Acervo em transformação é o título da exposição de longa duração da coleção do MASP. As obras são instaladas nos cavaletes de cristal — placas de vidro encaixadas em blocos de concreto — que ficam dispostos em fileiras sem divisórias na sala ampla do segundo andar do museu. O espaço aberto, fluido e permeável da galeria oferece múltiplas possibilidades de acesso e de leitura, eliminando hierarquias e roteiros predeterminados. Retirar as telas das paredes e colocá-las nos cavaletes possibilita ao visitante caminhar entre elas, como em uma floresta de obras que parecem estar suspensas no ar.
Os cavaletes de cristal, desenhados por Lina Bo Bardi (1914-1992) — autora também do projeto do edifício do MASP —, foram introduzidos em 1968, na inauguração da sede do museu na avenida Paulista. Substituídos em 1996 pela divisão da sala por paredes, esses dispositivos foram trazidos de volta em 2015. Desde então, a mostra permanece em constante modificação, como indica seu título, com entrada e saída de trabalhos em razão de empréstimos, novas aquisições e rotatividade. As legendas das obras são posicionadas no verso dos cavaletes, pois a proposta original de Lina Bo Bardi era de que o primeiro encontro do visitante com os trabalhos fosse direto, livre de contextualizações e de informações de autoria, título e data.
A sexualidade e o erotismo são temas centrais na produção de Tunga (Palmares, Pernambuco 1952 – Rio de Janeiro, 2016) desde sua primeira exposição individual, intitulada Museu da masturbação infantil, realizada em 1974 no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Essa mostra de 1974 incluiu desenhos abstratos que, posteriormente, pautariam o raciocínio acerca desses temas na produção do artista. Eram obras cujas formas evocavam imagens eróticas ou processos de gozo, elementos que reaparecem aqui expostos em desenhos daquele mesmo ano.
Arquiteto de formação, Tunga transitou por diferentes linguagens, das artes visuais à literatura, incluindo a escultura, a instalação, o desenho, a aquarela, gravura, vídeo, texto e a instauração. Frequentemente, suas obras se alimentam de um repertório que provém de distintos campos do conhecimento, como a psicanálise, a filosofia, a química, a alquimia, bem como as memórias e as ficções.
Nesta exposição, a sexualidade não constitui apenas um tema da produção do artista, mas um modo de compreender relações, vínculos, transformações e criações entre corpos, matérias e linguagens. A escolha dos trabalhos e sua disposição no espaço foram definidas a fim de potencializar essas relações e promover diálogos entre obras de diferentes períodos e técnicas, em detrimento de uma organização cronológica.
O título da mostra Tunga: o corpo em obras tem duplo sentido: alude tanto ao corpo como assunto das obras do artista, como propõe um olhar sobre sua produção como um corpo continuamente em obras, ou seja, em constante transformação. Essa leitura surgiu da natureza diversa e circular da obra de Tunga, cujos trabalhos não se encerram em categorias estanques. Referências ao corpo, à sexualidade e ao erotismo podem ser observadas em todas as obras expostas: o nu (Vê-nus e Eixos exógenos), a pele e a maquiagem (em desenhos ou sobre as esculturas na série Lábios), os cabelos (Tranças e Escalpes), dedos, vulvas e falos (Morfológicas e A cada doze dias e uma carta), o masculino e o feminino (Tacapes e Tranças) e o magnetismo do desejo (com os ímãs em Tacapes, Lezart e Palíndromo incesto).
A exposição Tunga: o corpo em obras encerra o programa anual de 2017 do MASP em torno das histórias da sexualidade, que incluiu mostras individuais dos artistas Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Miguel Rio Branco, Toulouse-Lautrec, Tracey Moffatt, Guerrilla Girls, Pedro Correia de Araújo e a exposição coletiva Histórias da sexualidade. Nesta ocasião, o MASP agradece muito especialmente ao Acervo Tunga pela doação de uma escultura da série Morfológicas exposta nesta mostra.
A exposição tem curadoria de Isabella Rjeille, assistente curatorial e Tomás Toledo, curador, MASP. A expografia é da Metro Arquitetos Associados.
