 empreenderam um esforço coletivo sem precedentes na história da arte: refazer a “imagem da mulher”. Elas desconstruíram a imagem da mulher que serviu artistas masculinos ao longo dos séculos como veículo para suas projeções, seus estereótipos, desejos e suas fantasias. A apresentação lança luz sobre os traços formais e as preocupações temáticas que muitos desses trabalhos compartilham e explica por que é hora de a “vanguarda feminista” ser incluída no cânone histórico-artístico.
JUDY CHICAGO
Lembrando The Dinner Party
Em outubro de 2017, a exposição intitulada Roots of The Dinner Party: History in the Making foi aberta nas galerias do Elizabeth A. Sackler Center for Feminist Art, no Brooklyn Museum, onde The Dinner Party foi permanentemente instalada em 2007. Em conjunto com essa exposição, o National Museum of Women in the Arts, em Washington D.C., abriu uma mostra menor, Inside the Dinner Party Studio, que explorou meus métodos colaborativos. A apresentação examinará essas duas exposições e olhará para a jornada de minha pesquisa inicial no que era então uma história desconhecida de mulheres na civilização ocidental para o cumprimento do meu objetivo de instalação permanente. Também discutirei o impacto contínuo de The Dinner Party, vista por um milhão de pessoas durante sua turnê mundial, de 1979 a 1988, que já atraiu um milhão e meio de pessoas desde sua permanência no Brooklyn Museum.
MARINA VISHMIDT
Realismo reprodutivo: Rumo a uma estética crítica do trabalho de gênero
A apresentação versará sobre a reprodução social e a negatividade do trabalho das mulheres, tal como descrito em alguns gestos estéticos feministas particulares, baseados na minha pesquisa atual sobre as obras dos anos 1970 de Letícia Parente, Margaret Raspé e Lynda Benglis, bem como em trabalhos contemporâneos que tomam a ideia de “reprodução” em um sentido mais simbólico e institucional. Desenvolverei a categoria especulativa de "realismo reprodutivo", que aqui tem dois lados: um lado afirmativo, que glorifica o trabalho de gênero, e um lado sardônico, excessivo ou absurdo, que abordo através de conceitos específicos de “negatividade” e materialidade imanentes ao trabalho, mas também aos discursos marxistas feministas e abolicionistas de gênero, particularmente relevantes em relação à militância atual e antigênero e de extrema direita.
14h – 16h
(mediação: Isabella Rjeille, MASP)
MARGARETH RAGO
Os feminismos e a construção de um mundo filógino
Desde a década de 1970, os feminismos não cessam de crescer e diversificar-se, trazendo à cena pública os questionamentos e as reivindicações das mulheres de diferentes setores sociais e étnicos, explicitadas em formas renovadas de expressão política, artística e cultural. Para além dos momentos de maior visibilidade das mobilizações feministas, em suas diferentes vertentes, as rupturas e as transformações que produzem no imaginário social e cultural, com sua intensa crítica à cultura patriarcal, se tornam cada vez mais manifestas. Assim, a filosofia feminista questiona o pensamento dualista e introduz o corpo, a subjetividade, as emoções e a materialidade em novos modos de pensar e de se relacionar com a diferença. Essa apresentação visa mapear os feminismos contemporâneos, destacando a potência de vida que carregam em suas ações e interpretações, já que apontam para a construção de outros modos de existência pautados pela ética, pela filoginia e pela justiça social.
CLAIRE FONTAINE
Elevar o levante
Partiremos do pressuposto de que não só na natureza, mas também na vida humana, existem energias não renováveis exploradas, como a força-luta, a força-esperança, a força-amor. Recorreremos à metodologia de Michel Foucault e Carla Lonzi, enfocando os processos de subjetivação e as práticas de liberdade nos movimentos feministas, para desenhar formas de resistência ao mesmo tempo sustentáveis e emancipadoras para as subjetividades que as animam. Para isso, desenvolveremos o conceito de “greve humana”, aplicando-o explicitamente ao campo da luta e da subjetivação do feminismo. A greve humana visa o que há de econômico, afetivo, sexual e emocional na posição que os sujeitos ocupam.
MINOO MOALLEM
O enigma da mulher muçulmana
Desde a modernidade colonial, as representações da mulher muçulmana basearam-se na economia visual e textual do Orientalismo, velho e novo. O véu como símbolo, como um objeto material e como um limiar que divide o Oriente e o Ocidente, religioso e secular, tradicional e moderno continua a ganhar valor em nossa era pós-colonial e neoliberal. O enigma da mulher muçulmana velada tornou-se um significante para a existência ameaçadora de um mundo muçulmano unido, preso em algum lugar fora do tempo histórico. O desejo de saber o que está embaixo, abaixo, por trás do véu continua a esconder a vontade de conhecimento sobre o Oriente Médio, a África do Norte e suas diásporas. Nesta apresentação, argumento que a descolonização de representações tão enigmáticas das mulheres muçulmanas requer uma abordagem desconstrutiva, afastando-se desse limite onde o poder é encoberto.
CARMÉZIA EMILIANO
Carmézia Emiliano começou a pintar em 1992, ao visitar uma exposição de pinturas. Na ocasião, reconheceu que a pintura era o canal ideal para preservar o rico imaginário do povo Macuxi. Em 25 anos de trabalho, a artista expôs no Brasil e no exterior, recebeu prêmios de salões nacionais e internacionais e teve suas obras incorporadas a acervos públicos e privados.
