Fundado em 1939, ao longo de seus 76 anos, mais de 5 mil associados passaram pelas dependências dos quatro endereços do Foto Cine Clube Bandeirante – do 22º andar do Edifício Martinelli até o número 1108 da rua Augusta, em São Paulo, onde permanece ativo ainda hoje. Como vários grupos e clubes que proliferaram pelo mundo no século 20, o FCCB fez parte de uma grande rede de intercâmbio de imagens fotográficas. Por meio de seus salões, exposições e publicações, ele foi, por muitas décadas, o mais importante centro paulista de informação e de ensino técnico da fotografia, de disseminação de críticas, preceitos e correspondências entre os aficionados da fotografia, amadores ou profissionais. Esta exposição apresenta 279 obras de 85 de seus membros, parte de um grande arquivo constituído pelo FCCB, ao longo de várias décadas. O recorte exposto originou-se em 2014 a partir da cessão em comodato de 275 fotografias e da doação de outras quatro por particulares.
Duas noções fundamentais norteiam a exposição: a de arquivo e a de rede.
Arquivo é o que se constituiu pelo conjunto de fotografias que se acumulavam nas gavetas do FCCB. As gavetas continham as fotografias que viajavam pelo mundo, participando de exposições e salões. Cada fotografia é mais que uma imagem, pois guarda, em seu verso, o histórico de seu percurso por meio de selos, anotações e carimbos. Esse verso é tão importante quanto a imagem, pois registra sua participação numa vasta, prolífica e duradoura rede de intercâmbio de fotografia e informação. Por essa razão, a exposição exibe a frente e o verso das fotografias.
Para enfatizar a ideia de rede, as cópias fotográficas foram organizadas cronologicamente, de acordo com sua primeira participação em uma exposição. A opção de expor as fotografias sem molduras, ocupando os painéis inclinados em duas faixas lineares, é uma referência à maneira simples e despretensiosa como elas eram originalmente mostradas nos salões.
Sobre as paredes, estão apresentadas a lista cronológica dos salões nos quais as fotografias foram mostradas e um mapa-múndi com as localidades onde ocorreram as exposições. Complementam a pesquisa em torno desse arquivo alguns trechos extraídos dos cerca de 250 Boletins publicados pelo FCCB, exemplificando a evolução dos debates e do pensamento sobre fotografia, desde sua fundação. Uma vitrine apresenta os catálogos dos primeiros 31 salões fotográficos organizados pelo FCCB.
Se esta exposição pode ser entendida como um passo decisivo no processo de legitimação da fotografia moderna brasileira que agora chega ao museu, ela também busca situar a prática fotográfica em um contexto mais amplo – entre os anos 1940 e 1980. Nesse contexto, está a importância do FCCB para a formação e capacitação dos fotógrafos amadores e profissionais; a disseminação da informação sobre um fazer específico que não era ainda ensinado nas escolas técnicas ou de arte; e a formação de público para a fotografia – então uma “nova arte”, democrática e acessível.
CURADORIA Rosângela Rennó, curadora-adjunta de fotografia, MASP