O sexo é parte integral de nossa vida e, sem ele, sequer existiríamos. Por isso, a sexualidade tem desde sempre ocupado lugar central no imaginário coletivo e na produção artística. A exposição Histórias da sexualidade traz um recorte abrangente e diverso dessas produções. O objetivo é estimular um debate — urgente na atualidade —, cruzando temporalidades, geografias e meios. Episódios recentes ocorridos no Brasil e no mundo trouxeram à tona questões relativas à sexualidade e aos limites entre direitos individuais e liberdade de expressão, por meio de embates públicos, protestos e violentas manifestações nas mídias sociais. O MASP, um museu diverso, inclusivo e plural, tem por missão estabelecer, de maneira crítica e criativa, diálogos entre passado e presente, culturas e territórios, a partir das artes visuais. Esse é o sentido do programa de exposições, seminários, cursos, oficinas e publicações em torno de muitas histórias — histórias da infância, da sexualidade, da loucura, das mulheres, histórias afro-atlânticas, feministas, entre tantas outras.
Concebida em 2015, esta exposição é fruto de longo e intenso trabalhoe foi antecedida por dois seminários internacionais realizados em setembro de 2016 e em maio de 2017. A exposição se insere em uma programação anual do MASP totalmente dedicada às histórias da sexualidade, que em 2017 inclui mostras individuais de Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Miguel Rio Branco, Henri de Toulouse-Lautrec, Tracey Moffatt, Pedro Correia de Araújo, Guerrilla Girls e Tunga. São mais de 300 obras reunidas em nove núcleos temáticos e não cronológicos — Corpos nus, Totemismos, Religiosidades, Performatividades de gênero, Jogos sexuais, Mercados sexuais, Linguagens e Voyeurismos, na galeria do primeiro andar, e Políticas do corpo e Ativismos, na galeria do primeiro subsolo. A mostra inclui também a sala de vídeo no terceiro subsolo, como parte do núcleo Voyeurismos. Algumas obras de artistas centrais de nosso acervo — como Edgard Degas, Maria Auxiliadora da Silva, Pablo Picasso, Paul Gauguin, Suzanne Valadon e Victor Meirelles — são agora expostas em novos contextos, encontrando outras possibilidades de compreensão e leitura. Ao lado delas, uma seleção de trabalhos de diferentes formatos, períodos e territórios compõem histórias verdadeiramente múltiplas, que desafiam hierarquias e fronteiras entre tipologias e categorias de objetos da história da arte mais convencional — da arte pré-colombiana à arte moderna, da chamada arte popular à arte contemporânea, da arte sacra à arte conceitual, incluindo arte africana, asiática, europeia e das Américas, em pinturas, desenhos, esculturas, fotografias, fotocópias, vídeos, documentos, publicações, entre outros.
Nessas histórias, não há verdades absolutas ou definitivas. As fronteiras do que é moralmente aceitável deslocam-se de tempos em tempos. Esculturas clássicas que são ícones da história da arte não poucas vezes tiveram o sexo encoberto. Também os costumes variam entre as culturas e civilizações. Em diversas nações europeias e comunidades indígenas, é natural a nudez exposta em lugares públicos; a poligamia é aceita em alguns países islâmicos; a prostituição é prática legal em alguns estados e condenada em outros; há países onde o aborto é livre mas há outros onde é proibido. Até mesmo o conceito de criança mudou ao longo do tempo, assim como as regras de especificação etária.
O único dado absoluto, do qual não podemos abrir mão, é o respeito ao outro, à diferença e à liberdade artística. Portanto, é preciso reafirmar a necessidade e o espaço para o diálogo e que se criem condições para que todos nós — cada um com suas crenças, práticas, orientações políticas e sexualidades — possa conviver de forma harmoniosa.
A classificação indicativa de Histórias da sexualidade é de 18 anos. Dessa forma, de acordo com a regulamentação vigente, menores de 18 anos poderão visitar a exposição desde que acompanhados dos pais ou responsáveis.
A exposição Histórias da sexualidade tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP; Camila Bechelany, curadora assistente do MASP; Lilia Schwarcz, curadora-adjunta de histórias do MASP; e Pablo León de la Barra, curador-adjunto de arte latino-americana do MASP.
As Guerrilla Girls se definem como um grupo de ativistas feministas que “usam fatos, humor e imagens ultrajantes para expor os preconceitos étnicos e de gênero, bem como a corrupção na política, na arte, no cinema e na cultura pop”. Constituído por ativistas anônimas, e conhecido por usar máscaras de gorila em suas aparições públicas, o grupo foi formado em 1985 em resposta a uma exposição realizada em 1984 no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova York. Com o título International Survey of Recent Painting and Sculpture [Panorama internacional de pinturas e esculturas recentes] e curadoria de Kynaston McShine, essa mostra incluiu 165 artistas, no entanto, apenas treze eram mulheres.