CATHERINE MORRIS
Curadora do Elizabeth A. Sackler Center for Feminist Art no Brooklyn Museum, onde desde 2009 curou e coorganizou várias exposições, incluindo We Wanted a Revolution: Black Radical Women, 1965-85; Judith Scott ‒ Bound and Unbound; Chicago in L.A: Judy Chicago’s Early Work, 1963-74 e Materializing “Six Years”: Lucy R. Lippard and the Emergence of Conceptual Art. Morris trabalhou em projetos que examinam práticas contemporâneas através de precedentes históricos, incluindo o projeto de 2017 The Year of Yes: Reimagining Feminism at the Brooklyn Museum e Agitprop!.
CLAUDIA CALIRMAN
Professora associada de História da Arte no John Jay College of Criminal Justice, City University of New York. Seu livro Arte brasileira na ditadura militar: Antonio Manuel, Artur Barrio e Cildo Meireles (Duke University Press, 2012/Réptil Editora, 2014) recebeu o Prêmio Arvey da Associação de Arte Latino-Americana. Foi curadora de Basta! Arte e violência na América Latina, na Anya and Andrew Shiva Gallery (CUNY), em Nova York, 2016.
CLAIRE FONTAINE
Fundado em 2004 em Paris, o coletivo Claire Fontaine publicou uma antologia de seus principais ensaios intitulada Human Strike Has Already Begun & Other Texts (Mute, 2012), e os livros Some Instructions for the Sharing of Private Property (One Star Press, 2011) e Vivre, vaincre (Dilecta, 2009). Em 2016, organizou e coordenou, em Paris, o encontro Work, Strike and Self-Abolition. Feminist Perspectives on the Art of Creating Freedom.
DÉBORA MARIA DA SILVA
Coordenadora do Movimento Mães de Maio, organização que reúne familiares de vítimas da violência estatal e policial no Brasil e que tem como um de seus principais eixos a luta pela memória, verdade e justiça dos Crimes de Maio de 2006. É pesquisadora do Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e educadora popular em parceria com a Anistia Internacional no Brasil. Com Clara Ianni, é autora de Apelo, obra apresentada na 31ª Bienal de São Paulo, 2014.
ELIANE DIAS
Advogada, empresária e mãe. Ao lado de seu companheiro, Mano Brown, criou a produtora Boogie Naipe, responsável pela carreira do grupo Racionais Mc’s. Desde 2011 tem um trabalho voltado para o empoderamento das mulheres negras, que ainda são invisibilizadas e têm os menores salários no mercado de trabalho, independente da sua formação. Dias também atua como coordenadora do SOS Racismo na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.
GABRIELE SCHOR
Diretora-fundadora da Coleção Sammlung Verbund, em Viena, com foco na ″vanguarda feminista dos anos 1970″ e ″percepção de espaços e lugares″. Editou inúmeras monografias, como as de Birgit Jürgenssen (com Abigail Solomon-Godeau, 2009), Francesca Woodman (com Elisabeth Bronfen, 2014) e Renate Bertlmann (com Jessica Morgan, 2016). Em 2015, Schor editou o livro Feminist Avant-Garde of the 1970s.
JUDY CHICAGO
Artista, autora de catorze livros e educadora. É conhecida por seu papel na criação de um programa de arte feminista de educação artística na Califórnia durante o início dos anos 1970 e por seu trabalho monumental The Dinner Party (1974–1979), hoje pertencente ao Elizabeth A. Sackler Center for Feminist Art, no Brooklyn Museum em Nova York. O trabalho da artista continua a ser exibido regularmente nos Estados Unidos e em outros países.
MARGARETH RAGO
Historiadora e professora titular colaboradora do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Professora visitante no Connecticut College (Estados Unidos) entre 1995 e 1996 e na Columbia University (Nova York), entre 2010 e 2011. Publicou vários livros e artigos, como A aventura de contar-se: Feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade (2013); Do cabaré ao lar: A utopia da cidade disciplinar e a resistência anarquista - Brasil 1890-1930 (1999, 2014); Os prazeres da noite: Prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-1930) (2008).
MARINA VISHMIDT
Escritora e editora. Professora de Indústria Cultural da Goldsmiths, University of London e diretora de um seminário de Teoria na Dutch Art Institute. Seu trabalho foi publicado em revistas como South Atlantic Quarterly, Ephemera, Afterall, Journal of Cultural Economy, Australian Feminist Studies, Radical Philosophy, entre outras. Ela é autora, com Kerstin Stakemeier, de Reproducing Autonomy: Work, Money, Crisis and Contemporary Art (Mute, 2016) e atualmente finaliza a monografia Speculation as a Mode of Production (Brill, 2018).
MINOO MOALLEM
Professora de gênero e estudos femininos na University of California, em Berkeley. Autora de Between Warrior Brother and Veiled Sister: Islamic Fundamentalism and the Politics of Patriarchy in Iran (University of California Press, 2005) e coeditora (com Caren Kaplan e Norma Alarcon) de Between Woman and Nation: Nationalisms, Transnational Feminisms and the State (Duke University Press, 1999). Socióloga, escreve sobre estudos feministas pós-coloniais e transnacionais, culturas materiais e visuais do islamismo, cultura de consumo e políticas culturais do Oriente Médio e diásporas.
REGINA VATER
Arista pioneira nos temas do feminismo e da ecologia, tem a poesia e as cosmologias indígenas e africanas como fortes inspirações. Sua obra abrange instalações (realizadas desde 1970), livros de artista, poesia visual, fotografia (todos desde 1973) e performance (desde 1975). Vater foi uma das primeiras videoartistas brasileiras. Recebeu o Prêmio Marcantonio Vilaça, em 2013, e a Guggenheim Fellowship, em 1980.