O MASP conclui o ano dedicado às Histórias da Diversidade LGBTQIA+ apresentando, de 13 de dezembro a 13 de abril de 2025, uma mostra coletiva que ocupa três espaços expositivos do museu. A exposição Histórias LGBTQIA+ reúne mais de 150 obras de arte e centenas de documentos nacionais e internacionais.
Esta exposição reúne 30 artistas e coletivos que emergiram no século 21 e que trabalham com base em perspectivas feministas, ampliando um debate que ganhou visibilidade nas artes visuais entre os anos 1960 e 1980, mas que segue cruzando lutas, narrativas e conhecimentos. Abordar as histórias feministas no presente significa ter como ponto de partida um tempo em plena construção e urgência.
Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886-São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século 20 e figura central do modernismo. Esta é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações.
Esta é a primeira grande exposição monográfica dedicada à obra de Djanira da Motta e Silva (Avaré, São Paulo, 1914– Rio de Janeiro, 1979) desde seu falecimento há quarenta anos. Autodidata e de origem trabalhadora, a artista surgiu no cenário da arte brasileira nos anos 1940. Embora tenha trilhado sólida carreira em vida, nas últimas décadas Djanira foi colocada de lado nas narrativas oficiais da história da arte brasileira. Esta mostra busca, portanto, examinar o papel fundamental da artista na formação da visualidade brasileira e reposicioná-la na história da arte do país durante o século 20.
As Guerrilla Girls se definem como um grupo de ativistas feministas que “usam fatos, humor e imagens ultrajantes para expor os preconceitos étnicos e de gênero, bem como a corrupção na política, na arte, no cinema e na cultura pop”. Constituído por ativistas anônimas, e conhecido por usar máscaras de gorila em suas aparições públicas, o grupo foi formado em 1985 em resposta a uma exposição realizada em 1984 no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York. Com o título International Survey of Recent Painting and Sculpture [Panorama internacional de pinturas e esculturas recentes] e curadoria de Kynaston McShine, essa mostra incluiu 165 artistas, no entanto, apenas treze eram mulheres.
O MASP apresenta uma retrospectiva com 116 trabalhos do grupo, incluindo dois novos cartazes brasileiros, baseados nas obras mais conhecidas das Guerrilla Girls. Esses dois cartazes tratam das dificuldades de ser uma artista em um mundo da arte e uma história da arte dominados pelos homens: As vantagens de ser uma artista mulher (1988/2017), As mulheres precisam estar nuas para entrar no Met. Museum? (1989) e, agora, o recente no MASP? (2017). Este último aborda o contraste entre o pequeno número de artistas mulheres comparado ao grande número de nus femininos da coleção em exibição no Metropolitan Museum de Nova York (5% e 85% em 1989, e 4% e 76% em 2012) e no MASP (6% e 60% em 2017). Embora o MASP apresente números melhores do que os do Met, o resultado seria bem diferente se considerássemos o grande número de nus femininos do modernista brasileiro Pedro Correia de Araújo, em exibição na galeria do segundo subsolo até 18 de novembro.
O discurso que emerge dos cartazes dos últimos 32 anos pode ser enquadrado nos debates sobre as políticas de identidade e sobre o multiculturalismo do final da década de 1980, particularmente nos Estados Unidos. A preocupação com um maior equilíbrio entre mulheres e homens artistas nos cenários da arte moderna e da arte contemporânea se tornou uma constante. Nos museus e na história da arte, muito do interesse renovado nas artistas mulheres, não brancxs ou que trabalham fora do eixo Europa-Estados Unidos ecoa no trabalho das Guerrilla Girls. No Brasil, somos privilegiados por ter uma história da arte dominada por mulheres como as modernistas Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e artistas de meados do século 20, como Lygia Clark, Lygia Pape e Mira Schendel, para nomear apenas algumas que têm posição consolidada no cânone da arte. Muito ainda precisa ser feito, particularmente no que se refere a artistas (e curadores) de ascendências africana e ameríndia, bem como de contextos sociais menos privilegiados.