O MASP apresenta uma retrospectiva com 116 trabalhos do grupo, incluindo dois novos cartazes brasileiros, baseados nas obras mais conhecidas das Guerrilla Girls. Esses dois cartazes tratam das dificuldades de ser uma artista em um mundo da arte e uma história da arte dominados pelos homens: As vantagens de ser uma artista mulher (1988/2017), As mulheres precisam estar nuas para entrar no Met. Museum? (1989) e, agora, o recente no MASP? (2017). Este último aborda o contraste entre o pequeno número de artistas mulheres comparado ao grande número de nus femininos da coleção em exibição no Metropolitan Museum de Nova York (5% e 85% em 1989, e 4% e 76% em 2012) e no MASP (6% e 60% em 2017). Embora o MASP apresente números melhores do que os do Met, o resultado seria bem diferente se considerássemos o grande número de nus femininos do modernista brasileiro Pedro Correia de Araújo, em exibição na galeria do segundo subsolo até 18 de novembro.
O discurso que emerge dos cartazes dos últimos 32 anos pode ser enquadrado nos debates sobre as políticas de identidade e sobre o multiculturalismo do final da década de 1980, particularmente nos Estados Unidos. A preocupação com um maior equilíbrio entre mulheres e homens artistas nos cenários da arte moderna e da arte contemporânea se tornou uma constante. Nos museus e na história da arte, muito do interesse renovado nas artistas mulheres, não brancxs ou que trabalham fora do eixo Europa-Estados Unidos ecoa no trabalho das Guerrilla Girls. No Brasil, somos privilegiados por ter uma história da arte dominada por mulheres como as modernistas Tarsila do Amaral e Anita Malfatti e artistas de meados do século 20, como Lygia Clark, Lygia Pape e Mira Schendel, para nomear apenas algumas que têm posição consolidada no cânone da arte. Muito ainda precisa ser feito, particularmente no que se refere a artistas (e curadores) de ascendências africana e ameríndia, bem como de contextos sociais menos privilegiados.
É interessante considerar como o discurso humorado das Guerrilla Girls se articula com questões mais abrangentes e profundas como o eurocentrismo, o privilégio branco, a heteronormatividade e o domínio masculino. Em paralelo às várias e, às vezes, conflitantes ondas de feminismos e políticas LGBT e aos movimentos negro e indígena, ainda é importante trabalhar em direção a uma aliança múltipla, diversa e plural entre as minorias oprimidas pela supremacia branca, masculina, heterossexual e socialmente privilegiada. Não se trata de fundir esses discursos em uma massa única e homogênea, mas de desenvolver uma prática que crie espaços e plataformas para que muitos expressem suas ideias, necessidades, desejos e culturas. Bem como mostrem sua arte.
Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Camila Bechelany, curadora assistente do MASP.
Pedro Correia de Araújo é um artista que se encontra no cruzamento entre dois tempos, geografias, escolas: entre os séculos 19 e 20, entre a França e o Brasil, entre o acadêmico e o moderno. Talvez por essa razão tenha sido marginalizado pela história da arte brasileira, algo que esta exposição procura reverter.
De família pernambucana, nasceu em Paris, onde, a partir dos anos 1910, estudou numa escola alternativa de arte, aprendendo a utilizar a geometria na construção de seus trabalhos, como se pode observar em Pureza (1938), pintura na qual o corpo da mulher se estrutura em volumes circulares, quadrados, triangulares ou hexagonais, deixados intencionalmente à mostra.
Não por acaso, o erotismo de sua obra se manifesta como algo racional, matemático. Não se resume a mera tentativa de expressão pessoal – que o artista desprezava –, mas integra um programa amplo e ambicioso.
Em seus trabalhos, o erotismo evita se ocultar sob uma tentativa de estetização do mundo e dos objetos, não é cenográfico ou decorativo (caso das mulatas típicas de seu contemporâneo Di Cavalcanti (1897-1976), por exemplo), mas integra uma matriz geométrica, essa que estrutura a representação de suas figuras – como provam as linhas horizontais, verticais e diagonais deixadas à mostra em alguns de seus desenhos e pinturas.
A seleção de obras enfoca a sensualidade latente que atravessa sua produção da fase brasileira, de 1929 a 1955, ressaltando, no entanto, a presença do erotismo não apenas nos nus ou na série de desenhos sexualmente mais explícitos, mas também e especialmente nos demais núcleos, formados pelas representações de retratos femininos de caboclas, índias, negras e mulatas, e danças brasileiras, como em Jongo (sem data), seu trabalho mais singular e extraordinário.
