Tarsila do Amaral (Capivari, SP, 1886-São Paulo, 1973) é uma das maiores artistas brasileiras do século 20 e figura central do modernismo. Esta é a mais ampla exposição já dedicada à artista, reunindo 92 obras a partir de novas perspectivas, leituras e contextualizações.
Esta exposição apresenta uma seleção de 25 obras de 17 artistas cedidas no comodato MASP B3 — BRASIL, BOLSA, BALCÃO, em homenagem aos ex-conselheiros da BM&F e BOVESPA, por um período de trinta anos. O conjunto completo, que inclui 66 obras de 28 artistas, antes pertencia às coleções das antigas BM&F e BOVESPA, e esteve em seus escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo antes de chegar ao MASP. Trata-se de um gesto de grande generosidade da B3, que com esse comodato permite ao MASP dividir com seus visitantes obras que abarcam um período de cerca de cem anos de arte brasileira.
Esta exposição reúne 74 pinturas realizadas entre as décadas de 1950 e 1990, incluindo cinco telas recentemente doadas ao acervo do MASP, fazendo com que, pela primeira vez, a obra de Agostinho Batista de Freitas (1927--1997) esteja presente na coleção do Museu, corrigindo uma lacuna histórica.
Esta exposição reúne 74 pinturas realizadas entre as décadas de 1950 e 1990, incluindo cinco telas recentemente doadas ao acervo do MASP, fazendo com que, pela primeira vez, a obra de Agostinho Batista de Freitas (1927--1997) esteja presente na coleção do Museu, corrigindo uma lacuna histórica.
O foco aqui são as representações de São Paulo, assunto de que Batista de Freitas se ocupou durante toda a sua trajetória. Nesse caso não se trata apenas de uma extraordinária quantidade de pinturas sobre a cidade, algo singular para São Paulo, mas da qualidade e da variedade desses trabalhos, diversi cados e surpreendentes em suas composições, coloridos, pontos de vista e enquadramentos.
Nesta mostra a relação de Batista de Freitas com a cidade se faz presente mediante diversos agrupamentos de obras, organizados em leiras, que vão desde a representação do edifício do Museu, na avenida Paulista, até as vistas aéreas do centro de São Paulo, passando por cenas do cotidiano na Zona Norte, onde o artista vivia, e situações coletivas de diferentes naturezas, que incluem as viagens, as festas, os divertimentos e as manifestações religiosas.
Instalada na arquitetura franca e direta de Lina Bo Bardi (1914-1992), com suas transparências e aberturas para a paisagem urbana, a obra de Batista de Freitas convida a uma visão ativa sobre São Paulo, com suas complexas dinâmicas urbanas, histórias e diferenças sociais.
Agostinho Batista de Freitas, São Paulo faz parte de um importante eixo da direção artística do MASP, que pretende questionar os conceitos de arte erudita e popular, dedicando mostras a artistas autodidatas, frequentemente de origem humilde ou reclusos, operando fora dos circuitos tradicionais do sistema da arte.
Essas estratégias hoje comportam ainda a reencenação de A mão do povo brasileiro, uma das mais célebres e polêmicas exposições organizadas pelo Museu, e a realização de mostras que privilegiam a leitura de temas populares no modernismo brasileiro, como Portinari popular. A ideia é construir um museu aberto, múltiplo e plural, que seja permeável a diversas culturas.
As histórias de Batista de Freitas e do MASP se misturam. O diretor fundador do MASP, Pietro Maria Bardi (1900-1999), introduziu o trabalho do artista no circuito de arte ao realizar sua primeira individual, em 1952. Ele tinha apenas 25 anos de idade, morava no bairro do Imirim, na Zona Norte de São Paulo, pintava e mostrava suas obras nas ruas do centro de São Paulo, onde Bardi o conheceu.
Parte fundamental deste projeto é a publicação de um extenso catálogo, com reproduções de todas as obras em exibição, documentos raros e fotogra as de época, além de seis ensaios inéditos dos curadores e de críticos especialmente convidados a produzir novas re exões sobre um artista até então marginalizado pela história da arte oficial.
FERNANDO OLIVA, CURADOR, MASP
RODRIGO MOURA, CURADOR ADJUNTO DE ARTE BRASILEIRA, MASP
A arte dos pobres apavora os generais
Bruno Zevi, L’ Espresso, Roma, 14.3.1965
A mão do povo brasileiro foi a mostra temporária inaugural do MASP na avenida Paulista em 1969, apresentando um vasto panorama da rica cultura material do Brasil — cerca de mil objetos, incluindo carrancas, ex-votos, tecidos, roupas, móveis, ferramentas, utensílios, maquinários, instrumentos musicais, adornos, brinquedos, objetos religiosos, pinturas e esculturas. A mostra, concebida por Lina Bo Bardi com o diretor do museu, Pietro Maria Bardi, o cineasta Glauber Rocha e o diretor de teatro Martim Gonçalves, era um desdobramento de outras mostras organizadas pela arquiteta do MASP em São Paulo (1959), Salvador (1963) e Roma (1965), onde foi fechada por ordem do governo militar brasileiro, suscitando o artigo do arquiteto Bruno Zevi intitulado “L’arte dei poveri fa paura ai generali”.
Ao valorizar uma produção frequentemente marginalizada pelo museu e pela história da arte, o MASP, conhecido por sua coleção de obras-primas europeias, realiza um gesto radical de descolonização. Descolonizar o museu significava repensá-lo a partir de uma perspectiva de baixo para cima, apresentando a arte como trabalho. Nesse sentido, tanto uma pintura de Candido Portinari quanto uma enxada são consideradas um trabalho — uma noção que supera as distinções entre arte, artefato e artesanato.
Em sua nova fase, o MASP busca restabelecer e aprofundar sua relação com essa produção, tomando como ponto de partida a reencenação de uma de suas exposições mais icônicas. A mão do povo brasileiro se insere em um histórico de muitas outras exposições no MASP (inclusive a pioneira Arte popular pernambucana, em 1949). Aqui, ela é tomada como um objeto de estudo e um precedente exemplar da prática museológica descolonizadora. É, sobretudo, uma oportunidade para expor ao público um pouco dessa produção, para estimular a reflexão e o debate sobre seu estatuto e context no museu e na história da arte, e as contestadas noções de “arte popular” e “cultura popular”. A questão central da mostra (e possivelmente subversiva aos olhos dos generais do gosto) é: de que maneira podem ser reconstruídas, relembradas e reconfiguradas as histórias sobre a arte e a cultura no Brasil, para além dos modos, gostos e ofícios das classes dominantes?