É interessante considerar como o discurso humorado das Guerrilla Girls se articula com questões mais abrangentes e profundas como o eurocentrismo, o privilégio branco, a heteronormatividade e o domínio masculino. Em paralelo às várias e, às vezes, conflitantes ondas de feminismos e políticas LGBT e aos movimentos negro e indígena, ainda é importante trabalhar em direção a uma aliança múltipla, diversa e plural entre as minorias oprimidas pela supremacia branca, masculina, heterossexual e socialmente privilegiada. Não se trata de fundir esses discursos em uma massa única e homogênea, mas de desenvolver uma prática que crie espaços e plataformas para que muitos expressem suas ideias, necessidades, desejos e culturas. Bem como mostrem sua arte.
Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Camila Bechelany, curadora assistente do MASP.
Candido Portinari (1903-1962) é um dos mais importantes e polêmicos artistas brasileiros, e sua obra mantém uma longa relação com o MASP, que possui 18 trabalhos do pintor. Portinari popular é a 12ª exposição organizada pelo Museu desde 1948, e não pretende dar conta da totalidade da obra, mas faz um recorte específico. O título da mostra é indicativo e tem múltiplos significados: a popularidade de Portinari — sua tela Retirantes (1944) é a obra de nosso acervo mais postada nas mídias sociais — e a origem, temática, iconografia e dicção populares do artista nos interessam aqui.
O foco é nas pinturas com temas, narrativas e figuras populares — trabalhadores em suas diversas atividades (lavradores de café e de outras culturas, lavadeiras, músicos, garimpeiros), personagens e tipos populares (o cangaceiro, o retirante, a baiana, a índia Carajá) e não europeus (negros, mulatos, índios). Os personagens aparecem em diferentes contextos geográficos e sociais (em Brodowski, a cidade natal do pintor no interior paulista, em paisagens empobrecidas, ou nas favelas do Rio de Janeiro) em brincadeiras ou jogos, na música, no circo, ou em festas populares, mas também na dor — na miséria, na morte. Portinari pintou centenas de retratos da elite brasileira, não incluídos aqui, com uma exceção: Mário de Andrade (1893?1945), importante interlocutor do artista, primeiro grande intérprete de sua obra, e pioneiro no estudo e na valorização da cultura popular brasileira.
A exposição reúne diferentes representações de temas populares que são recorrentes na obra de Portinari ao longo das décadas, o que confirma seu compromisso, engajamento e sua determinação com eles. Vale lembrar que o próprio artista é filho de imigrantes italianos que trabalharam na colheita do café. Assim, muitas das imagens que Portinari pinta ao longo de sua trajetória são cenas de sua própria vivência. Esse extraordinário conjunto constrói um amplo, profundo e sensível panorama da história visual brasileira, para além dos modos, gostos e ofícios das classes dominantes.
A expografia é baseada numa concepção de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta do edifício do Museu, para Cem obras-primas de Portinari, realizada no MASP em 1970. Portinari popular inicia um programa de revisão da produção de alguns artistas do modernismo brasileiro, como Tarsila do Amaral (1886-1973) e Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), a partir de conteúdos e narrativas relacionados a elementos da cultura popular brasileira, que abarcam discussões sobre raça, realidade social e identidade cultural do país. O interesse do MASP na cultura popular não é novo, e esta exposição dialoga com a reencenação de A mão do povo brasileiro, a partir de 1o de setembro na galeria do primeiro andar do Museu.
Por que Portinari popular hoje? Ainda padecemos de uma representação precária e preconceituosa dos sujeitos e das culturas africanas, indígenas e populares na mídia, na política, na sociedade e também na arte. É preciso aprofundar a reflexão sobre essas estratégias de representação, algo que a obra do artista antecipa, daí sua urgência e relevância.
