MASP

Resistências e resistentes: das múltiplas formas de transformar

4.12.2021
SÁBADO
10h-17h
O segundo encontro de 2021 do MASP Professores dá continuidade ao debate aberto pela reflexão de “como confrontar nossos passados difíceis” e será dedicado às diversas estratégias de resistência das populações negras e indígenas. Estratégias que, ao longo da história, podem ser compreendidas enquanto possibilidades de transformação de realidades adversas. À luz dessas práticas cotidianas, é possível vislumbrar outras formas de abordar as histórias desses sujeitos e as suas expressões, que compõem a identidade brasileira, assim como apreender, construir e comunicar narrativas que deem conta da pluralidade que nos forma. 

Este encontro faz parte do ciclo curatorial dedicado às Histórias brasileiras, que continua em 2022. 

Cronograma do encontro:
10h-13h: palestras matinais
13h-15h: intervalo
15h-17h: conferência

Público: profissionais da área da educação, especialmente docentes e estudantes de licenciaturas, e pessoas interessadas em geral.

Atividade gratuita transmitida ao vivo pelo YouTube do MASP

Debate com convidados e emissão de certificados reservados às pessoas inscritas (inscrições encerradas).
 
Convidados
Palestras matinais: Cristina Wissenbach, Elson Alves da Silva e Carolina Lopes.
Conferência: Patrícia Ferreira Pará Yxapy.

PROGRAMA

10h-13h
MARIA CRISTINA CORTEZ WISSENBACH
“Essa Conga que fala comigo diz que s’eu morrendo aqui, morrerei quem nem eu só” — Theodora da Cunha Dias, São Paulo, 1867

Nessa fala serão apresentadas as experiências, as lutas e a visão de mundo de Theodora da Cunha Dias, africana natural do Congo, que viveu como escrava doméstica em São Paulo na década de 1860. Vinda de uma região rural do interior e vendida em separado de sua família constituída na escravidão, no ambiente citadino pôde comprar, de parceiros letrados, cartas que deveriam ser enviadas ao seu marido e filho, cujo destino desconhecia. Por conta da suspeita que cercava o uso do código da escrita e do caráter contingencial da escravidão, a remessa das cartas foi interceptada, o que as tornou peças judiciais, provas da participação da escravizada num crime de roubo e depois em fonte histórica. A “descoberta” desta documentação no interior de um processo criminal abriu possibilidades ambivalentes de interpretação: ao mesmo tempo em que revelou a precarização das posses escravas e frustração de muitos das expectativas cativas, deixou à mostra fragmentos da visão de mundo e das experiências vividas e intentadas pela africana para a realização de seus projetos.
 
CAROLINA DUARTE DE OLIVEIRA LOPES
Vivências profundas de um cotidiano antirracista dentro e fora da escola

As temáticas afro-brasileira e indígena foram tornadas obrigatórias em todas as etapas da educação. Na prática, porém, esses temas são pouco abordados. Notando essa necessidade de aprofundamento, Lopes desenvolve, em cidades do interior paulista, projetos dentro e fora de escolas públicas e privadas sobre o maracatu e o samba de coco e também em parceria com o Instituto Fala Preta, que realiza formações de professores, gestores e estudantes para viabilizar escolas antirracistas. Nesta fala, ela partirá de suas vivências dentro e fora da sala de aula: como professora, historiadora e batuqueira.
 
ELSON ALVES DA SILVA
Quilombo Ivaporunduva: história, organização, lutas, desafios e conquistas

Atual coordenador da Associação Quilombo Ivaporunduva, Elson Alves da Silva falará sobre a história de sua comunidade e de sua vivência. Ivaporunduva está localizada no Vale do Ribeira, município de Eldorado, São Paulo. É uma comunidade com mais de 350 anos de idade, formada por aproximadamente 105 famílias; possui em torno de 400 habitantes. A fundação da vila data de 1720, quando foi ocupada mais densamente por mineradores que utilizavam a mão de obra escrava. A comunidade está organizada em uma associação de moradores fundada em 1994, da qual todos os moradores fazem parte e que foi criada para agilizar os processos de reconhecimento da comunidade como quilombo e de regularização fundiária, além da busca por políticas públicas. 
 
13h-15h 
Intervalo

 
15h-17h
Conferência
PATRÍCIA FERREIRA PARÁ YXAPY
Cinema, espiritualidade e resistência guarani mbyá

Pará Yxapy falará sobre as suas experiências como realizadora e professora, com especial destaque para as bases da espiritualidade guarani que a sustentam e para os aspectos que expressam a longa história de resistência de seu povo.  
 

Vídeos

Participantes

CAROLINA DUARTE DE OLIVEIRA LOPES
Historiadora formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Assis), com intercâmbio na Universidade de Coimbra. Pedagoga, com pós-graduação em educação musical, sociologia, filosofia e cultura africana. Professora nas redes pública e particular e coordenadora pedagógica no Colégio Paulo Freire (Jundiaí, São Paulo). Brincante há sete anos da cultura popular. Integrante do Coletivo Embaúba e co-fundadora do Coco das Águas Doces e do Instituto Fala Preta. É também regente e coordenadora do grupo Baque Delas.

ELSON ALVES DA SILVA
Nascido e criado no Quilombo Ivaporunduva, é o atual coordenador da Associação Quilombo Ivaporunduva. Foi representante das Comunidades Quilombolas do Vale do Ribeira no Conselho Estadual de Educação Escolar Quilombola. É graduado em pedagogia e história, com especialização em educação escolar quilombola. É mestre em educação: história, política e sociedade pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi intercambista na University of Arkansas com bolsa da Fundação Ford. É diretor de escola na rede municipal de ensino de Jacupiranga. 

MARIA CRISTINA CORTEZ WISSENBACH
Professora associada do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP) e responsável pelas disciplinas de história da África e história dos africanos e afrodescendentes nas Américas. Líder do grupo de pesquisa interdisciplinar “Ana Gertrudes de Jesus, mulher da terra: por uma história social dos grupos subalternizados do Sul Global (África & Américas)”. Autora de trabalhos sobre a escravidão na cidade de São Paulo (Sonhos africanos, vivências ladinas, 1998 e 2010) e sobre as práticas religiosas no período pós-abolição (Práticas religiosas, errância e vida cotidiana no Brasil, 2018), investiga atualmente redes de comércio e estruturas de poder na África Central no século 19. 

PATRÍCIA FERREIRA PARÁ YXAPY
Realizadora audiovisual indígena da etnia Mbyá-Guarani. Mora na Aldeia Ko’enju, em São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul, onde é professora desde 2006. Em 2007, co-fundou o Coletivo Mbyá-Guarani de Cinema e em 2008 realizou a primeira oficina de audiovisual com a ação Vídeo nas Aldeias. Em 2014 e 2015, participou de residências artísticas com cineastas indígenas Inuit, no Canadá. Entre as suas realizações estão Bicicletas de Nhanderu (2011); Desterro Guarani (2011); TAVA, a casa de pedra, (2012) e No caminho com Mario (2014), tendo recebido diversos prêmios. Atualmente está circulando com o seu primeiro longa com Sophia Pinheiro, Teko Haxy — Ser Imperfeita (2018).