Uma reconstrução perfeita de A mão do povo brasileiro é impossível, e optamos por seguir o espírito da curadoria original com alguns ajustes. Não encontramos uma lista de obras completa, mas listagens de colecionadores e museus, que novamente procuramos, recolhendo trabalhos similares e respeitando as tipologias de objetos. A arquitetura da exposição segue a de 1969, também com adaptações. Optamos por não atualizar a mostra—e os objetos reunidos foram feitos, até onde sabemos, antes de 1970—mas articulamos diálogos em torno do trabalho e do popular com mostras de artistas de diferentes gerações: Candido Portinari, Jonathas de Andrade, Lygia Pape e Thiago Honório. Interessa-nos aqui compreender o significado desse momento histórico e inaugural do museu, para encontrar novos rumos e reforçar a presença da mão do povo no MASP.
Além da exposição A mão do povo brasileiro 1969/2016, o MASP conta com programações relacionadas ao tema da mostra. Confira abaixo:
Filmes: A mão do povo brasileiro
MASP Oficinas A mão do povo brasileiro
No dia 1 de setembro (quinta-feira), o MASP inaugura a exposição A mão do povo brasileiro, 1969/2016, que recupera as principais ideias da mostra homônima concebida e organizada por Lina Bo Bardi para a inauguração ao público do edifício do MASP na avenida Paulista, em abril de 1969. Na ocasião, A mão do povo brasileiro exibiu cerca de mil objetos que evidenciavam a rica cultura material do Brasil, desde as regiões do sertão do nordeste até o sul do país. Na nova configuração, no entanto, não se pretende realizar uma reconstituição, tampouco uma atualização com objetos recentes, mas sim uma reencenação, com, aproximadamente, o mesmo número de objetos, datados antes de 1969 e classificados em tipologias similares às da exposição de Bo Bardi.
Com a colaboração do cineasta Glauber Rocha e do diretor de teatro Martim Gonçalves, Bo Bardi reuniu, no fim da década de 1960, uma miríade de objetos trazidos do Museu de Arte da Universidade do Ceará, do Museu do Estado da Bahia, do Museu de Artes e Técnicas Populares de São Paulo e de colecionadores particulares. Eram carrancas, ex-votos, santos, tecidos, peças de vestuário, mobiliário, ferramentas, utensílios de cozinha, instrumentos musicais, adornos, brinquedos, figuras religiosas, bem como pinturas e esculturas, expostos em grupos afins, no 1º andar do museu.
A mão do povo brasileiro, 1969/2016 está organizada a partir das mesmas tipologias, com objetos dispostos de forma parecida, em conjuntos análogos. Das mil peças apresentadas, no entanto, apenas 55 integraram a exposição original de Bo Bardi e são novamente exibidas. Entre elas, estão: São Jorge articulado, Bom Jesus de Iguape, Senhor Morto (Cristo Articulado) e Nossa Senhora das Dores de vestir. O restante dos objetos são inéditos, entre os quais destacam-se recipientes de cerâmica, moendas, cestos de palha, joias de escrava, adereços indígenas, ferramentas de orixás, colheres de pau, bonecas de pano, prensas, cadeiras, arcas, boi de bumba-meu-boi, alambique, máscaras de carnaval, matrizes de xilogravura, colchas de retalho e santas de vestir.
A exposição apresenta ainda esculturas e pinturas de artistas autodidatas, que trabalharam à margem do circuito tradicional das artes, tais como Agnaldo dos Santos, Agostinho Batista de Freitas, Aurelino dos Santos, Cardosinho, Emídio de Souza, José Antônio da Silva, Madalena dos Santos Reinbolt, Manezinho Araújo, Mestre Vitalino, Mudinho, Rafael Borges de Oliveira e Zé Caboclo.
As peças atuais advém de diversos estados do Brasil, das seguintes instituições: Museu da Cidade de São Paulo; Museu Afro Brasil, São Paulo; Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, São Paulo; Museu do Ingá, Rio de Janeiro; Museu do Homem do Nordeste, Recife; Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB); Centro Cultural São Paulo; Centro de Arte Popular – CEMIG, Belo Horizonte; Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (MAE); Museu de Arte Sacra de São Paulo; Museu Castro Maya, Rio de Janeiro; Museu de Artes e Ofícios, Belo Horizonte.
Nesta nova apresentação, A mão do povo brasileiro, 1969/2016 torna-se um objeto de estudo para o museu dissecar não só as questões em jogo na concepção da mostra originária, mas também as implicações de uma prática museológica inclusiva e descolonizada, proposta por Bo Bardi na década de 1960. A mostra integrou um projeto da arquiteta que procurou inscrever arte e cultura popular no domínio do museu de arte. Bo Bardi trazia referências de duas experiências expositivas anteriores, dedicadas à cultura do Nordeste: Bahia no Ibirapuera, realizada em São Paulo, em 1959, e Nordeste, mostra inaugural do Museu de Arte Popular do Unhão, em Salvador, em 1963. No MASP, por meio do acúmulo de objetos, dispostos em uma expografia – replicada nessa nova configuração – que remetia às feiras populares do nordeste e ocupava tanto as paredes quanto o chão da galeria sobre caixas rústicas e tábuas de madeira, Bo Bardi defendia a dessacralização dos objetos de arte. Ou seja, ela entendia que objetos de arte e objetos utilitários eram igualmente frutos do trabalho do homem, ambos dignos de atenção e valor.
Assim, para inaugurar o novo prédio do MASP, Bo Bardi contrapôs pinturas e esculturas a objetos da cultura popular. Enquanto o 1º andar apresentava A mão do povo brasileiro, a pinacoteca do acervo permanente, no 2º andar, exibia a famosa coleção de arte europeia em cavaletes de vidro, por si só um projeto radical, que também permitia aproximações com obras brasileiras e latino-americanas raramente realizadas em outras instituições.
Em A mão do povo brasileiro, 1969/2016, o MASP procura, do mesmo modo, expor tais fricções, porém em um contexto atualizado. Concomitante à A mão do povo brasileiro, 1969/2016, que ocupa o 1º andar do museu, estão expostas Portinari popular, no 2º subsolo, Trabalho – Thiago Honório e Convocatória para um mobiliário brasileiro, de Jonathas de Andrade, no 1º subsolo. A primeira apresenta um novo olhar sobre a produção de Candido Portinari (1903-1962), ao propor uma revisão que se opõe a leituras que privilegiam a compreensão de sua obra desde um ponto de vista formal e sempre em comparação com a pintura modernista europeia. As outras duas acenam ao contemporâneo, com projetos que também incorporam objetos vernaculares e da cultura popular, como ferramentas de trabalhadores da construção civil e mobiliário, respectivamente. Além disso, todas elas apresentam novas oportunidades para o museu explorar outras concepções da história da arte, oferecendo narrativas múltiplas, diversas e plurais, resistentes aos discursos hegemônicos de tradições histórico-artísticos dominantes e eurocêntricos.