Portinari popular tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, Camila Bechelany, curadora assistente e Rodrigo Moura, curador adjunto de arte brasileira
HISTÓRIAS DA LOUCURA – DESENHOS DO JUQUERY
De 12 de junho a 11 de outubro, o MASP apresenta a exposição Histórias da loucura: desenhos do Juquery, inaugurando um novo espaço expositivo no primeiro subsolo do museu. A mostra reúne cerca de 100 desenhos feitos por internos do Hospital Psiquiátrico do Juquery, localizado em Franco da Rocha, São Paulo. As obras eram parte da coleção do Dr. Osório César (1895-1979), fundador e diretor da Escola Livre de Artes Plásticas, que funcionou no hospital entre 1956 e meados da década de 1970.
Médico psiquiatra do Juquery por mais de quatro décadas, Dr. Osório César foi um dos pioneiros no Brasil a pesquisar e a aplicar o uso da arte como recurso terapêutico em pacientes psiquiátricos. Por acreditar tanto na potência artística dos internos quanto nas qualidades estéticas de seus trabalhos, Dr. Osório César, que foi casado com a artista Tarsila do Amaral, promoveu exposições de desenhos e pinturas criados no Juquery. O MASP sediou duas delas: em 1948, um ano após a inauguração do museu, e em 1954. Em 1974, o médico doou sua coleção particular ao MASP, fato que atestava seu desejo de salvaguardá-la como um acervo de arte, ao invés de arquivá-la como parte de seus estudos. Histórias da loucura: desenhos do Juquery retoma o interesse do museu por essa inestimável coleção, possibilitando a recuperação de histórias plurais, que tratam tanto de sua própria história, quanto da produção desses autores que passaram a integrar um importante acervo de arte na condição de artistas.
Além disso, o título da exposição alude diretamente ao livro História da loucura, do filósofo francês Michel Foucault, originalmente publicado em 1961. Nele, Foucault desenvolveu uma genealogia das ideias e práticas referentes à construção e manutenção da noção de loucura na história do Ocidente. Dessa forma, as histórias a que o título da mostra se refere sugerem não apenas aquelas dos artistas da mostra, mas relatos mais amplos, que tratem também de acontecimentos, ideias, formas de arte e narrativas pessoais e ficcionais. São temas que o MASP pretende desenvolver em um projeto maior, denominado Histórias da loucura, do qual os desenhos de Juquery serviriam de capítulo inicial.
Novo espaço expositivo
O projeto expositivo ocupa um novo espaço no primeiro subsolo do MASP, dividido em duas salas. Uma delas é inteiramente dedicada aos 42 desenhos de Albino Braz, artista cujas obras foram exibidas na sessão Imagens do inconsciente, da mostra Brasil 500 anos - artes visuais, em 2000, em São Paulo. A outra sala recebe mais de 50 desenhos dos artistas Pedro Cornas (o estudioso), J. Q., Claudinha D’Onofrio, Pedro dos Reis, Sebastião Faria, A. Donato de Souza, Marianinha Guimarães, Armando Natale, Augustinho, H. Novais.
Desenvolvido pela METRO Arquitetos, o projeto prevê a divisão do espaço, cujas paredes são de vidro, em dois ambientes separados, configurados por um sistema flexível de painéis em estrutura metálica, soltos do chão, o que permitirá outras configurações futuras. No interior dessas salas serão expostas as obras de arte, protegidas da incidência de luz direta. O objetivo é manter a transparência dos espaços do museu, sem comprometer a conservação dos desenhos, naturalmente frágeis, por serem, em sua maioria, de lápis sobre papel.
Complementando a exposição, o MASP lança um catálogo integral, com a reprodução de todos os desenhos apresentados na mostra. Dois ensaios introduzem a publicação: um de autoria de Kaira M. Cabañas, professora visitante do Departamento de Letras da PUC-RJ, e outro concebido pela direção artística do MASP, que assina a curadoria da exposição.