Em Mulheres na Lapa (sem data), o vigor do corpo das figuras femininas que estão em primeiro plano é assombrado pela presença iminente da chegada da morte, simbolizada por um esqueleto, que as observa da janela, em segundo plano, à esquerda. A ideia de finitude da vida e do corpo, presente na história da arte, também se revela em Mulata e São Sebastião (sem data) por meio de uma natureza-morta representada no canto inferior esquerdo da tela.
Apesar de suas muitas pinturas de nus e de prostitutas, o artista nunca foi seduzido pela possibilidade do voyeurismo banal, e fez de suas mulheres figuras complexas e repletas de caráter, verdadeiras representações de força e segurança, características que se podem observar em Moça com flor (1937), Mulata e os arcos (1939), Cabocla (sem data) e outras obras apresentadas nesta exposição.
Pedro Correia de Araújo: erótica tem curadoria de Fernando Oliva, curador do MASP.
Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901) foi um dos artistas europeus mais importantes da virada do século 19 para o século 20, momento decisivo para a arte moderna e palco para as transformações políticas, econômicas e sociais que até hoje marcam a vida nas cidades. O MASP apresenta a mais ampla exposição dedicada ao artista no Brasil, abarcando toda a sua produção, desde os primeiros anos, na década de 1880, até o fim de sua vida, e reunindo 75 obras e 50 documentos. Toulouse-Lautrec em vermelho faz alusão ao salão de entrada de uma luxuosa maison close parisiense, que o artista frequentou nos anos 1890 e onde criou uma relação de amizade com as mulheres que ali trabalhavam. Extrapolando os interiores do salão vermelho, a exposição traz uma profusão de personagens — burgueses, boêmios, trabalhadores, dançarinas e artistas que conviviam em Paris e que fizeram parte do círculo afetivo e artístico de Toulouse-Lautrec.
Toulouse-Lautrec em vermelho se divide em cinco núcleos. O primeiro deles apresenta o mundo das maison closes — “casas fechadas”, em francês — e revela o carinho e a simpatia do pintor em relação às mulheres retratadas. As três obras centrais são apresentadas num painel vermelho, evocando o famoso salão de entrada da maison La Fleur Blanche [A Flor Branca], em Paris. O segundo núcleo da exposição reúne outras representações de mulheres — algo a que Toulouse-Lautrec dedicou especial atenção —, reunindo lavadeiras, modelos de ateliê, burguesas e nobres, e assim evidenciando ou questionando seu papel social. O terceiro núcleo da exposição é dedicado a retratos masculinos. Ao contrário do que ocorre nas representações femininas, conhecemos os nomes de todos os homens na pinturas de Toulouse-Lautrec incluídas na exposição, um sintoma eloquente da discriminação entre homens e mulheres e do papel que cada um exerce na sociedade, na história e na cultura visual. Finalmente, o quarto e o quinto núcleos trazem representações da vida noturna, com seus cabarés, bares, restaurantes e casas de espetáculo que proliferaram em Paris depois que a cidade começou a ser iluminada pela luz elétrica. Aqui vemos diversos personagens, como os trabalhadores que à noite frequentavam o Moulin de la Galette e tentavam esquecer a dura jornada de trabalho, a célebre dançarina Jane Avril (1868-1943) ou o debochado dono de cabaré Aristide Bruant (1851-1925), imortalizados em grandes cartazes que anunciavam seus espetáculos e que acabaram por marcar profundamente a paisagem urbana. Toulouse-Lautrec em vermelho apresenta também uma seleção de 50 documentos, entre cartas, bilhetes, telegramas e fotografias do artista e de seu círculo, que constituem uma memória viva daquela época.
Num contexto mais amplo das histórias da sexualidade e das representações de gênero, a exposição de Toulouse-Lautrec dialoga com as mostras de Teresinha Soares, Wanda Pimentel, Miguel Rio Branco e Tracey Moffatt. Num segundo momento, se relacionará com as de Pedro Correia de Araújo em agosto, Guerrilla Girls em setembro e, em outubro, com a coletiva Histórias da sexualidade.
Toulouse-Lautrec em vermelho tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, e Luciano Migliaccio, curador-adjunto de arte europeia, e assistência de Mariana Leme, assistente curatorial, MASP.