A mão do povo brasileiro, 1969/2016 pode ser vista no MASP de 2.9.2016 a 29.1.2017. A exposição tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico do MASP; Julieta González, curadora adjunta de arte moderna e contemporânea do MASP; e Tomás Toledo, curador do MASP.
MOSTRA DE FILMES
Em parceria com a Cinemateca Brasileira, o MASP organiza uma mostra de filmes a fim de contextualizar a exposição na complexa paisagem cultural dos anos 1960, e suas revoltas sociais e políticas. São títulos produzidos sobretudo entre as décadas de 1950 e 1970, que aprofundam reflexões propostas em A mão do povo brasileiro, 1969/2016, tais como cultura e saber populares, religião, trabalho e identidade nacional. As exibições acontecem em dois espaços: no 2º subsolo, em uma nova sala de vídeo, e no pequeno auditório do museu.
Na sala do 2º subsolo, é exibida, durante todo o período da exposição, uma seleção mais enxuta de curtas-metragens -- oito no total -- de Lygia Pape, Leon Hirszman, Humberto Mauro, Thomas Farkas, Paulo Gil Soares, Sérgio Muniz e Geraldo Sarno. As sessões no pequeno auditório são gratuitas e acontecem de 17 de setembro a 27 de novembro. A programação, mais extensa, apresenta mais de 60 curtas e longas-metragens, aos sábados e domingos, às 16h.
CATÁLOGO
À ocasião da exposição, o MASP publica o catálogo A mão do povo brasileiro, 1969/2016, com fotos históricas, documentos, reedições de textos de Lina Bo e Pietro Maria Bardi, além de fotos atualizadas da nova montagem. O catálogo contará com textos dos curadores e ensaios especialmente encomendados para a publicação, escritos por Antonio Risério, Ticio Escobar, Durval Muniz, Silvana Rubino, Ricardo Gomes Lima e Guacira Waldeck. O lançamento está previsto para o final de outubro de 2016.
Candido Portinari (1903-1962) é um dos mais importantes e polêmicos artistas brasileiros, e sua obra mantém uma longa relação com o MASP, que possui 18 trabalhos do pintor. Portinari popular é a 12ª exposição organizada pelo Museu desde 1948, e não pretende dar conta da totalidade da obra, mas faz um recorte específico. O título da mostra é indicativo e tem múltiplos significados: a popularidade de Portinari — sua tela Retirantes (1944) é a obra de nosso acervo mais postada nas mídias sociais — e a origem, temática, iconografia e dicção populares do artista nos interessam aqui.
O foco é nas pinturas com temas, narrativas e figuras populares — trabalhadores em suas diversas atividades (lavradores de café e de outras culturas, lavadeiras, músicos, garimpeiros), personagens e tipos populares (o cangaceiro, o retirante, a baiana, a índia Carajá) e não europeus (negros, mulatos, índios). Os personagens aparecem em diferentes contextos geográficos e sociais (em Brodowski, a cidade natal do pintor no interior paulista, em paisagens empobrecidas, ou nas favelas do Rio de Janeiro) em brincadeiras ou jogos, na música, no circo, ou em festas populares, mas também na dor — na miséria, na morte. Portinari pintou centenas de retratos da elite brasileira, não incluídos aqui, com uma exceção: Mário de Andrade (1893?1945), importante interlocutor do artista, primeiro grande intérprete de sua obra, e pioneiro no estudo e na valorização da cultura popular brasileira.
A exposição reúne diferentes representações de temas populares que são recorrentes na obra de Portinari ao longo das décadas, o que confirma seu compromisso, engajamento e sua determinação com eles. Vale lembrar que o próprio artista é filho de imigrantes italianos que trabalharam na colheita do café. Assim, muitas das imagens que Portinari pinta ao longo de sua trajetória são cenas de sua própria vivência. Esse extraordinário conjunto constrói um amplo, profundo e sensível panorama da história visual brasileira, para além dos modos, gostos e ofícios das classes dominantes.
A expografia é baseada numa concepção de Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta do edifício do Museu, para Cem obras-primas de Portinari, realizada no MASP em 1970. Portinari popular inicia um programa de revisão da produção de alguns artistas do modernismo brasileiro, como Tarsila do Amaral (1886-1973) e Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), a partir de conteúdos e narrativas relacionados a elementos da cultura popular brasileira, que abarcam discussões sobre raça, realidade social e identidade cultural do país. O interesse do MASP na cultura popular não é novo, e esta exposição dialoga com a reencenação de A mão do povo brasileiro, a partir de 1o de setembro na galeria do primeiro andar do Museu.
Por que Portinari popular hoje? Ainda padecemos de uma representação precária e preconceituosa dos sujeitos e das culturas africanas, indígenas e populares na mídia, na política, na sociedade e também na arte. É preciso aprofundar a reflexão sobre essas estratégias de representação, algo que a obra do artista antecipa, daí sua urgência e relevância.
Portinari popular tem curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, Camila Bechelany, curadora assistente e Rodrigo Moura, curador adjunto de arte brasileira
Trabalho (2013/16) surge a partir de um jogo de relações - profissionais, pessoais e afetivas - entre Thiago Honório e um grupo de trabalhadores da construção civil. O artista negociou com pedreiros e mestres de obras a troca ou doação de seus instrumentos ou suas ferramentas de trabalho, que agora compõem esta instalação. São pás, talhadeiras, escadas, picaretas, enxadas, marretas, desempoladeiras, serrotes, foices roçadeiras, rolos, pincéis, espátulas, entre outros, que foram utilizados no restauro de uma antiga estação de fornecimento de energia da empresa Light, um edifício da década de 1920 na praça da Bandeira, centro de São Paulo, transformado no centro cultural Red Bull Station.
Iniciado no âmbito de uma residência artística, o trabalho de Thiago Honório embaralha os lugares e sentidos da arte: transitando pelas mãos dos operários, na operação de deslocamento promovida pelo artista, no restauro realizado com as ferramentas, e por fim na arquitetura do espaço onde ele agora está instalado. Do ponto de vista ético, o artista compreendeu que o recebimento do que chama “dádivas”, por parte dos trabalhadores, só poderia resultar numa doação de Trabalho a um museu, e é assim que ele chega ao MASP. A aparência áspera, bruta, fria dos instrumentos-elementos de Trabalho contrasta com a percepção tradicional das “belas-artes”, mas também está alinhada com as próprias características da arquitetura brutalista, sem revestimentos ou acabamentos luxuosos, do edifício do museu (ela também em contraste com a arquitetura refinada dos museus de belas-artes tradicionais).