Sobre o Dr. Osório Thaumaturgo César
Nasceu em 17 de novembro de 1895 em João Pessoa e faleceu em 3 de dezembro de 1979 em Franco da Rocha, cidade do Hospital Psiquiátrico do Juquery. Há poucas informações conhecidas a respeito da vida e da família de Osório na Paraíba. Sabe-se apenas que ele se mudou para São Paulo, em 1912, para estudar odontologia. Terminado o curso, ele se matriculou na Faculdade de Medicina de São Paulo em 1918 e formou-se na de Medicina da Praia Vermelha no Rio de Janeiro em 1925. Em 1923, ingressou como estudante no Hospital Psiquiátrico do Juquery e começou a trabalhar nessa instituição como médico anamotopatologista de 1925 até 1964, quando se aposentou em consequência da pressão militar. Foi casado com a artista Tarsila do Amaral.
Sobre o Juquery
O Hospital Psiquiátrico do Juquery, ora denominado Asilo de Alienados do Juquery, foi inaugurado em 1898. O projeto arquitetônico foi concebido por Ramos de Azevedo e a administração das primeiras décadas do complexo ficou a cargo do médico psiquiatra Francisco Franco da Rocha, que dá nome à cidade-sede do hospital. Atualmente, o Complexo Hospitalar Juquery desenvolve uma política antimanicomial, com atividades ligadas à saúde e ao bem estar da população paulistana.
A bibliografia completa sobre a coleção Osório César pertencente ao acervo MASP pode ser consultada aqui.
Como parte da programação ligada à exposição Tarsila popular, o MASP realizará oficinas especiais dedicadas ao público infantil. Em cada encontro serão propostos exercícios práticos de desenho de observação, criatividade e memória visual, baseados em diferentes aspectos temáticos e formais das obras de Tarsila do Amaral presentes na exposição.
A relação da artista com as memórias de infância se revela com frequência por toda sua carreira. Entre obras que reconstroem o cenário rural da cidade natal, Capivari, e outras que evocam personagens do imaginário popular brasileiro, como O sapo (1928) e O touro - Boi na floresta (1928), Tarsila recorre ao desenho infantil como fonte de inspiração e enxerga nessa referência um ideal de expressão e capacidade de síntese, qualidades também aspiradas por outros artistas brasileiros do período.
Embalados pela Suíte Infantil (1939), de Souza Lima, exploraremos o universo da artista, povoado por seres fantásticos como A cuca (1924) e o Urutu (1928) e animais da fazenda, envolvidos em palmas, palmeiras, bananeiras e fachadas nas cores do barroco de Minas e das flores do cerrado modernista.
Como parte da programação ligada à exposição Tarsila popular, o MASP realizará oficinas especiais dedicadas ao público infantil. Em cada encontro serão propostos exercícios práticos de desenho de observação, criatividade e memória visual, baseados em diferentes aspectos temáticos e formais das obras de Tarsila do Amaral presentes na exposição.
A relação da artista com as memórias de infância se revela com frequência por toda sua carreira. Entre obras que reconstroem o cenário rural da cidade natal, Capivari, e outras que evocam personagens do imaginário popular brasileiro, como O sapo (1928) e O touro - Boi na floresta (1928), Tarsila recorre ao desenho infantil como fonte de inspiração e enxerga nessa referência um ideal de expressão e capacidade de síntese, qualidades também aspiradas por outros artistas brasileiros do período.
Embalados pela Suíte Infantil (1939), de Souza Lima, exploraremos o universo da artista, povoado por seres fantásticos como A cuca (1924) e o Urutu (1928) e animais da fazenda, envolvidos em palmas, palmeiras, bananeiras e fachadas nas cores do barroco de Minas e das flores do cerrado modernista.
Para a edição do dia 7 de maio propomos uma conversa sobre a pintura de Tarsila do Amaral, Composição (Figura Só), 1930 e Tarsila do Amaral, Autorretrato com vestido laranja, 1921
Mediação: Daniela
Ponto de encontro: na entrada do Acervo em Transformação, 2º piso, às 16 horas.
Retire seu ingresso no site para garantir a entrada no Museu.