No ano dedicado às mostras em torno dos temas da sexualidade e do gênero, o MASP apresenta a primeira exposição panorâmica da artista Teresinha Soares. A mostra reúne um conjunto de mais de sessenta obras — muitas delas inéditas ou que ficaram desaparecidas por décadas —, produzidas entre 1966 e 1973, no auge da carreira da artista. Soares deixou definitivamente de produzir arte em 1976, depois de realizar uma trajetória meteórica. O título Quem tem medo de Teresinha Soares? faz menção ao caráter transgressor, contestatório e antipatriarcal de sua obra. Foi apropriado de um artigo de jornal publicado em 1973 e se refere à peça do dramaturgo inglês Edward Albee (1928-2016) Quem tem medo de Virginia Woolf? (1962). De acordo com Albee, essa frase é uma maneira de perguntar: “Quem tem medo de viver a vida sem falsas ilusões?”. De modo semelhante, pergunta-se aqui: A quem incomodava (e incomoda) a arte de Teresinha Soares e por quê?
A mostra tem um caráter panorâmico e reúne grande parte da produção da artista, entre pinturas, gravuras, cartazes, relevos, objetos, instalações, recriação e documentação de performances e happenings. A representação do corpo feminino é o principal interesse de toda sua obra e assume diversas inflexões: o erotismo, as relações do corpo com os costumes morais, o consumo, a máquina e a política. O sexo emerge como força motriz e libertadora, algo que ganha significados particulares no contexto repressivo da ditadura militar brasileira (1964-85) e revela um movimento contrário às convenções machistas da sociedade e do mundo da arte. A exposição sublinha o pioneirismo da artista no tratamento de temas feministas e de gênero e também sua relação com movimentos artísticos do período, como a arte pop, o nouveau réalisme e a nova objetividade brasileira. No final dos anos 1960 e início da década de 1970, uma série de obras feministas transformou a arte contemporânea questionando e criticando várias de suas premissas, um fenômeno global no qual os trabalhos de Soares devem ser contextualizados.
Simultaneamente à exposição, o MASP edita o primeiro grande catálogo monográfico da artista. Com isso, o Museu cumpre um papel crucial, algo que, de fato, é sua responsabilidade institucional: apresentar ao grande público uma obra que hoje, mais de quarenta anos depois, deve ser reconsiderada e reinscrita na história recente da arte brasileira.
Quem tem medo de Teresinha Soares? tem curadoria de Rodrigo Moura, curador-adjunto de arte brasileira do MASP, e Camila Bechelany, curadora-assistente do MASP. O escritório de arquitetura METRO Arquitetos Associados assina a expografia da mostra.
Ndedicado às mostras em torno dos temas da sexualidade e do gênero, o MASP apresenta a primeira exposição panorâmica da artista Teresinha Soares. A mostra reúne um conjunto de mais de sessenta obras — muitas delas inéditas ou que ficaram desaparecidas por décadas —, produzidas entre 1966 e 1973, no auge da carreira da artista. Soares deixou definitivamente de produzir arte em 1976, depois de realizar uma trajetória meteórica. O título Quem tem medo de Teresinha Soares? faz menção ao caráter transgressor, contestatório e antipatriarcal de sua obra. Foi apropriado de um artigo de jornal publicado em 1973 e se refere à peça do dramaturgo inglês Edward Albee (1928-2016) Quem tem medo de Virginia Woolf? (1962). De acordo com Albee, essa frase é uma maneira de perguntar: “Quem tem medo de viver a vida sem falsas ilusões?”. De modo semelhante, pergunta-se aqui: A quem incomodava (e incomoda) a arte de Teresinha Soares e por quê?Quem tem medo de Teresinha Soares tem curadoria de Camila Bechelany, curadora assistente e Rodrigo Moura, curador adjunto de arte brasileira.
Pierre-Auguste Renoir, A banhista e o cão griffon, 1870
Victor Meirelles, Moema, 1866
Guerrilla Girls, As mulheres precisam estar nuas para entrar no MASP?, 2017
Pierre-Auguste Renoir, A banhista e o cão griffon, 1870
Victor Meirelles, Moema, 1866
Guerrilla Girls, As mulheres precisam estar nuas para entrar no MASP?, 2017
Para a edição do dia 9 de maio, o MASP propõe uma conversa sobre as obras As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?, das Guerrilla Girls, e Elementos de beleza: um jogo de chá nunca é apenas um jogo de chá, de Carla Zaccagnini.
Ponto de encontro: na entrada do Acervo em Transformação, 2º piso, às 16h.
Retire seu ingresso no site para garantir a entrada no Museu.
Imagem: Guerrilla Girls, As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte de São Paulo?, 2017. Acervo MASP. Doação das artistas, 2017. Foto: Guerrilla Girls.