Há uma complexa operação metalinguística em curso — as ferramentas dos trabalhadores remetem às do escultor, porém aqui elas mesmas se tornam esculturas. Por outro lado, ferramentas expostas de maneira ereta assumem uma verticalidade antropomórfica (remetendo à forma do corpo humano), que acaba por representar, de maneira metonímica, os próprios trabalhadores que um dia as possuíram. Estamos portanto diante de uma fileira de retratos de trabalhadores, o que se torna particularmente relevante se lembrarmos que o Vão Livre do MASP foi tantas vezes local de manifestações e reivindicações trabalhistas de toda ordem.
A presença do trabalho de Thiago Honório vai ao encontro de preocupações atuais do programa do museu, no que se refere à revisão crítica não só de artistas, mas de técnicas, linguagens e modos de produção que foram deixados de lado, eclipsados pelas narrativas hegemônicas da história da arte, frequentemente por não estarem associados aos modos, gostos, ofícios e estilos das classes dominantes. Essas questões estão claramente presentes na reencenação de A mão do povo brasileiro - a histórica exposição de Lina Bo Bardi de 1969, que ocupará o primeiro andar do museu a partir de 1º de setembro de 2016. No lugar de arte ou de artefato, Lina propunha justamente a noção de trabalho para dar conta tanto de uma pintura de Candido Portinari, quanto de uma ferramenta, ambas afinal produtos de um trabalho humano, daí a pertinência deste Trabalho.
FERNANDO OLIVA, curador, e ADRIANO PEDROSA, diretor artístico do MASP
Imagem: Thiago Honório, Trabalho, 2013/2016, ferramentas [pá, desempoladeira, ponteira, serra, escova de aço, escada, nível de bolha, gambiarra, cavador articulado, colher de pedreiro, talhadeira, arco de serra, picareta, chave de dobrar ferro, sarrafo, desempenadeira, marreta, alavanca, calçadeira, enxada, cavadeira, foice roçadeira, martelo, disco de serra, régua, prumo, cabo, prolongador extensível, balde, esquadro, broxa, caixa de massa, pedaço de martelo, estilete, chave de fenda, espátula plástica, recipiente plástico, frasco pulverizador, rolo de lã, rolo de espuma, garfo para rolo, espátula, pincel, pulverizador, trena, serrote, tripé] utilizadas na restauração da antiga subestação da antiga Light/Riachuelo/AES Eletropaulo, negociadas com e doadas pelos mestres-de-obras e pedreiros envolvidos nesse restauro; dimensões variáveis, doação do artista, 2016, foto Edouard Fraipont
“Cada criança é uma lei em si mesma” —Mario Pedrosa
Histórias da infância reúne múltiplas e diversas representações da infância de diferentes períodos, territórios e escolas, da arte africana e asiática à brasileira, cusquenha e europeia, incluindo arte sacra, barroca, acadêmica, moderna, contemporânea, e a chamada arte popular, bem como desenhos feitos por crianças.
A exposição se insere num projeto do MASP de friccionar diferentes acervos,desrespeitando hierarquias e territórios entre eles. Nesse sentido, Histórias da infância são também histórias descolonizadoras e assumem um sentido político — há um entendimento de que as histórias que podemos contar não são apenas aquelas das classes dominantes ou da cultura europeia e suas convenções visuais. Assim, Histórias da infância integra um programa mais amplo de exposições sobre diferentes histórias (múltiplas, diversas e plurais), para além das narrativas tradicionais — Histórias da loucura e Histórias feministas(iniciadas em 2015), Histórias da sexualidade (em 2017) e Histórias da escravidão (em 2018). São outras histórias, que incluem grupos, vozes e imagens que foram reprimidas ou marginalizadas, nas quais se inserem as crianças e sua maneira de ver o mundo. Aqui, não por acaso, a altura média das obras expostas foi rebaixada em até 30 cm em relação à convenção do eixo de visão do espectador nos museus, buscando uma relação mais próxima do olhar e do corpo da criança.
Histórias da infância se organiza em torno de núcleos temáticos permeáveis.
No primeiro subsolo, surgem os temas da natividade e maternidade; no primeiro andar, há retratos, representações de família, imagens de educação e de brincadeiras, crianças artistas, crianças anjos e, por fim, a morte. Obras icônicas do MASP — como O escolar, de Van Gogh, Rosa e azul, de Renoir, Retrato de AugusteGabriel Godefroy, de Chardin, eCriança morta, de Portinari — aparecem em novos contextos, transversais e contemporâneos, em justaposição a trabalhos de todas as épocas. A expografia com painéis suspensos, que não formam salas fechadas, permite uma articulação entre os diversos núcleos e trabalhos. A exposição dialoga com Playgrounds 2016, no segundo subsolo e Vão Livre, mediante o jogo, o lúdico e a brincadeira, e com um programa de oficinas de desenho, iniciado em janeiro de 2016 e que se estende até o final da exposição. Durante o processo curatorial, foi desenvolvido também um projeto de mediação experimental elaborando histórias sobre algumas obras do acervo do museu contadas por crianças da Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima e do Colégio São Domingos, com vistas a um futuro audioguia da coleção (os áudios estão disponíveis em bit.ly/maspmuseu). Desse modo, a mostra reconhece e inclui as histórias das próprias crianças: em pé de igualdade com os demais trabalhos, serão expostos desenhos feitos por elas nos anos 1970, anos 2000 e mais recentemente em 2016, todos do acervo do museu. Há muito o que aprender com esses desenhos, essas trocas e essas histórias.
Curadoria: Adriano Pedrosa, Fernando Oliva e Lilia Schwarcz
ARTE DO BRASIL NO SÉCULO 20
Arte do Brasil no século 20 apresenta uma seleção de obras da coleção do MASP, em diálogo inédito com documentos do arquivo histórico e fotográfico do museu. O recorte não pretende construir uma história abrangente da arte do século 20. Ao contrário, o conjunto é fragmentado, e, se há uma história que ele revela, é a do próprio museu e de seu acervo. Ao lado das obras, são expostos documentos referentes a elas, como correspondências, fotografias, folhetos, catálogos e textos diversos. Ao trazê-los a público, é possível conectar cada trabalho com os contextos sociais e políticos em que foram produzidos, exibidos e adquiridos. Nesse sentido, tanto Arte do Brasil no século 20 como a exposição que a complementa, Arte do Brasil até 1900, no segundo subsolo, são uma oportunidade para compreender o acervo de arte brasileira do MASP – seu passado e suas possibilidades futuras.
As obras estão ordenadas cronologicamente por sua datação, com agrupamentos de trabalhos do mesmo autor. Com isso, abandona-se a perspectiva tradicional da história da arte, com seus movimentos, gerações e períodos, sua ideia de progresso e linearidade.
O acervo do MASP revela o grande ímpeto dos primeiros dez anos de aquisições (1947-57), que resultou num extraordinário conjunto de obras de pintores modernistas, como Anita Malfatti, Candido Portinari, Di Cavalcanti, Flávio de Carvalho, Lasar Segall e Vicente do Rego Monteiro. Já nas décadas seguintes, o museu passa a fazer aquisições mais pontuais.
Há uma forte presença da arte figurativa, em oposição ao abstracionismo. Nas décadas de 1940 e 1950, a abstração era promovida pelo empresário norte-americano Nelson Rockefeller (1908-1979) e pelo Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York no contexto da “política de boa vizinhança” dos Estados Unidos com o Brasil. O foco na figuração é reflexo do próprio interesse de Pietro Maria Bardi (1900-1999), diretor do MASP desde sua fundação até 1990. Por trás desse interesse estava uma suspeita de que, numa abordagem mais formalista, a arte abstrata resultaria numa despolitização da arte.
Ao longo dos anos, o MASP expôs e adquiriu obras de artistas visionários e autodidatas que operavam fora do circuito ortodoxo da arte moderna e contemporânea e da Academia, algo que interessava particularmente Lina Bo Bardi (1914-1992), arquiteta responsável pelo projeto do MASP. Esse é o caso de Agostinho Batista de Freitas, José Antônio da Silva, Hélio Mello, Maria Auxiliadora e Rafael Borjes de Oliveira. São artistas que retrataram histórias, paisagens, costumes e culturas do povo brasileiro, muitas vezes marginalizados pela elite e burguesia locais.
A partir de 1991, com a criação da Coleção Pirelli MASP de Fotografia, o museu consegue acompanhar a produção de fotografia no Brasil, trazendo para o acervo mais de 1200 obras. Aqui é apresentada uma pequena seleção, com obras de Arthur Omar, Cláudia Andujar, George Leary Love, Geraldo de Barros, German Lorca, Marcel Gautherot e Thomas Farkas.
A expografia de Arte do Brasil no século 20, com painéis suspensos, é inspirada no projeto da antiga sede do MASP de Lina Bo Bardi, na rua 7 de Abril, na década de 1950. Ela antecipa o retorno da radical expografia dos cavaletes de vidro de Bo Bardi, inaugurada em 1968 no MASP da avenida Paulista. A retomada dos cavaletes na coleção permanente do museu está prevista para o segundo semestre deste ano. Como suportes transparentes no lugar de paredes, eles criam um espaço único no qual convivem diferentes obras, artistas, estilos e escolas, além do próprio visitante, rompendo com uma narrativa convencional da arte e permitindo que novas histórias venham à tona.
Esta exposição é complementada por Arte do Brasil até 1900, apresentada no segundo subsolo do MASP.
Curadoria de Adriano Pedrosa, diretor artístico, Fernando Oliva, curador assistente, e Luiza Proença, curadora assistente.
Apresentação pelo curador, Teixeira Coelho:
As obras aqui expostas põem em evidência os motivos pelos quais Portinari foi considerado um dos pintores brasileiros por excelência da primeira metade do século XX.
A série Bíblica foi executada entre 1942 e 1944 para a sede da Rádio Tupi de São Paulo a pedido de Assis Chateaubriand. São oito telas de grandes dimensões que ilustram passagens do Velho e do Novo Testamento.
A marca de Guernica - feita por Picasso em 1937 em reação à destruição daquela cidade basca pela aviação alemã com a cumplicidade da própria ditadura espanhola à época, encabeçada por Franco - é evidente e nunca foi negada por Portinari. Ele de fato quis pintar como Picasso naquela tela, por ele vista em Nova York por ocasião de sua estada em Washington com a finalidade de realizar painéis para a Biblioteca do Congresso. Guernica, hoje no Reina Sofia de Madrid, causou forte impacto sobre Portinari e o levou a adotar e adaptar o estilo do colega espanhol.
A série seguinte, Retirantes, foi produzida entre 1944 e 1945. Das cinco pinturas iniciais, o MASP tem estas três – que deixam de lado o estilo da série anterior em busca de outra linguagem, mais próxima da adotada pelos muralistas expressionistas mexicanos Orozco e Siqueiros.
Mostradas em conjunto, estas onze peças são um exemplo singular da arte pública engajada que, à época, se identificava com a vanguarda política e estética.
Serviço Educativo:
Como para as demais exposições temporárias e mostras de obras do acervo realizadas pelo MASP, Portinari tem um programa educativo elaborado especialmente para atender aos visitantes, professores e alunos de escolas públicas e privadas. As visitas orientadas são realizadas por uma equipe de profissionais especializados. Informações: 3251.5644, ramal 2112.
O título da mostra inspira-se em uma citação de Walter Benjamin em seu ensaio Paris, capital do século XIX. Nele aparece a célebre menção às passagens, galerias comerciais levando de uma rua a outra, cheias de lojas atraentes, cenário singular da vida moderna, parte do mito da Cidade Luz. Os artistas aqui incluídos viveram, produziram, passaram por Paris, cidade criativa antes mesmo que o termo existisse. A exposição interage com A arte do detalhe (e depois, nada), em cartaz desde o inicio de novembro, igualmente patrocinada pelo Banco BTG Pactual.
Nos anos 1920, a expressão Escola de Paris veio a designar a arte imediatamente anterior e aquela logo posterior feita nessa cidade, farol do mundo cultural até que se impusesse outra “Escola”, a de Nova York, com uma arte abstrata em tudo oposta à de Paris que, porém, continuou a fascinar. Àquela época Paris era considerada a capital do mundo e sua força criativa e inspiradora atraía (e ainda hoje atraem) artistas de todas as partes. Suas passagens, galerias comerciais levando de uma rua a outra, cheias de lojas atraentes e cenário singular da vida moderna, eram parte do mito da Cidade Luz.
Passagens por Paris propõe um passeio pela arte moderna, com obras feitas entre 1866 e 1948 por artistas icônicos do período: Manet, Degas, Cézanne, Gauguin, Van Gogh, Matisse, Renoir, Toulouse-Lautrec, Picasso, Modigliani, Portinari, Rego Monteiro... Todos os aqui incluídos viveram, produziram, passaram por Paris. A exposição dá aos visitantes a oportunidade de apreciar algumas das obras mais representativas desse período.
As séries serão mostradas em sala especialmente desenhada, o que permite extrair todo o potencial formal e humano das obras. O conjunto abrange o período em que a denúncia social marcou a pintura de Candido Portinari, que reflete a situação brasileira a reboque das calamidades da guerra, que sensibilizaram tantos pintores europeus.
Apresentação pelo curador, Teixeira Coelho:
As obras aqui expostas põem em evidência os motivos pelos quais Portinari foi considerado um dos pintores brasileiros por excelência da primeira metade do século XX.
A série Bíblica foi executada entre 1942 e 1944 para a sede da Rádio Tupi de São Paulo a pedido de Assis Chateaubriand. São oito telas de grandes dimensões que ilustram passagens do Velho e do Novo Testamento.
A marca de Guernica - feita por Picasso em 1937 em reação à destruição daquela cidade basca pela aviação alemã com a cumplicidade da própria ditadura espanhola à época, encabeçada por Franco - é evidente e nunca foi negada por Portinari. Ele de fato quis pintar como Picasso naquela tela, por ele vista em Nova York por ocasião de sua estada em Washington com a finalidade de realizar painéis para a Biblioteca do Congresso. Guernica, hoje no Reina Sofia de Madrid, causou forte impacto sobre Portinari e o levou a adotar e adaptar o estilo do colega espanhol.
A série seguinte, Retirantes, foi produzida entre 1944 e 1945. Das cinco pinturas iniciais, o MASP tem estas três – que deixam de lado o estilo da série anterior em busca de outra linguagem, mais próxima da adotada pelos muralistas expressionistas mexicanos Orozco e Siqueiros.
Mostradas em conjunto, estas onze peças são um exemplo singular da arte pública engajada que, à época, se identificava com a vanguarda política e estética.
Serviço Educativo
Como para as demais exposições temporárias e mostras de obras do acervo realizadas pelo MASP, Portinari tem um programa educativo elaborado especialmente para atender aos visitantes, professores e alunos de escolas públicas e privadas. As visitas orientadas são realizadas por uma equipe de profissionais especializados. Informações: 3251.5644, ramal 2112.
Unidos pela origem e destino - começaram suas carreiras pintando as ruas de São Paulo, fazendo graffiti e outras intervenções urbanas, e hoje apresentam seus trabalhos em galerias e museus nacionais e internacionais - um grupo de seis artistas contemporâneos acaba de ser convidado pelo MASP para apresentar, no Museu, suas trajetórias de quase duas décadas de produção artística.
Com seis grandes murais especialmente concebidos e realizados para a mostra do MASP e que serão apagados no final da exposição, Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff, Titi Freak e Zezão ocuparão todo o Hall Cívico e Mezanino do Museu com instalações interativas, telas e fotografias, além de vídeos que mostram suas trajetórias no cenário da arte urbana contemporânea.
De Dentro para Fora/De Fora para Dentro tem curadoria de Mariana Martins, Baixo Ribeiro e Eduardo Saretta e a ambiciosa meta de alcançar 150 mil visitantes entre 20 de novembro e 5 de fevereiro de 2010.
Cada um dos seis artistas traz suas contribuições que, no conjunto, totalizam mais de 100 trabalhos de diversos formatos e mídias, buscando interação entre si e com o espectador, que poderá entrar e passear pelas instalações. Grandes paredes falsas e até mesmo o piso serão usados como base para dar a vida aos murais, instalações, telas e fotografias - a maioria produzidas no próprio MASP nas três semanas que antecedem a abertura ao público, resultando numa mostra exclusiva a partir deste diálogo com o espaço do Museu. De Dentro para Fora/De Fora para Dentro traz também os seis vídeos que narram a trajetória de cada artista, desde seus trabalhos pelas avenidas de São Paulo e do Brasil, passando por obras nas ruas e prédios de cidades da Europa, dos Estados Unidos e do Japão, até a absorção do gênero por grandes galerias de arte nas principais capitais culturais do planeta.
Serviço Educativo
Assim como nas mostras compostas por obras do acervo e nas exposições temporárias realizadas pelo MASP, a exposição terá um programa educativo elaborado especialmente para atender públicos distintos: visitantes, professores e alunos de escolas das redes pública e privada. As visitas orientadas são realizadas por uma equipe de profissionais especializada.
Mais informações sobre as atividades do Educativo pelo telefone 3251-5644 (ramal 2112).
Sobre os artistas
Carlos Dias http://choquecultural.com.br/blogs/carlosdias/
Carlos Dias também assina ASA (Ao Seu Alcance), que sintetiza sua principal motivação criativa: o desejo de fazer uma arte ao mesmo tempo profunda e expressiva, que qualquer pessoa possa sentir e não necessariamente entender. O artista nasceu em Porto Alegre, em 1974, e morou muitos anos em São Paulo, onde participou ativamente de manifestações culturais juvenis nos anos oitenta e noventa: skate, punk, hardcore, graffiti, street art etc. Carlos construiu um mundo psicodélico, pop e expressionista, povoado por personagens surreais em cenários caóticos, que o levou a participar de diversas exposições, incluindo a última coletiva em Los Angeles, chamada São Paulo. Carlos é um artista multimídia, que pesquisa suportes incomuns e o desenvolvimento das ferramentas para lidar com eles. Sua principal linguagem é a pintura em proposta estética suja, contemporânea, pop, energética e barulhenta, que impacta pelos sentidos e não pelo intelecto. No seu trabalho a instalação também é destaque. Sua gráfica é marcante e fortemente ligada à pintura gestual. Rabiscos, escorridos, manchas são elementos recorrentes nas suas pinturas, onde vez ou outra surge uma frase ou palavra escrita numa tipografia própria. A cor também é elemento essencial e surge associada à exploração de materiais inusitados, como o flúor, a purpurina ou a tinta metalizada. Os suportes podem variar muito, das telas aos paineis de madeira, passando por qualquer objeto encontrado e que possa ser pintado. É uma expressividade barulhenta, que dialoga abertamente com a música do Againe, Polara, Caxabaxa e outras bandas formadas pelo artista ao logo das últimas décadas. Carlos é músico, compositor, performer e autor de alguns sucessos gravados por bandas pop, como CPM 22 ou Cansei de Ser Sexy.
Daniel Melim http://choquecultural.com.br/blogs/danielmelim/
Daniel Melim nasceu em São Bernardo do Campo, São Paulo, em 1979. Pós graduou-se em Artes Visuais mas foi nas ruas do seu bairro que aprendeu a pintar, fazendo graffiti e intervenções urbanas, quase sempre associadas ao estêncil, técnica de pintura sobre máscaras com imagens vazadas.Trata-se de um pintor formalista, preocupado com a composição, com a distribuição das massas de cores, com a riqueza de texturas e com a impressão do processo em cada trabalho. O imaginário pesquisado por Melim remete ao conforto de figuras retiradas de compêndios de clichês de publicidade antiga e simbolizam o mundo ingenuamente feliz, projetado pela propaganda. O artista transforma os clichês em estêncil e o aplica, às vezes com ironia, às vezes desprezando a qualidade simbólica da imagem, ficando apenas com a textura proporcionada pelas manchas de tinta, muros mal acabados e construções pobres. No caso das intervenções urbanas, as texturas já estão prontas para serem usadas. Pátinas, rabiscos, pinturas descascadas, tudo vai sendo apropriado pelo artista e transformado em composições. A intervenção salta do mural para a instalação, numa ocupação sofisticada do espaço e dos signos urbanos. Daniel Melim teve sua primeira exposição individual na galeria Choque Cultural em 2006 e de lá passou pelo Museu Afro Brasil, representou o Brasil na Bienal de Valência, participou da coletiva The Cans Festival, promovida pelo artista britânico Banksy, em Londres, além da última SP-Arte. Melim desenvolve o Projeto Limpão, um sitio especifico em proporção gigantesca, em São Bernardo do Campo. Trata-se da ocupação de todo um morro, com pinturas nas fachadas das casas, nos corredores e praças do lugar. As casas do bairro são construídas pelos próprios moradores, num típico exemplo da arquitetura urbana paulista, sem pertencer a um projeto urbanístico coerente. Esse trabalho de fôlego não tem data pra acabar: ele vai sendo construído aos poucos, em parceria com "o pessoal da capoeira", nos fins de semana, com a anuência e admiração da comunidade.
Ramon Martins http://choquecultural.com.br/blogs/ramonmartins/
Nasceu em São Paulo, 1980. Bacharel em Artes Plásticas pela Escola Guignard de Minas Gerais, Ramon funde a experimentação do estúdio com a energia da rua. Faz graffiti, performance, instalações, esculturas, sitio especifico e pintura em telas. É nesse ofício, a pintura, que sintetiza seu estilo fluido, cheio de misturas técnicas surpreendentes. Ramon Martins explora a técnica do estêncil, herdada do graffiti, passeia pela tinta acrílica, aquarela e têmpera, com grande repertório pictórico. Sua obra revela sensualidade, um acento pop-psicodélico, com influência de arte africana e indiana. Recentemente, Ramon Martins participou do projeto R.U.A - Reflexo on Urban Art - Lines, Colours and Forms of Brazilian Urban Art, em Rotterdam, ao lado de artistas brasileiros como Onio, Speto e Onesto, onde pintaram grandes murais nas ruas da cidade.
Stephan Doitschinoff http://www.choquecultural.com.br/?area=bio&aid=11.
Stephan Doitschinoff, conhecido como Calma, nasceu em São Paulo, em 1977. É um artista autodidata e sua formação foi muito influenciada pela convivência com os mais diversos tipos de crenças e rituais religiosos. Além de filho de pastor evangélico, neto e bisneto de espíritas, Stephan conviveu no bairro em que passou sua infância e juventude tanto com um com um centro Hare Chrishna como com um terreiro de umbanda. Já adolescente, Stephan envolveu-se com a cultura pop, do skate aos movimentos punk e hardcore de São Paulo. Elaborava capas de discos de bandas e trabalhava como assistente do cenógrafo Zé Carratú, pintando cenários de grandes shows de rock dos anos 1990. Por meio de desenhos, pinturas, murais, esculturas e instalações, Stephan cria um universo de onde emergem inúmeras questões simbólicas e existenciais, como decadência, redenção, culpa, paz, salvação e transcendência. Tudo se conecta numa composição que leva à reflexão sobre o que é considerado arte e o que é considerado sagrado. A partir de 2002, Stephan passa a interagir e intervir na cidade por meio da pintura e da aplicação de pôsteres, adesivos e estênceis. Seu estilo se destaca na cena da nova arte urbana, gerando convites para participar de exposições em diferentes cidades do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa e uma residência artística na Inglaterra. Em 2005, parte para o desenvolvimento de seu mais audacioso projeto artístico: o de pintar uma cidade inteira. Compondo com as histórias, as crenças e a realidade local da cidade de Lençóis (BA) e dos povoados dos arredores, Stephan realizou intervenções na região, onde morou de 2005 a 2008. As fachadas dos casebres, a igreja e até mesmo o cemitério formaram um conjunto pictórico de dimensões grandiosas. Essa grande instalação urbana, que envolveu toda a população da cidade, é um trabalho de fôlego que desenvolve importantes questões sobre as dimensões político-sociais da arte pública. Esse trabalho foi documentado no filme Temporal, produzido pela Movie Art, e em sua monografia Calma. The Art of Stephan Doitschinof, publicada pela editora alemã Gestalten.
Titi Freak http://choquecultural.com.br/blogs/titifreak/
Hamilton Yokota aka Titi Freak nasceu em 1974. É paulista de ascendência nipônica e mistura o espírito espontâneo dos brasileiros à estética disciplinada dos japoneses. Yokota chegou aos estúdios de Maurício de Souza, produtor brasileiro de inúmeros best sellers dos quadrinhos, ainda adolescente. Desde então o senso de estilo, a habilidade como ilustrador e o profissionalismo adquiridos o mantiveram em atividade, trabalhando como designer gráfico e ilustrador. Titi Freak conheceu o graffiti em 1995. Nas ruas de São Paulo, pôde integrar a excelência técnica do seu desenho ao espírito de improvisação que a cidade impõe. A troca foi justa: Titi soltou o traço enquanto o graffiti paulistano ficou mais sofisticado. Titi Freak é um artista que se deixa influenciar pelo imaginário da moda, dos quadrinhos e mangás, da low brow art e da cultura japonesa em geral, mas também presta atenção em Matisse, Picasso e Portinari, alguns de seus ídolos na pintura. Essa mistura de referências, bem contemporânea e pop, confere a sua obra carisma e empatia com o público de várias idades e procedências, ao mesmo tempo em que explora os vários suportes tão díspares quanto os gigantescos murais públicos e os pequenos desenhos em miniatura. Na verdade, o artista aproveita muito bem as diferenças de linguagem, escala e tratamento que imprime às suas obras, na intenção de envolver a audiência e provocar fortes emoções. Depois de três meses no Japão, Titi voltou ao Brasil para a exposição AmorInsistente, na galeria Acervo da Choque. Antes disso, lançou o livre FREAK, pela editora ZY, em que apresenta imagens de sua trajetória artística.
Zezão http://choquecultural.com.br/blogs/zezao/
Zezão é um artista intuitivo e autodidata, tem um trabalho artístico profundo e complexo, com implicações estético-político-sociais. Faz uma arte popular e carismática, vinda da simplicidade com que relaciona o estético e o humano, com força e vibração, manipulando e misturando suportes como instalação, sitio especifico, fotografia, vídeo, performance e pintura. Zezão nasceu em São Paulo, em 1971, de ascendência portuguesa. A adolescência vivida no ambiente do skate, punk e pichação foi marcada pelo trabalho duro. Foi trabalhador rural em Portugal, motorista de caminhão e motoboy em São Paulo. A paisagem urbana, de onde Zezão extrai sua estética, é a de uma São Paulo grande, desleixada com seu espaço público, com seus rios e com o seu lixo. Zezão vai fundo na exploração dessas mazelas e extrai preciosidades simbólicas. Entra na cena, escolhe a locação, se relaciona com o morador da rua. Ele sabe que sua performance precisa agradar aos que ali habitam, pois sua arte é feita para elas, num primeiro momento. Zezão começou a pintar num momento de depressão pessoal e profissional. Saiu das ruas e se enfiou no subsolo dos canais de água pluvial. Foi para um lugar povoado por ratos e baratas e, ali, descobriu os cenários que se tornariam sua marca registrada. Em sua trajetória, Zezão participou de exposições individuais e coletivas, como a Zezão Fotógrafo, na galeria Choque Cultural, São Paulo, na Scion Gallery, em Los Angeles, e Une Estivalle, na LJ Gllery, em Paris, e residiu e participou do evento mundial de graffiti Namefest, em Praga.
Com esta exposição que reúne mais de cem obras produzidas sob influência do realismo francês, o MASP será sede da significativa exposição de arte do calendário de comemorações do “Ano da França no Brasil”.
Com patrocínio do Carrefour Soluções Financeiras, a mostra Arte na França 1860-1960: O Realismo traz mais de cem obras-primas vindas da Coleção Berardo (Lisboa), de museus franceses, como Musée D’Orsay, Centre Pompidou, Musée de L’Orangerie, Fonds National D’Art Contemporain, Musée D’Art Moderne de la Ville de Paris, e de outras coleções como Museu Nacional de Belas Artes do Rio e Museu Lasar Segall, além de 50 obras do próprio acervo do MASP. A exposição faz um percurso por um século de arte produzida na França e levanta as questões das diversas e contraditórias manifestações do Realismo.
A exposição cobre o período em que o realismo se afirma na arte francesa, e passa a influenciar o panorama cultural internacional, até o momento em que a arte feita nos EUA ascendeu ao primeiro posto. E traz obras de artistas franceses e estrangeiros que produziram na França ou que por lá passaram, como Picasso, Dali, Vieira da Silva e Miró. Estão incluídos trabalhos dos diversos movimentos e escolas, abordadas sob a perspectiva do Realismo - seus pontos de partida, suas versões e propostas.
Nestes cem anos é possível perceber traços sucessivos de percepção do real: o tema desta exposição é a história desta interpretação, desta desfiguração e reconfiguração. No conjunto estarão inseridas obras de Courbet, Miró, Dalí, Douanier Rousseau, Monet, Picasso, Manet, Van Gogh, Degas, Renoir e Cézanne, entre outros, além de outras obras de brasileiros produzidas na França, como as de Cândido Portinari, Almeida Junior, Iberê Camargo, Lasar Segall e Guignard.
A curadoria é do francês Eric Corne, curador independente que já trabalhou para importantes museus do mundo, como o Instituto Valenciano de Arte Moderna e Museu Berardo, entre outros. Serão abordadas estilos compreendidos nos cem anos cobertos pela exposição e que se encerram com as manifestações da nova figuração narrativa no começo da segunda metade do século XX - passando pelo impressionismo, naturalismo, expressionismo, cubismo, surrealismo, dadaísmo e neo-realismo.
As telas que compõem a Série Bíblica, produzidos entre 1942 e 1944, revelam forte influência do Guernica de Picasso. Esta mostra reúne a série completa, composta de oito obras, ao lado das quais estão as três obras da Série Retirantes que o museu possui. As séries serão mostradas em sala especialmente desenhada para esta exposição, que permite extrair todo o potencial formal e humano das obras. O conjunto abrange o período em que a denúncia social marcou a pintura de Cândido Portinari, que reflete a precariedade da situação social brasileira a reboque das calamidades da guerra, que sensibilizaram tantos pintores europeus. Na passagem da série Bíblica para a Série Retirantes, é possível perceber o momento em que Portinari se liberta da influência de Picasso. Complementar a mostra, o Museu apresenta ainda um apanhado de publicaçães de 1940 a 1970, contando um recorte da história de Cândido Portinari por meio de desenhos feitos por ele, catálogos de suas exposiçães, fotografias e cartazes. A vitrine da biblioteca exibe também uma carta original do pintor ao fundador do MASP, Pietro Maria Bardi, datada de 1948, falando sobre os preparativos de sua primeira exposição no Museu, quando ainda estava instalado em sua primeira sede. Depois da mostra de Portinari o MASP segue com uma extensa e rica programação, que inclui Vik Muniz, Manuel Villarino, Yang Shaobin, Vera Chaves Barcelos e Rodin, além da exposição Arte na França 1860-1960: O Realismo e de nova edição da série Pirelli de fotografias. Apresentação pelo curador, Teixeira Coelho s obras aqui expostas põem em evidência os motivos pelos quais Portinari foi considerado um dos pintores brasileiros por excelência da primeira metade do século XX. A série Bíblica foi executada entre 1942 e 1944 para a sede da Rádio Tupi de São Paulo a pedido de Assis Chateaubriand. São oito telas de grandes dimensões que ilustram passagens do Velho e do Novo Testamento. A marca de Guernica feita por Picasso em 1937 em reação à destruição daquela cidade basca pela aviação alemã com a cumplicidade da própria ditadura espanhola da época, encabeçada por Franco é evidente e nunca foi negada por Portinari. Ele de fato quis pintar como Picasso naquela tela, por ele vista em Nova York por ocasião de sua estada em Washington com a finalidade de fazer os painéis para a Biblioteca do Congresso. Guernica, hoje no Reina Sofia de Madrid, causou forte impacto sobre Portinari que, nesta série, não se limita no entanto a copiar o mestre: Portinari interiorizou o estilo do colega espanhol e gerou obras com caráter e força próprios. A série seguinte, Retirantes, se fez entre 1944 e 1945. Das cinco iniciais, o MASP tem estas três que deixam de lado o estilo da série anterior em busca de uma outra linguagem, mais próxima da adotada pelos muralistas expressionistas mexicanos Orozco e Siqueiros. Mas a chave, aqui, é própria de Portinari. Mostradas em conjunto, estas onze peças são um exemplo singular da arte pública engajada que, a época, se identificava com a vanguarda política e estética.
José Pancetti, Autorretrato com marreta, 1941
Candido Portinari, Retirantes, 1944
Candido Portinari, Retirantes, 1944
Candido Portinari, Criança morta, 1944
Candido Portinari, Retrato de Ináh Prudente de Moraes, 1936
Candido Portinari, Retirantes, 1944
Candido Portinari, Criança morta, 1944
Francis Bacon, Figura sentada, 1961
Para a edição do dia 31 de outubro, será proposta uma conversa sobre duas pinturas de Candido Portinari, Criança morta e Retirantes, ambas de 1944.
Ponto de encontro: na entrada do Acervo em Transformação, 2º piso, às 16 horas.
Retire seu ingresso no site para garantir a entrada no Museu.
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Créditos da imagem
Foto: Eduardo Ortega